01 Junho 2018
Num dia de sábado, Jesus estava passando por uns campos de trigo. Os discípulos iam abrindo caminho e arrancando as espigas. Então os fariseus perguntaram a Jesus: “Vê: por que os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?”
Jesus perguntou aos fariseus: “Vocês nunca leram o que Davi e seus companheiros fizeram quando estavam passando necessidade e sentindo fome? Davi entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu dos pães oferecidos a Deus e os deu também para os seus companheiros. No entanto só os sacerdotes podem comer desses pães.” E Jesus acrescentou: “O sábado foi feito para servir ao homem, e não o homem para servir ao sábado”. Portanto, o Filho do Homem é senhor até mesmo do sábado.”
Jesus entrou de novo na sinagoga, onde estava um homem com a mão seca. Havia aí algumas pessoas espiando, para verem se Jesus ia curá-lo em dia de sábado, e assim poderem acusá-lo.
Jesus disse ao homem da mão seca: “Levante-se e fique no meio.” Depois perguntou aos outros: “O que é que a Lei permite no sábado: fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matá-la?” Mas eles não disseram nada. Jesus então olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eles eram duros de coração. Depois disse ao homem: “Estenda a mão.” O homem estendeu a mão e ela ficou boa.
Logo depois, os fariseus saíram da sinagoga e, junto com alguns do partido de Herodes, faziam um plano para matar Jesus.
Leitura do Evangelho de Marcos 2,23-3,6 (Correspondente ao 9° Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Hoje se celebra o 9° domingo do Tempo Comum. Lemos um texto do Evangelho de Marcos que se situa num dia de sábado em que Jesus atravessava uns campos de trigo.
Os fatos acontecem num sábado, dia sagrado para o povo judeu. É preciso rememorar os inícios da instituição do sábado. No livro do Êxodo (Ex 20,8-11) apresenta-se desde uma importante motivação teológica. Nesse dia o ser humano participa no descanso de Deus Criador. O livro do Deuteronômio dá um fundamento social. Nesse dia, todos os judeus descansam sem diferenciais sociais. É um sinal da Aliança de Deus com seu povo e no decorrer dos anos transforma-se num dos preceitos mais importantes.
Na Babilônia os judeus eram um povo escravo que trabalhava o dia todo sob o mando do império que o tinha deportado. É preciso lembrar que na situação que se encontravam, ou seja, nesse momento ter conseguido um dia inteiro de descanso, era sem dúvida uma conquista libertadora. Para os judeus era assim como o prescrevia sua Lei e eles a obedeciam e adoravam.
Imaginemos um pequeno povo estrangeiro que precisava acrescentar normas que os fortaleçam e gerem coesão entre eles. E assim acontecia com esta lei que lhes garantia identidade e acrescentava a esperança de voltar a sua terra.
Mas no decorrer dos anos foi transformando-se num motivo de exclusão, numa exigência muito rígida que esquecia seu sentido principal.
O texto que a Liturgia oferece hoje acontece num sábado. Jesus atravessa uns campos de trigo junto com seus discípulos e eles “iam abrindo caminho e arrancando as espigas”.
Há alguns fariseus ao redor deles olhando o que Jesus e seus discípulos faziam. No fato de arrancar espigas, os fariseus encontram um motivo para questionar Jesus: “Vê: por que os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido em dia de sábado?”
Jesus não tem problema em quebrar as normas que escravizam. Normas que já não libertam mais as pessoas, pelo contrário, são excluídos especialmente os mais pobres.
José Antonio Pagola oferece-nos sua reflexão: "Os Evangelhos destacam de maneira especial a dedicação de Jesus para curar a vida enferma das pessoas erradicando ou aliviando seu sofrimento. Nada nem ninguém pode deter sua liberdade para agir com misericórdia, nem sequer a lei sagrada do descanso sabático. 'O preceito do sábado foi instituído para o ser humano e não o ser humano para o sábado' (Mc 2, 27)”. (Texto disponível em: Francisco, assim como Jesus, rompe o círculo diabólico da discriminação. Artigo de José Pagola)
Durante sua vida, Jesus procura mostrar que o mais importante é a vida dos homens. Isso é o desejo que palpita no coração do seu Pai que é “Pai nosso”. Seu amor excede as normas que somente geram escravidão e discriminação.
Imaginemos a cena: Jesus e os discípulos iam abrindo caminho nos campos de trigo que atravessavam, e arrancam espigas porque possivelmente têm fome! Os fariseus observam isso e ficam espantados. Os discípulos de Jesus, ou seja, os que são ensinados por Jesus, estão fazendo aquilo que a Lei judaica proíbe fazer no dia de sábado, que era arrancar espigas e debulhá-las. Como é possível que eles não respeitem esta norma religiosa fundamental?
Jesus responde com uma pergunta. Questiona-os sobre uma atitude de Davi e seus companheiros “quando eles estavam passando necessidade e fome”. Davi não duvidou em tomar os pães reservados aos sacerdotes e comer junto com seus companheiros.
O pão que Davi come junto com seus companheiros passa a ser um pão partilhado. Saciar a fome de um grupo de pessoas está acima de ser um pão reservado para os sacerdotes! De um pão reservado e quase individual passa a ser um pão partilhado que alimenta o povo faminto e necessitado. A vida está acima da Lei do sábado!
E assim acrescenta: “O sábado foi feito para servir ao homem, e não o homem para servir ao sábado”.
A liberdade e a vida do ser humano estão acima de tudo aquilo que procura escravizá-lo. Toda norma foi estabelecida para ser vivida desde a liberdade! A função da Lei é estar a serviço das pessoas e não o seu cumprimento.
Na narrativa seguinte Jesus cura o homem da mão paralisada, dentro da sinagoga, apresentando assim que sua lei é a vida da pessoa. Jesus podia não ter pressa. O homem que carregava sua limitação podia esperar um dia mais!
Mas Jesus não tinha dúvida: a vida da pessoa está acima da lei. Jesus mesmo o chama para que passe no meio. “Levante-se e fique no meio.”
E pergunta possivelmente aos que o estavam espiando: “O que é que a Lei permite no sábado: fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou matá-la?” Mas não recebe resposta.
“Jesus então olhou ao seu redor, cheio de ira e tristeza, porque eles eram duros de coração”.
O homem fica curado, mas os fariseus saindo da sinagoga fazem planos para matar Jesus!!!
Hoje somos convidadas e convidados a ter um coração semelhante ao coração de Jesus. Ter sua compaixão pela vida e a liberdade do ser humano acima de tudo.
Peçamos ao Senhor que saibamos encontrar os pães sagrados naqueles que estão ao nosso lado, passando necessidade. Que a liberdade das pessoas que estão ao nosso redor e sofrem diferentes escravidões seja um chamado que ecoe no nosso interior com a urgência que tem!
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Jesus escolhe sempre a vida e a liberdade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU