Por: Cesar Sanson | 11 Julho 2016
No Brasil, é grande o poder político eleitoral das dinastias, um pequeno grupo de famílias, cujos principais sustentáculos são a relação com o poder econômico e o monopólio oligárquico dos meios de comunicação de massa, escreve Fernando Nogueira da Costa, professor titular do IE-Unicamp em artigo publicado por Brasi Debate, 07-07-2106.
Eis o artigo.
É economicismo o uso de variáveis como faixas de renda e riqueza como determinantes diretos do posicionamento político. Se isso fosse verdade, automaticamente, lendo a tabela abaixo, encontraríamos a causa do antipetismo por parte da elite econômica paulistana.
Cada membro dela possui em média cerca de R$ 8 milhões em riqueza financeira, segundo dados do Relatório de Private Banking de março de 2016, publicado pela ANBIMA. Mesmo assim, ricos não apreciam pagar impostos para gastos sociais…
No entanto, a boa Ciência da Complexidade sugere que um Sistema Complexo resulta das interações entre seus múltiplos componentes. Se os 44.513 indivíduos pertencentes à classe dos super-ricos paulistanos resolvessem ir todos juntos à Avenida Paulista — hipótese absurda porque esse “povo” esnobe tem medo (e nojo) das ruas brasileiras –, só encheriam poucas quadras em torno do “pato amarelo” da FIESP golpista, para fazer a louvação à sonegação de impostos com base na pobre justificativa de que “não querem pagar o pato”…
Aliás, uma das maiores causas dessa desigualdade social da riqueza no Brasil é justamente essa: os acionistas têm rendimentos sob forma de lucros e dividendos isentos. Assim como são isentos os rendimentos de titular e sócios de microempresas e empresas de pequeno porte. E os ricaços podem fazer transferências patrimoniais sob forma de doações e heranças isentas de imposto de renda.
Quando não o sonegam, só pagam o ITCMD estadual. Será que é por isso que sustentam o governo tucano, envolvido em corrupção do metrô e máfia da merenda escolar, em SP?
Aprecio analisar a longa história da civilização humana através da dinâmica do jogo de alianças, golpes e contragolpes entre as diversas castas, com ascensões e quedas de hegemonias. Veja abaixo o ranking das rendas e riquezas per capita das castas brasileiras.
Casta, no sistema de estratificação tradicional da Índia, é um grupo social fechado, de caráter hereditário, cujos membros pertencem à mesma etnia, profissão ou religião. Por extensão, designa qualquer grupo social, ou sistema rígido de estratificação social, de caráter hereditário. Portanto, refere-se à camada social que forma uma das partes componentes de uma sociedade complexa que se organiza de maneira hierárquica. Em sentido pejorativo, usa-se a expressão para hostilizar o grupo de cidadãos que se destaca dos demais por seus privilégios, ocupações, costumes e/ou preconceitos.
Para entender a influência do familismo no Poder temos de compreender a enorme influência das dinastias. Dinastia é sequência de indivíduos que ocupam determinada função, cargo ou posto de poder, hereditários ou não. Refere-se à sucessão de herdeiros e continuadores de magnatas e oligarcas da casta dos governantes aristocratas, desde os rurais até os industriais golpistas da FIESP. A etimologia indica “dominação, poder, domínio de uma oligarquia” ou “ser o mestre, exercer o poder, ter força”.
Clã refere-se ao agrupamento familiar comum compostos de pessoas que se presumem ou são descendentes de ancestrais comuns. Relaciona-se tanto com casta quanto com partido, facção, lado. Na etimologia, encontra-se o significado de “família, raça”.
Oligarquia é o regime político em que o poder é exercido por um pequeno grupo de pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família. Refere-se à preponderância de um pequeno grupo no poder. Por exemplo, o PMDB é composto de oligarcas, isto é, partidários das oligarquias regionais: Barbalhos, Sarneys, Alves, Campos, Calheiros, Bornhausens etc. Confira quantos oligarcas da elite branca compõem o ministério golpista de Temer. Adeus, mulheres e minorias!
Reportagem de Étore Medeiros, publicada 04/02/2016 na Pública, revela que um mecanismo muito antigo da política nacional é especialmente significativo na atual legislatura na Câmara. De teor fortemente conservador, ela é também a que possui maior porcentual de deputados com familiares políticos desde as eleições de 2002.
Um estudo da Universidade de Brasília (UnB), publicado no segundo semestre de 2015, analisou os 983 deputados federais eleitos entre 2002 e 2010 para concluir que, no período, houve um crescimento de 10,7 pontos percentuais no número de deputados herdeiros de famílias de políticos, atingindo 46,6% em 2010.
Logo após a última disputa eleitoral, a ONG Transparência Brasil divulgou outro levantamento que concluiu que 49% dos deputados federais eleitos em 2014 tinham pais, avôs, mães, primos, irmãos ou cônjuges com atuação política – o maior índice das quatro últimas eleições.
Na Câmara, de acordo com esse levantamento, o Nordeste encabeça a lista das regiões com mais herdeiros (63%), seguida pelo Norte (52%), Centro-Oeste (44%), Sudeste (44%) e Sul (31%). No Senado, entretanto, Sul, Sudeste e Centro-Oeste estão à frente (67%), seguidos pelo Nordeste (59%) e Centro-Oeste (42%). Esse Congresso Nacional representa o povo brasileiro?!
Assim, os gordos brancos idiotas, que não têm consciência do mal que fazem a si e aos outros por ignorarem a coisa pública, agiram como massa-de-manobra dos super-ricos, “batendo panela-vazia” em favor do golpe de Estado executado por herdeiros das dinastias políticas no Congresso Nacional!
Sem mudanças em dois dos principais sustentáculos da política eleitoral (e congressual) praticada pelas dinastias, nenhuma reforma eleitoral resolverá o problema do familismo. A primeira é a relação com o poder econômico, não só o financiamento empresarial de campanha eleitoral, mas também com os lobbies e a corrupção. A segunda é o monopólio oligárquico dos meios de comunicação de massa.
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Poder de castas, clãs e oligarcas de dinastias no Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU