02 Novembro 2018
Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos se aproximaram, e Jesus começou a ensiná-los:
«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Felizes os aflitos, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque possuirão a terra. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu. Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês».
Leitura do Evangelho de Mateus 5, 1-12b (Correspondente a Solenidade de Todos os Santos, ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana María Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Celebra-se hoje a Solenidade de Todos os Santos e Santas. Lembra-se, com espírito agradecido, tantas pessoas que ao longo da história contribuíram para o crescimento da vida, da dignidade humana, da justiça. Pessoas, homens e mulheres, que dedicaram sua vida para semear sua semente de mostarda e contribuir na construção de uma humanidade mais justa e mais fraterna. Seu testemunho nos encoraja e anima a transitar por caminhos novos e até desconhecidos.
Antes de adentrar-nos na leitura e meditação do evangelho, pensemos: o que significa a santidade para cada um e cada uma de nós?
Quando penso numa pessoa santa, qual é a figura que aparece na minha imaginação? Suponho um rosto triste, opaco, que vive quase isolado num mundo próprio, que lentamente apaga seu sorriso e sua alegria das pequenas coisas que acontecem no viver diário?
Ou imagino uma pessoa ou uma comunidade com uma alegria contagiante, criativa, entusiasta? Pessoas que não têm medo da vida e da novidade que ela traz, que encaram os problemas e dificuldades que podem aparecer, comunicando-se continuamente com os que estão ao seu redor?
Qual é a minha imagem da santidade? Posso reconhecer as sementes de santidade que Deus plantou na minha vida?
No texto do Evangelho de Mateus, lemos que Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se.
Na sua subida, Jesus é seguido por uma multidão. Quem são essas pessoas que o procuram ou desejam segui-lo?
Nos versículos anteriores, Mateus disse que “doentes atingidos por diversos males e tormentos: endemoninhados, epilépticos e paralíticos, numerosas multidões da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e do outro lado do rio Jordão começaram a seguir Jesus” (Mt 4, 24-25). Não são pessoas
importantes nem poderosas, são os marginalizados e até desconsiderados pela sociedade.
É a procissão dos que sofrem, que procuram ser curados do mal e da doença que os atingem. Eles vão à procura de Jesus desde diferentes lugares: da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia... Para eles não há fronteiras e há um denominador comum que é a busca da liberdade, da saúde, de uma vida plena.
Sem se conhecerem se gera um vínculo profundo que constrói uma nova fraternidade. Entrelaçados por uma mesma realidade, em busca de trabalho, vida, justiça, paz, liberdade... Este é o grupo dos que seguem Jesus!
Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se.
Jesus tem uma meta no seu caminho, mas destaca-se seu olhar sobre este grupo de pessoas que o seguem.
Para situar-nos no cenário descrito no evangelho, é preciso lembrar que a Montanha é um lugar de revelação de Deus para o povo. Assim como Moisés sobe a Montanha e recebe os Dez Mandamentos (Ex 20,1-17) que “proclamam os deveres da humanidade em relação aos direitos de Deus”, Jesus comunica as Bem-aventuranças que são o sentir de Deus Pai para os que serão chamados Filhos de Deus.
As bem-aventuranças manifestam os direitos da humanidade em relação aos deveres de Deus: receber o consolo, possuir a terra, ser saciados, achar misericórdia, ver a Deus!
Jesus senta-se para falar e assume, assim, a atitude dos rabinos quando ensinam. Diferente do que tinha acontecido na subida de Moisés no Sinai, que devia “traçar um limite ao redor da montanha e dizer ao povo que não suba à montanha, nem se aproxime da encosta; quem tocar na montanha deverá ser morto” (Ex 19, 12), neste momento os discípulos ficam perto de Jesus. Não é o mundo do medo, da distância ou até da morte. Pelo contrário, os discípulos se aproximam dele para escutar suas palavras, e Jesus começa a ensiná-los.
Como disse o Papa Francisco referindo-se as Bem-aventuranças: "Esta é a nova lei, esta que nós chamamos as bem-aventuranças”. É a nova lei do Senhor para nós. “São o mapa, o itinerário, são os navegadores da vida cristã. Justamente aqui vemos, neste caminho, segundo as indicações deste navegador, que podemos seguir adiante em nossa vida cristã”. Texto completo: Francisco: “As Bem-Aventuranças são o ‘GPS’ da vida cristã”
Os discípulos e discípulas que estão junto de Jesus recebem o direito ao Reino de Deus, a serem consolados, à misericórdia. Nas bem-aventuranças manifesta-se o coração de Deus Pai, seu Amor.
A bem-aventurança pertence a um gênero literário conhecido no Antigo Testamento. Aparece no mundo grego para comunicar o estado de felicidade dos deuses que estão acima das penas e fadigas. No decorrer do tempo evolui, mas sempre ressalta o motivo da felicidade de uma pessoa.
As bem-aventuranças propõem um valor que toda pessoa deseja e até procura! Mas Jesus proclama felizes as pessoas que a sociedade considera desgraçadas, desfavorecidas, desventuradas!
Pensemos, como seria a reação de cada uma dessas pessoas que escuta as palavras de Jesus? Que entende cada um e cada uma delas?
Nas palavras de Jesus percebe-se a natureza da mensagem do Reino. A felicidade é um direito de toda pessoa humana, mas para muitas pessoas é uma busca contínua, uma procura que traz riscos, perigos e até sofrimento.
Jesus anuncia bem-aventurados e felizes os que a sociedade considera desgraçados e infelizes! O teólogo e biblista Gianfranco Ravasi, no livro Beati i poveri in spirito, perché di essi è il regno dei cieli (Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus), evidencia o caráter paradoxal das Bem-aventuranças: "A felicidade é declarada lá onde se manifesta a infelicidade". Texto completo: Bem-aventurados os últimos? Um diálogo sobre a libertação dos pobres
Neste texto Jesus nos anuncia o caminho que leva à felicidade e à santidade. É um caminho que convida a viver com esperança, sem desistir, sem ficar na impotência. As pessoas que se reconhecem pobres diante de Deus são as que sabem que precisam da ajuda dos demais. Assim como os aflitos, os mansos, os necessitados são os que conhecem a dor e o sofrimento e isso gera neles a possibilidade de acolher e entender a riqueza da mensagem da Boa Nova do Reino que Jesus anuncia.
Eles constituem o novo povo de Deus e recebem de Jesus o ânimo para continuar na sua luta pela vida e dignidade. Jesus não nega as dificuldades que aparecem no caminho, mas oferece o consolo de uma esperança que só é compreendida por aqueles e aquelas que na sua pobreza acolhem sua Vida.
Falando na celebração de Todos os Santos, Francisco disse que “As Bem-aventuranças de Jesus, que também mencionam as bênçãos aos que são mansos e que têm fome de justiça, são o caminho [dos santos] rumo ao seu destino, rumo à pátria”. E continua dizendo: “Somos chamados a ser bem-aventurados, seguidores de Jesus, enfrentando os sofrimentos e angústias do nosso tempo com o espírito e o amor de Jesus”, continuou, acrescentando: “Neste sentido, poderíamos assinalar novas situações para as vivermos com espírito renovado e sempre atual”. Texto completo: Da Suécia, Francisco propõe seis novas Bem-aventuranças para a era moderna.
Neste dia somos convidados e convidadas a acolher e fazer crescer pela perseverança o reino de Deus no mundo: este é o caminho a percorrer na rota da santidade!
A festa de Todos os Santos apresenta-nos a variedade de expressões que há para viver a santidade, mas todas elas têm um traço comum que é o mandamento do amor por cima de tudo. Somos convidados a gerar confiança ao nosso redor, a viver com um coração limpo e entregue aos demais, procurando o bem de cada pessoa apesar dos sofrimentos que isso possa trazer.
Nesta semana, abramos nosso coração para reconhecer as sementes de santidade que estão ao nosso redor, nas nossas comunidades. Pessoas silenciosas, que não são conhecidas, mas que na sua vida semeiam continuamente o bem, a vida, a alegria.
Neste momento de oração meditemos as seis novas bem-aventuranças que propôs Francisco para a era moderna:
• Felizes os que suportam com fé os males que outros lhes infligem e perdoam de coração;
• Felizes os que olham nos olhos os descartados e marginalizados fazendo-se próximo deles;
• Felizes os que reconhecem Deus em cada pessoa e lutam para que também outros o descubram;
• Felizes os que protegem e cuidam da casa comum;
• Felizes os que renunciam ao seu próprio bem-estar em benefício dos outros;
• Felizes os que rezam e trabalham pela plena comunhão dos cristãos
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O caminho da felicidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU