21 Março 2011
Encontrarás dragones [Encontrarás dragões], do diretor britânico Roland Joffé conta a vida de Josemaría Escrivá de Balaguer, fundador da Opus Dei.
A reportagem é de Gregorio Belinchón e publicada pelo El País, 20-03-2011. A tradução é do Cepat.
"Se apenas 1% dos que viram ou leram O Código da Vinci assistirem ao nosso filme, recuperaremos o investimento. Se alguem compra o ingresso porque tem curiosidade para ver um drama em que um dos personagens é o criador da instituição a que pertence o malvado monje Albino Silas, eu não vou impedir". O produtor Ignacio Gómez-Sacha cai na risada e arremata: "A polêmica não pode ser buscada, ela existe ou não existe e Encontrarás dragones não vai nessa linha, mas sim conta um drama sobre a reconciliação e o perdão. Assim é a vida de Josemaría Escrivá de Balaguer, um padre espanhol que fundou a Opus Dei, dirigida por um britânico agnóstico de esquerda, Roland Joffé, diretor do Os gritos do silêncio e A missão, financiado por dois produtores novatos: um ex-vice secretário da Bolsa de Madri e funcionário do BBVA na área de investimentos e um advogado.
"Sei que falar da Opus Dei, e ainda mais na Espanha é meter o dedo na chaga", diz o diretor. "Houve atores que ficaram encantados com o roteiro, mas que não quiseram participar do filme porque o personagem era Josemaría Escrivá", diz ele. O drama estréia nos próximos dias na Espanha com 300 cópias e em maio nos Estados Unidos.
No cinema, a Opus Dei – instituição pertencente à Igreja Católica – nunca foi bem, com exceção de uma série italiana de desenhos animados sobre a infância do seu fundador. O Código da Vinci, a novela de Dan Brown posteriormente levado ao cinema por Ron Howard, a retratava como uma organização na sombra, guardiã de segredos e com monges assassinos entre os seus membros (na Opus Dei não há monges).
O Caminho de Javier Fesser se inspirava em um caso real, o de Alexia González-Barro, a menor de uma família numerosa educada no mundo da Opus Dei, para falar da morte de uma criança de 14 anos após uma dolorosa doença. À época de sua estréia, outubro de 2008, a família Gonzáles-Barro criticou duramente o diretor que respondeu às críticas dizendo: "Sua experiência vital me abriu a curiosidade para muitos outros casos de crianças que morreram sob essa áurea de santidade. Por detrás dessa vidas estava a Opus Dei, assim como certas atitudes que não sou capaz de compreender, que tem a ver com a dor como algo redentor que conecta o sofrimento com a felicidade".
Agora, Encontrarás dragones – que custou 25 milhões de euros – conta com a aprovação de membros da Opus Dei. Antonio Hernández Deus, diretor de comunicação da instituição, acredita que o filme "dá uma imagem convicente da atitude de perdão de Josemaría Escrivá" e reproduz as palavras de Marta Manzi, do Escritório de Comunicação da Opus Dei em Roma: "A maioria dos membros que viram gostaram, outros já não, porque esperavam outra coisa. A Prelatura não participou do filme porque não participa desse tipo de projeto: as pessoas da Obra que trabalharam ou atuaram o fizeram em nome pessoal".
Tanto Gómez-Sacha como Nacho Nuñez, o outro produtor, pertence a Opus Dei. "Mas não foi nessa condição que entrei no projeto", conta Gómez-Sacha. "Eu trabalhava no banco e um dia numa conversa sobre financiamento para cinema expus que os filmes espanhóis, salvo exceções, como Os outros, Torrente ou O orfanato, tendem a esquecer do entretenimento. Quando saia, falaram-me de um projeto de Roland Joffé – meu diretor preferido – e assim lhe conheci em março de 2008. Mas ele não gosta da polarização, é um mestre em contar vidas paralelas como em Encontrarás dragones, mas o roteiro que sugeriu era ruim, ainda que contivésse a ideia principal: a mensagem de reconciliação. Eu lhe expliquei o que era um supranumerário e que entraria no projeto se tivésse a coordenação geral e ele a coordenação criativa. O problema é que eu não sabia nada de produção de cinema". Goméz-Sacha deixou o seu trabalho, realizou 500 apresentações para encontrar 100 investidores – o filme custou 25 milhões de euros – incluindo uma viagem a Chicago para buscar dinheiro três dias depois do desastre do Lehman Brothers. E o que diz Gómez-Sacha de Caminho? "Admiro muito o cinema de Fesser, mas Caminho me parece um retrato ruim de Alexia".
Silêncio e oração
Nos últimos anos, o cinema religioso tem tido um espetacular crescimento na Espanha. A onda começou com o filme O Grande Silêncio, três horas sobre a vida em um mosteiro cartuxo, que levou sua distribuidora Karma abrir uma linha de lançamento espiritual. No ano passado, A última ceia de Juan Manuel Cotelo sobre o sacerdote Pablo Domínguez teve 136 mil expectadores, graças a uma inteligente promoção pela Internet e canais de comunicação religiosas.
Outros filmes, próximos a essa linha espiritual tem sido Lourdes, Bella, Teresa de Calcuta, The way, Thérèse ou De dioses e hombres. "Nós não vamos parar por aí", diz Ignacio Gómez-Sacha, produtor de Encontrarás dragones. "A campanha é dupla: por um lado para todo o público [no cartaz do filme não cita-se nem Opus Dei nem Josemaría Escrivá] com a publicidade habitual; por outro lado, com projeções prévias a grupos e pessoas de influência social", entre os que, reconhece, muitos católicos. Nos fóruns internáuticos já se cruzam recomendações. Além disso, haverá campanhas em lugares como a cadeia hoteleira Husa ou os salões de beleza Marco Aldany. "Mas é um drama de Roland Joffé e isso está acima de qualquer outra coisa. Na distribuidora Aurum nos dizem que não teremos teto de expectadores".
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A vida do fundador da Opus Dei em filme - Instituto Humanitas Unisinos - IHU