25 Outubro 2016
Caracas. Nos arredores da estação Bellas Artes do metrô, dois grupos se enfrentam debaixo de um grande mural que celebra o socialismo bolivariano: de um lado, os evangélicos; de outro, os movimentos LGBT. Depois de algumas escaramuças, a polícia os divide. A manifestação continua e "cerca" o Parlamento: para pedir que não seja discutida a lei sobre o casamento igualitário, que a esquerda chavista ainda não conseguiu aprovar. Um compromisso adiado até uma data posterior, depois da vitória da direita no Parlamento, no dia 6 de dezembro passado. A marcha a que assistimos ocorreu no verão de 2015.
A reportagem é de Geraldine Colotti, publicada no jornal Il Manifesto, 22-10-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Também na Venezuela – onde encontram espaço muitos cultos religiosos, multiplicados pela presença de 34 povos indígenas e dos afrodescendentes – as Igrejas evangélicas estão crescendo. Nos últimos 16 anos, elas tiveram um crescimento de cerca de 7% e abrangem – de acordo com o Conselho Evangélico da Venezuela (CEV) – 17% da população (que é de mais de 33 milhões de pessoas). Elas administram rádios de bairro e canais e TV e se envolvem na disputa política: a favor ou contra o socialismo bolivariano, configurado por um bloco social variado, mas de domínio "plebeu".
E aqui as Igrejas evangélicas, assim como a católica, encontram dificuldades. Para fazer prosélitos nas comunidades, elas devem disputar os fervorosos espíritos conservadores: primeiro, por causa da forte presença das mulheres e do feminismo, depois porque as "misiones" já são feitas pelo chavismo – mas para organizar politicamente as "multidões", não para domesticá-las – e também porque qualquer deus que se levante deverá marchar rumo à bolivariana "máxima felicidade possível", não à sua renúncia.
Certamente, porém, errou de prognóstico Carlos Mariátegui, o grande pensador marxista peruano que considerava concluído o ciclo de crescimento do protestantismo na América Latina ainda em 1928. Hoje, é de religião evangélica cerca de 20% do continente, em comparação com 69% dos católicos. Em 1900, os protestantes eram cerca de 50.000: apenas 1% da América Latina, enquanto 94% eram católicos. Em 1930, eles tinham se tornado um milhão, 50 milhões nos anos 1980. E, no ano 2000, subiram para cerca de 100 milhões.
O Paraguai é o país com menos evangélicos (cerca de 8%); o Brasil, aquele onde a proporção é mais alta, e a influência conservadora das Igrejas pentecostais e neopentecostais é mais forte.
Percebe-se isso durante as campanhas eleitorais e nas escolhas políticas dos candidatos, na economia e na comunicação. No Brasil, gays e lésbicas podem se casar desde maio de 2013, por decisão do Supremo Tribunal Federal, que, no entanto, pode ser contestada por um juiz conservador. E o casamento igualitário foi o principal cavalo de batalha das poderosas Igrejas pentecostais, assumido pela candidata anti-Dilma Rousseff Marina Silva, em 2014.
Uma investigação do Le Monde Diplomatique destacou os termos dessa poderosa força sociopolítica, que, em apenas 40 anos, passou de 5% para 22% dos fiéis. O coração do seu poder reside no Congresso. Toda quarta-feira, os deputados se reúnem para orar em uma sala plenária do Congresso, entoando hinos e jaculatórias. Durante o impeachment de Dilma, eles animaram uma vergonhosa algazarra machista e reacionária, em nome de "Deus, pátria e família".
O sistema político brasileiro, além da extrema fragmentação, também tem a particularidade de premiar as pessoas famosas, que consentem com a formação que os candidata a obter mais cadeiras no cômputo final. E os pregadores são os preferidos. Em 2010, o deputado federal mais votado do país foi o "palhaço Tiririca".
Com 123 milhões de fiéis, o Brasil continua sendo o primeiro país católico do mundo. Até 2030, as duas religiões, porém, estarão no mesmo patamar.
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América Latina, o poder das Igrejas pentecostais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU