04 Agosto 2016
“Diminuir o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia de produção também é urgente. Um terço de toda a comida produzida é desperdiçada. O que jogamos fora seria o suficiente para alimentar o mundo inteiro”, constatam Jamie Olivier, chefe de cozinha britânico, é apresentador de TV e fundador da Jamie Oliver Food Foundation e David Hertz, chefe de cozinha brasileiro, é fundador da ONG Gastromotiva, em artigo publicado por Folha de S. Paulo, 04-08-2016.
Segundo eles, “durante a Olimpíada, mostraremos como isso pode ser possível. O Refettorio Gastromotiva, um novo restaurante-escola na Lapa, usará ingredientes excedentes para servir refeições nutritivas a pessoas em situação de vulnerabilidade social”.
Eis o artigo.
Enfrentamos uma grave crise global de alimentos, e o Brasil pode ajudar a resolver esse problema. Uma em cada dez crianças com menos de cinco anos sofre de má nutrição no mundo.
Cerca de 41 milhões delas estão acima do peso ou obesas. Outras 159 milhões delas passam fome ou estão tão subnutridas que não conseguem se desenvolver de forma satisfatória.
A humanidade encontra-se nessa situação insana na qual bilhões de pessoas se alimentam de grandes quantidades de comida de má qualidade, enquanto outros bilhões comem muito pouco de uma comida saudável. Em diversos países, comunidades e até nas famílias, obesidade e desnutrição agora coexistem.
O custo da obesidade e da subnutrição no mundo é imenso. Ele pode ser medido pelos gastos dos sistemas de saúde, que arcam com as consequências desses problemas, e pela perda de produtividade dos trabalhadores. Globalmente, o prejuízo econômico da obesidade é de US$ 2 trilhões por ano.
O mundo tem muito a aprender com a experiência brasileira para combater essa crise global. De acordo com o Programa Mundial de Alimentos da ONU, o número de brasileiros subnutridos caiu de 11,2%, entre 2000 e 2002, para menos de 5%, entre 2014 e 2016. Todavia, como em muitos outros países, a obesidade só aumenta: 54% de brasileiros estão acima do peso e 20%, obesos.
Políticas bem-sucedidas têm sido implementadas, mas é preciso muito mais para resolver esse e outros problemas. Nesta semana, é hora de aproveitar a atenção mundial que os Jogos do Rio receberão para dar visibilidade aos desafios relacionados à nutrição.
O governo brasileiro sedia nesta quinta (4) o evento Nutrição para o Crescimento. Esperamos que esse encontro avance a agenda global de alimentação e que o Brasil anuncie uma cúpula global para 2017. Na ocasião, líderes de todo o mundo se comprometerão, política e financeiramente, a colocar um ponto final na crise de alimentos.
Como chefes de cozinha, sabemos que a revolução da comida não é só urgente como também possível. Por isso, somamos esforços para gerar mudanças e convidar todos a agir. Para nós, o acesso à alimentação barata, de qualidade, variada e saudável deve ser um direito humano assegurado a todas as populações.
Precisamos disseminar a educação alimentar pelo mundo para que as crianças saibam o que estão ingerindo. Temos de difundir essa ideia nas escolas e fora delas, além de pôr um fim ao marketing agressivo de fast-food para crianças.
Diminuir o desperdício de alimentos ao longo de toda a cadeia de produção também é urgente. Um terço de toda a comida produzida é desperdiçada. O que jogamos fora seria o suficiente para alimentar o mundo inteiro.
Durante a Olimpíada, mostraremos como isso pode ser possível. O Refettorio Gastromotiva, um novo restaurante-escola na Lapa, usará ingredientes excedentes para servir refeições nutritivas a pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Essa iniciativa, com chefes renomados como o italiano Massimo Bottura (Food for Soul) e o brasileiro David Hertz (Gastromotiva), mostrará como lutar contra o desperdício, a má nutrição e a exclusão social. O espaço será inaugurado durante a Olimpíada e continuará operando como um legado para a cidade.
A revolução da comida deve ser preparada por muitas mãos. Convidamos o povo brasileiro e os governos do mundo a se juntarem a nós nesse esforço de levar o debate sobre alimentação saudável para a mesa dos líderes mundiais que estarão no Rio.
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É hora de revolucionar a alimentação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU