28 Novembro 2017
As imagens e as palavras podem se tornar fatos. Isso já aconteceu, pode acontecer de novo. A manifestação sábado à noite em Katowice, na Polônia, aquelas forcas, aquelas fotos – a exposição dos rostos dos “culpados” – não são simplesmente a exibição de alguns fanáticos, mas a prova daquilo que está acontecendo na Polônia.
O comentário é de Wlodek Goldkorn, publicado no jornal La Repubblica, 27-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A transformação de um país que está no coração da Europa e que faz parte da Europa. Porque o ultraje e o horror não envolvem apenas as pessoas de preto que saíram às ruas, pessoas que seriam do ONR (grupo extremo direito criado nos anos 1930, abertamente antissemita e ligado aos falangistas espanhóis), mas muito mais pessoas.
Alguns dias atrás, a televisão estatal polonesa havia transmitido um trecho do filme que celebra o herói Michal Wolodyjowski. Wolodyjowski é o protagonista do romance de Henryk Sienkiewicz: é um patriota que combate contra os turcos muçulmanos e que, por causa do caos que reina em Varsóvia – causado pela predominância dos estrangeiros –, se explode na Fortaleza de Podolia em 1672. Gritando “traidores, traidores”.
Essa imagem foi associada às dos seis deputados da Plataforma Cívica (partido da oposição), as fotos foram transmitidas enquanto ia ao ar aquele grito, transformando, assim, os eurodeputados em “inimigos da pátria”. A culpa deles foi a de terem votado em favor de uma resolução do Parlamento Europeu que bloqueava as novas normas da Justiça polonesa por serem liberticidas e contrárias à separação dos poderes.
Assim, eclodiu a campanha contra eles. Que chegou até às forcas de sábado à noite. Soube-se disso porque Jan Grabiec, o porta-voz da Plataforma Cívica, postou a foto no Twitter. Para que a Europa, depois de já ter visto a marcha xenófoba do 11 de novembro, soubesse que as imagens podem se tornar fatos. As de um filme onde alguém grita “traidores”, as das forcas levadas para a praça.
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A Polônia europeia e as forcas levadas às ruas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU