05 Julho 2018
A Justiça chilena condenou, ontem, nove membros do Exército pelo homicídio do cantor e compositor Víctor Jara, assassinado no dia 15 de setembro de 1973, dias após o golpe militar propiciado pelo ditador Augusto Pinochet, que derrubou o presidente socialista Salvador Allende.
A reportagem é publicada por Página|12, 04-07-2018. A tradução é do Cepat.
O juiz Miguel Vázquez condenou oito militares a penas de 15 anos e um dia por serem os autores do assassinato de Jara e do então diretor geral de Serviço de Prisões e militante do Partido Comunista, Littré Quiroga, e a três anos como autores de sequestro de ambas vítimas. Tais militares são Hugo Sánchez, Raúl Jofré, Edwin Dimteri, Nelson Haase, Ernesto Bethke, Juan Jara, Hernán Chacón e Patricio Vásquez. Além disso, o ex-oficial Rolando Melo foi condenado a cinco anos por ter acobertado os homicídios e sequestros.
No âmbito civil, também se condenou o Estado do Chile a pagar uma indenização de 2,1 milhões de dólares aos familiares das vítimas, segundo informou o jornal chileno El Dínamo.
Víctor Jara se encontrava na Universidade Técnica do Estado, onde trabalhava como pesquisador, quando as forças armadas chilenas tomaram o poder pela força no dia 11 de setembro de 1973. Nesse mesmo dia, membros do Exército sitiaram a instituição. No dia seguinte, ocuparam a Universidade e prenderam massivamente docentes, estudantes e pessoas do administrativo, que foram transferidos ao Estádio do Chile, que funcionaria como centro de detenção. Durante o deslocamento, militares reconheceram o cantor, razão pela qual foi separado do restante dos detidos, sendo conduzido aos vestiários transformados em salas de interrogatórios e torturas, e golpeado pelos vários oficiais. No dia 16 de setembro, houve a transferência de todos os detidos do Estádio do Chile, menos a de Víctor Jara e de Littré Quiroga. Dias depois, o cadáver do cantor foi encontrado em um terreno baldio, nas imediações do Cemitério Metropolitano da capital chilena, com 44 tiros e sinais de ter recebido reiterados golpes.
Segundo a sentença, tanto Jara como Quiroga foram presos sem ordem judicial de qualquer natureza e sob nenhum procedimento. “A prisão no Estádio do Chile, que era um lugar que era ocupado para espetáculos esportivos e culturais, foi decidida pelas autoridades e Oficialidade que estava a cargo do mesmo, não tendo faculdade legal alguma para isso, sem se ter deixado registro da identidade dos detidos, data e circunstâncias de sua detenção, motivos e responsabilidades que se imputavam aos mesmos, autoridade que a ordenou e de onde provinham”, diz a sentença citada por El Dínamo.
Também se confirmou que os dois detidos tinham sido afastados do restante dos prisioneiros e que se lhes havia sido designada custódia especial. “A eles era imputado, no caso de Littré Quiroga, o suposto fato de ter sido responsável pela prisão e maltrato que o General do Exército Roberto Viaux teria sofrido, o que agravava o castigo que lhe foi dado por aqueles que passavam ao seu lado, estimulando-se inclusive os próprios recrutas a tomar parte em tal castigo”, explica o documento. “De maneira muito similar, em relação a Víctor Jara Martínez, as agressões tiveram como principal estímulo a atividade artística, cultural e política do mesmo, estreitamente vinculada ao recém-derrubado Governo, que foi submetido a idênticas torturas físicas, sendo os golpes mais severos aqueles que recebeu na região de seu rosto e em suas mãos. As duas vítimas foram objeto de chutes, golpes de punho e golpes de estoque com armas”, destaca a sentença.
A sentença aponta, por sua vez, que os 44 impactos de bala que o cantor chileno recebeu correspondiam a projéteis 9,23 milímetros, que corresponde ao armamento que era utilizado pelos Oficiais do Exército que se encontravam no lugar. Víctor Lidio Jara Martínez foi músico, cantor, compositor, professor e diretor de teatro, além de militante do Partido Comunista do Chile. Sua militância ficou registrada em sua canção e se transformou em uma peça essencial, inescapável, dela. Por isso, Víctor Jara se tornou uma referência internacional da canção de protesto e em um dos artistas mais importantes do movimento músico-social conhecido como Nova Canção Chilena.
No dia 27 de junho de 2016, um tribunal federal do estado de Orlando, Estados Unidos, havia sentenciado o ex-militar chileno Pedro Barrientos a pagar uma compensação por danos e prejuízos de 28 milhões de dólares à família do cantor. Naquele momento, Barrientos, já nacionalizado estadunidense, foi considerado culpado de tortura e assassinato extrajudicial de Jara.
Durante o regime militar de Pinochet, que se prolongou por quase 17 anos, até inícios de 1990, cerca de 3.5000 pessoas desapareceram ou foram executadas por agentes do Estado e outras 35.000 foram submetidas a torturas.
Nota de IHU On-Line: Escute o álbum completo de Victor Jara a seguir:
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Chile. Justiça para Víctor Jara, vítima da ditadura - Instituto Humanitas Unisinos - IHU