17 Fevereiro 2017
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Mateus 5, 38-48, que corresponde ao Sétimo Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
A chamada ao amor é sempre atrativa. Seguramente, muitos acolhiam com agrado a chamada de Jesus a amar a Deus e ao próximo. Era a melhor síntese da Lei. Mas o que não podiam imaginar é que um dia lhes falará de amar os inimigos.
No entanto, Jesus o fez. Sem a proteção da tradição bíblica, distanciando-se dos salmos da vingança que alimentavam a oração do seu povo, enfrentando-se ao espírito geral que se respirava à sua volta, de ódio para com os inimigos, proclamou com claridade absoluta sua chamada: «Eu, pelo contrário, vos digo: amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem».
Sua linguagem é escandalosa e surpreendente, mas totalmente coerente com sua experiência de Deus. O Pai não é violento: ama inclusive seus inimigos, não procura a destruição de ninguém. Sua grandeza não consiste em vingar-se, mas sim em amar incondicionalmente a todos. Quem se sinta filho de Deus não deve introduzir no mundo ódio nem destruição de ninguém.
O amor ao inimigo não é um ensinamento secundário de Jesus dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição heroica. A sua chamada quer introduzir na história uma atitude nova ante o inimigo, porque quer eliminar do mundo o ódio e a violência destruidora. Quem se pareça a Deus não alimentará o ódio contra ninguém, procurará o bem de todos, inclusive o dos Seus inimigos.
Quando Jesus fala do amor ao inimigo não está a pedir que alimentemos em nós sentimentos de afeto, simpatia ou carinho para quem nos faça mal. O inimigo continua sendo alguém de quem podemos esperar dano, e dificilmente podem mudar os sentimentos do nosso coração.
Amar o inimigo significa, antes de tudo, não lhe fazer mal, não procurar nem desejar fazer-lhe mal. Não temos de estranhar se não sentimos amor ou afeto para com ele. É natural que nos sintamos feridos ou humilhados. Temos de nos preocupar quando continuamos a alimentar ódio e sede de vingança.
Mas não se trata só de não lhe fazer mal. Podemos dar mais passos até estarmos inclusive dispostos a fazer-lhe bem se o encontramos necessitado. Não temos de esquecer que somos mais humanos quando perdoamos que quando nos vingamos. Podemos inclusive devolver-lhe bem por mal.
O perdão sincero ao inimigo não é fácil. Em algumas circunstâncias, à pessoa pode-se tornar praticamente impossível liberar-se em seguida da rejeição, do ódio ou da sede de vingança. Não temos de julgar ninguém a partir de fora. Só Deus nos compreende e perdoa de forma incondicional, inclusive quando não somos capazes de perdoar.
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Uma chamada escandalosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU