01 Agosto 2016
Nesta sexta-feira, 29-07-2016, o Papa Francisco implorou em silêncio a Deus por misericórdia em nome da humanidade na visita carregada de simbologia que fez aos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial de Auschwitz e Birkenau, pedindo perdão “por tanta crueldade” no lugar onde, pelo menos, 1,1 milhões foram mortos no programa desumano de extermínio nazista.
A reportagem é de Joshua J. McElwee, publicada por National Catholic Reporter, 29-07-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Entrando sozinho a pé no campo de Auschwitz, o pontífice passou sob o infame arco de metais em que se lê “Arbeit macht frei” (o trabalho liberta) com o sol fazendo com que várias destas letras aparecessem na sombra em sua batina branca.
Em seguida, o papa viajou em um pequeno veículo a uma área de construções com tijolos vermelhos dentro do campo fechado de arame farpado – construções construídas exclusivamente para torturar prisioneiros. Ele parou e saiu do veículo para se sentar próximo do que se conhece como o “Muro da Morte”, onde os condenados eram levados por soldados antes de serem executados.
Francisco se sentou no local, curvou a cabeça em oração por mais de dez minutos. Levantando-se lentamente, andou em direção de uma das construções tocando com as mãos a parede externa de tijolos.
Francisco foi aos campos de concentração como parte de sua visita à Polônia. Ele hospedou-se em Cracóvia, a aproximadamente 50 quilômetros de Auschwitz, para comemorar a Jornada Mundial da Juventude. O pontífice decidiu não falar publicamente durante a visita de sexta-feira, preferindo manter-se em silêncio face a uma história tão trágica.
Em suas poucas palavras na viagem de duas horas, o líder religioso escreveu em espanhol no livro comemorativo do museu local: “Senhor, tenha piedade de seu povo. Senhor, perdão por tanta crueldade”.
Historiadores dizem que o número total de mortos nos campos de concentração pode chegar a 4 milhões. Estima-se que 90% dos quase 3,5 milhões de judeus da Polônia à época morreram sob o regime nazista.
Durante a visita, Francisco reuniu-se em privado com cerca de uma dúzia de sobreviventes dos campos, reservando um momento para cada um deles e oferecendo um abraço e um beijo no rosto. O último sobrevivente a saudar Francisco deu-lhe uma vela acesa que ele, então, pôs dentro de uma lâmpada colocada perto do Muro da Morte.
Então, Francisco foi para a cela onde o mártir São Maximiliano Kolbe – franciscano mantido no campo de concentração e que se ofereceu em lugar de uma outra pessoa escolhida para morrer – passou fome por várias semanas antes de ser morto por injeção letal.
O papa entrou na cela sozinho, ajoelhando-se diante de uma pequena imagem do santo e permanecendo aí por cinco minutos.
Na sequência, viajou para Birkenau, campo de concentração na região que fora construído enquanto o regime nazista expandia o seu programa de detenção e extermínio.
Estabelecido dentro de um campo aberto de vários quilômetros quadrados, este campo de concentração é limitado por arame farpado e torres de vigia feitas de madeira. É também marcado por construções de tijolos longos que abrigavam prisioneiros em condições precárias. Na medida em que se adentra a área, o campo de visão é preenchido com arames, tijolos e grama.
O pontífice visitou o Monumento Internacional de Birkenau dedicado às vítimas do fascismo, colocado entre as ruínas onde se localizavam as duas maiores câmaras de gás do campo de concentração. O monumento – uma plataforma de pedra austera com vários níveis – é limitado, de um lado, por 22 duas placas em que se afirma, em 22 idiomas, que este lugar deveria ser “um grito de desespero e um alerta para a humanidade”.
Francisco caminhou lentamente também ao longo da linha formado pelas placas, segurando a mão direita sobre o peito e pausando por vários momentos em cada uma delas. No final da linha, pôs uma outra vela sobre uma das plataformas.
Enquanto o papa se curvava para pôr a vela sobre a pedra, um rabino entoou as palavras hebraicas do Salmo 130: “Senhor, ouve o meu grito. Que os teus ouvidos estejam atentos ao meu pedido por graça!”.
“Javé, se levas em conta as culpas, quem poderá resistir?”, continuou o rabino. “Mas de ti vem o perdão, e assim infundes respeito”.
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Em Auschwitz, Francisco pede perdão a Deus “por tanta crueldade” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU