16 Mai 2017
Na manhã do dia 05 de maio, Dom Luiz Flávio Cappio partilhou algumas de suas experiências. Para isso, relembrou sua caminhada desde os tempos de estudante, no Instituto Teológico Franciscano, em Petrópolis; o episódio polêmico de sua greve de fome; e a situação atual do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.
O portal do Instituto Teológico Franciscano, 10-05-2017, destacou alguns pontos abordados e trechos de sua fala.
Foto: Revista Missões.
“Eu não fui para Barra. Eu cheguei na Barra.”
O franciscano, de voz forte e pausada, recordou que desde que era um simples frade, a serviço da diocese de Barra - BA, costumava sair para missionar. Por isso, teve oportunidade de conhecer e acompanhar de perto a realidade dos ribeirinhos e do rio que leva o nome do patrono dos animais e do meio ambiente.
De acordo com Dom Cappio: “… o povo vê a vida de uma forma profundamente religiosa… O povo lá do sertão vê a vida e a realidade sob a ótica da fé…”
“A gente só serve quem a gente ama. E a gente só ama quem a gente conhece.”
O bispo de Barra (BA) falou com objetividade e clareza sobre os anos dedicados à defesa das águas do Rio da Integração Nacional. Frei Luiz percorreu o São Francisco e detectou in loco as causas de sua deterioração. A destruição das nascentes e a poluição (os resíduos dos agrotóxicos caem no rio, bem como os dejetos químicos e os dejetos sanitários) são aspectos preocupantes.
“Quanto mais o rio vai caminhando, mais grosso se torna o caldo… Tanta é a poluição que vai caindo”.
A partir dessa constatação, foram feitas campanhas de conscientização para ajudar na sua preservação.
“Quando a razão se estingue, a loucura é o caminho.”
No primeiro protesto, ele ficou 11 dias em jejum. No segundo, foram 24 dias, interrompidos apenas em um leito de hospital, após ter perdido os sentidos. Ainda assim, o governo federal decidiu seguir adiante com o projeto de transposição e até hoje não se fala no projeto de revitalização do rio que – nas palavras de Dom Cappio – “está anêmico, e anêmico não doa sangue”.
“Essa decisão foi assumida sozinho, porque ninguém tem condições de participar de uma decisão dessas. Colocar em risco a vida de uma pessoa… o primeiro jejum durou onze dias e foi o grande grito que fez com que a causa alcançasse o conhecimento do Brasil e do mundo.”
Milhões de brasileiros dependem das águas desse rio para sobreviver. A água é um bem precioso e necessário.
“A necessidade é água… então quem falar de água e prometer água leva, mas o povo não percebe as consequências…”
As populações que dependem de suas águas ainda esperam um projeto hídrico para abastecimento das comunidades da região. Também é necessário um projeto de recuperação. O rio está doente, mas infelizmente não está internado na UTI. É um “paciente” que requer cuidados.
“…O rio não está na UTI. Eu bem que gostaria que ele estivesse. Porque se o rio São Francisco estivesse na UTI, teria os doutores todos lá, cuidando do paciente… ele está na fila do SUS e não sabe quando é que vai ser atendido.”
“Até hoje se inaugura a transposição, mas não se fala na revitalização. Gente: anêmico não doa sangue… Antes de exigir que um doente gere vida, dê condições de vida.”
Ao contrário de rios como o Nilo, o São Francisco não nasce em geleiras. Ele depende das nascentes da calha principal de seus afluentes. Portanto é necessário garantir o seu abastecimento, através da preservação de suas nascentes e suas matas ciliares. Também é imprescindível a despoluição de suas águas.
“Os grandes rios do mundo nascem nas geleiras e um rio que nasce em geleiras como o Amazonas, o Nilo… está com o seu abastecimento garantido. No verão vem o degelo e o rio, então, é abastecido…”
“Depois de 23 anos de missão, como franciscano no sertão, a Igreja me chamou. João Paulo II me chamou para assumir a Diocese de Barra… Todo o nosso trabalho… tem como prioridade pastoral as comunidades”.
A Diocese de Barra conta, atualmente, com 600 comunidades, 15 paróquias, e 15 padres. Com uma realidade como essa, Dom Cappio ressaltou a necessidade de se investir no laicato.
Após a sua explanação, os participantes tiveram meia-hora para fazer perguntas.
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Encontro com Dom Luiz Cappio. Um testemunho de vida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU