08 Janeiro 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Marcos 1,7-11, que corresponde ao Batismo de Jesus, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Não são poucos os cristãos praticantes que entendem a sua fé apenas como uma «obrigação». Há um conjunto de crenças que se «devem» aceitar, mesmo que não conheçamos o seu conteúdo ou se saiba o interesse que podem ter para a vida; há também um código de leis que se «deve» observar, mesmo que não se compreenda bem tanta exigência de Deus; finalmente, há umas práticas religiosas que se «devem» cumprir, mesmo que de forma rotineira.
Esta forma de compreender e viver a fé gera uma espécie de cristão aborrecido, sem desejo de Deus e sem criatividade ou paixão alguma para espalhar a sua fé. Basta com «cumprir». Esta religião não tem atrativo algum; converte-se num peso difícil de suportar; a não poucos produz alergia. Não estava errada Simone Weil quando escreveu que «onde falta o desejo de encontrar-se com Deus, não há crentes, mas sim pobres caricaturas de pessoas que se dirigem a Deus por medo ou interesse».
Nas primeiras comunidades cristãs, viviam-se as coisas de forma diferente. A fé cristã não era entendida como um «sistema religioso». Chamavam-lhe «caminho» e propunham-no como a forma mais acertada de viver com sentido e esperança. Diz-se que é um «caminho novo e vivo» que «foi inaugurado por Jesus para nós», um caminho que se percorre «com os olhos fixos Nele» (Hebreus 10,20; 12,2).
É de grande importância tomar consciência de que a fé é uma caminhada e não um sistema religioso. E num percurso há de tudo: marcha alegre e momentos de busca, provas que devem ser superadas e retrocessos, decisões incontornáveis, dúvidas e interrogações. Tudo faz parte do caminho: também as dúvidas, que podem ser mais estimulantes do que não poucas certezas e seguranças detidas de forma rotineira e simplista.
Cada um tem de fazer o seu próprio caminho. Cada um é responsável da «aventura» da sua vida. Cada um tem o seu próprio ritmo. Não há que forçar nada. No caminho cristão há etapas: as pessoas podem viver momentos e situações diferentes. O importante é «caminhar», não parar, escutar a chamada que a todos é feita, de viver de uma forma mais digna e feliz. Este pode ser o melhor modo de «preparar o caminho do Senhor».
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O caminho aberto por Jesus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU