17 Dezembro 2008
Cerca de cinco mil hectares do latifúndio formado pela Fazenda Southall, em São Gabriel, no Rio Grande do Sul, foram desapropriados para a Reforma Agrária, dando lugar, a partir de agora, à Conquista do Caiboaté. Essa área irá abrigar 270 famílias sem-terras, que passarão a produzir numa terra que antes tinha produção destinada para poucos. Trata-se de um momento para comemorar uma grande vitória, mas também para cobrar dos governos estadual e federal que as promessas sejam cumpridas, uma vez que para 2008 foi prometido o assentamento de pelo menos duas mil pessoas, quando apenas 600 têm espaço para plantar e viver. Por isso, uma marcha começou nesta semana em direção à antiga Fazenda Southall, para que fosse, portanto, realizada uma manifestação de festejo, hoje, dia 18, por esta importante vitória, e, ao mesmo tempo, demonstrar que é preciso trabalhar em prol de outros camponeses que vivem, atualmente, debaixo da lona preta. Isso é o que relata Luciana da Rosa, coordenadora do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que participa dessa marcha e nos concedeu, direto de São Gabriel, esta entrevista por telefone.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como está o clima da marcha até a Fazenda Southall?
Luciana da Rosa – Após a conquista dessa terra, localizada na fronteira oeste, nós, ontem, saímos de Santa Margarida do Sul rumo à Fazenda Southall, em São Gabriel. Amanhã, sexta-feira, (hoje dia, 18 de dezembro) chegaremos à fazenda e faremos um ato de posse da área junto às autoridades do governo. Estamos marchando porque consideramos que essa vitória política, com a conquista da terra, é fruto das nossas lutas, marchas e ocupações. É uma marcha que marca a grande vitória política sobre o latifúndio, a Farsul e o Judiciário, pois há alguns anos proíbem nossa entrada em São Gabriel, além de impedirem a vistoria dos grandes latifúndios. Seremos componentes, moradores de São Gabriel, um município composto basicamente por latifundiários e onde as empresas do agronegócio estão se apossando, plantando eucalipto e demitindo inúmeros trabalhadores em função dessa crise financeira. Estamos marchando hoje também para divulgar que o projeto da Reforma Agrária vai fazer com que os municípios e estados consigam crescer e os trabalhadores – rurais ou urbanos – possam ter comida em casa.
IHU On-Line – O que representa essa marcha para o MST aqui no RS, que vive hoje sob a represália da Brigada Militar, comandada, até há pouco, pelo Coronel Mendes?
Luciana da Rosa – Representa uma grande conquista. Nesse momento, a Brigada Militar está apenas acompanhando a marcha, ou seja, não há bloqueios, como acontecia em outros momentos. Essa é a conquista obtida através da luta do movimento. Os ruralistas não apareceram em momento algum; marchamos tranqüilamente pela BR, agora por dentro da cidade, amanhã vamos para a RS e a Brigada ainda não apareceu. Isto mostra que, de fato, o projeto do latifúndio e do agronegócio está falindo. Do complexo da Southall, apenas cinco mil hectares foram desapropriados. Cerca de oito mil hectares continuam na mão dos latifundiários. Esse é o compromisso e uma grande tarefa do movimento, pois precisamos continuar fazendo a luta para que esse complexo da Southall seja totalmente desapropriado, assim como os demais latifúndios dessa região. É bom destacar que o governo prometeu o assentamento de cerca de duas mil pessoas neste ano, mas só fez de 600. Há mais de mil famílias que se encontram debaixo da lona preta e na luta para conquistar a terra. Vamos lutar por mais vitórias.
IHU On-Line – Quais são os planos, a partir de agora, para a Fazenda do Céu?
Luciana da Rosa – Esse lugar, para nós, vai se tornar um grande assentamento, onde as famílias estarão organizadas em grupos de produção que vão trabalhar de forma cooperada e produzir alimentos de forma diversificada e vão vender essa produção para os municípios próximos e abastecer essas cidades de comida. São 247 famílias que estão sendo assentadas e vão fazer com que esses cinco mil hectares de terra produzam alimentos. Essa antiga Fazenda Southall é hoje um assentamento que se chama Conquista do Caiboaté. Aqui foi lugar de importantes lutas travadas pelos Guarani e onde muitos dos nossos antecedentes indígenas foram assassinados pela mão armada do latifúndio e do Estado. Nossa tarefa é recuperar esse espaço e fazer com que a terra produza. As famílias já estão assentadas, mas hoje elas estão marchando conosco. Nesse momento estamos passando nas comunidades de São Gabriel e sendo muito bem recebidos. Essa é a relação que queremos estabelecer: uma relação de convivência, tranqüila e de respeito com as famílias camponesas.
Nossos planos, em 2009, continuam voltados para a luta dos trabalhadores e trabalhadoras enquanto uma organização política e nossa tarefa principal é fazer a luta. Dessa luta, queremos tirar as conquistas de terra com todas as condições que necessitamos para poder trabalhar e viver bem nos nossos assentamentos. O próximo ano promete isso, as famílias organizadas e luta para conquistar mais latifúndios ainda.
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A marcha da vitória: 270 famílias assentadas na antiga Fazenda Southall. Entrevista especial com Luciana da Rosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU