01 Março 2017
No pontificado do Papa Francisco, a Igreja Católica Romana entrou em uma fase de forte mudança, que se deve mais às pessoas do que às estruturas.
A opinião é do filósofo e biblista italiano Piero Stefani, especialista em judaísmo e em diálogo judaico-cristão, e ex-professor das universidades de Urbino e de Ferrara. O artigo foi publicado no seu blog Il Pensiero della Settimana, 19-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Segundo ele, "em um momento em que as democracias evidenciam a sua crise, a mais arcaica estrutura absolutista-feudal da Igreja Católica Romana consegue, mais do que outras instituições, dar voz ao novo".
Muitos líderes políticos tendem a ser carismáticos. No entanto, nas democracias, eles devem fazer as contas tanto com as instituições quanto com a vontade popular. Nos Estados Unidos, Trump está lidando com o judiciário. Na Itália, Matteo Renzi certamente apontou para a instauração de uma liderança carismática. A sua consagração, porém, deveria ter passado por uma extensa revisão das instituições e do ditado constitucional. O referendo do dia 4 de dezembro de 2016 pôs fim a esse projeto, e agora abriu-se uma fase fluida, na qual, por um lado, buscam-se novos líderes, enquanto, por outro, tenta-se repropor, sob uma nova roupagem, a liderança anterior.
Seja qual for o julgamento que se tenha a respeito dessas matérias, o fato é que, nos regimes democráticos, os líderes devem fazer as contas com as instituições e com a vontade popular.
No pontificado do Papa Francisco, a Igreja Católica Romana entrou em uma fase de forte mudança. Esta diz respeito, em primeiro lugar, às pessoas, começando com o próprio Bergoglio. Os analistas de coisas eclesiásticas podem falar de mudanças também em nível institucional, mas as poucas reformas implementadas e as muitas em obras são sempre componentes marginais, embora não insignificantes.
A estrutura da Igreja Católica Romana continua, em essência, inalterada: fortemente hierárquica e masculina. O papa pode encontrar resistências na práxis, mas não há nem instituições capazes de limitá-lo nem vontade popular posta em condições de rejeitar as suas decisões. Depois dos debates do século XV, nem mesmo o Concílio é superior ao papa.
O novo clima – e o fato de que ele existe também é demonstrado pelas reações suscitadas por ele – é confiado sobretudo às pessoas: em primeiro lugar, à do próprio Francisco e depois, pouco a pouco, àquelas conectadas com as nomeações feitas por ele. A mudança, por assim dizer, se deve mais ao pessoal do que às estruturas.
Em pouco tempo, portanto, tudo pode aparecer sob uma nova roupagem, embora as estruturas permaneçam inalteradas na substância. Depois dos quatro anos marcados pelo episcopado de Luigi Negri, a diocese de Ferrara-Comacchio terá um novo bispo. O recém-nomeado é Giancarlo Perego, natural de Cremona, até agora presidente da Fundação Migrantes. Todos os indícios indicam uma mudança radical de linha. Mas se será assim, isso se deverá, mais uma vez, somente à liderança e não às instituições e à vontade popular.
Em um momento em que as democracias evidenciam a sua crise, a mais arcaica estrutura absolutista-feudal da Igreja Católica Romana consegue, mais do que outras instituições, dar voz ao novo. Está tudo bem, contanto que se saiba que ela faz isso precisamente por causa da sua organização verticalista.
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As pessoas e as estruturas. Artigo de Piero Stefani - Instituto Humanitas Unisinos - IHU