Mensagem de Bartolomeu. Nas raízes da crise ecológica

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30 Junho 2016

Uma delegação do Patriarcado de Constantinopla esteve no Vaticano, por ocasião da Festa de São Pedro e São Paulo. Na oportunidade foi entregue ao Papa Francisco a mensagem de Bartolomeu.

A íntegra da mensagem foi publicada por L’Osservatore Romano, 28-06-2016. A tradução é de Benno Dischinger.

Eis o texto.

À Sua Santidade Papa Francesco da Antiga Roma: alegrai-vos no Senhor.

Ao concelebrar com você a venerável memória do Chefe entre os Apóstolos Pedro e do Apóstolo dos Gentios Paulo, martirizados na sua Sede e profundamente honrados tanto pela Antiga como pela Nova Roma, seguimos a abençoada tradição de trocar visitas oficiais através de Delegações das nossas Igrejas por ocasião das nossas respectivas festas do Trono. Por isso, dirigimo-nos fraternalmente a você, com uma saudação festiva, abraçando-o, Santidade, com um beijo sacro e orando que o Senhor da glória o fortaleça par o bem da Igreja e para a unidade dos cristãos, como também em benefício de uma humanidade tão inquieta.

Recordamos com sentimentos de afeto e profunda gratidão o nosso recente encontro na ilha abençoada de Lesbos, para dar apoio aos refugiados e aos migrantes, encorajando-os e dando-lhes esperança, mas também para afirmar, junto com Sua Beatitude o Arcebispo Hieronymus de Atenas e de toda a Grécia, a necessidade de garantir uma solução pacífica à maior crise humanitária desde o fim da segunda guerra mundial, da qual é vítima um número infinito de pessoas, entre as quais também as populações cristãs originárias do Oriente.

As nossas Igrejas sentem o clamor de “quantos estão fatigados e oprimidos” (cf. Mt 11,28), vítimas de violência e de fanatismo, discriminação e perseguição, injustiça social, pobreza e fome; e audazmente colocamos a lanterna “sobre o alqueire“ (cf. Mt 5, 15) ante a trágica recusa de respeito pela sacralidade da pessoa humana.

A atual crise dos refugiados e dos migrantes tem demostrado a necessidade que as nações europeias enfrentem o problema baseados nos antigos princípios cristãos de fraternidade e justiça social. Reconhecemos que a civilização europeia não pode ser entendida sem referência às suas raízes cristãs e que o seu futuro não pode ser aquele de uma sociedade inteiramente secularizada ou submetida ao economicismo e a várias formas de fundamentalismo. A “cultura de solidariedade” alimentada pelo cristianismo não é conservada através do avanço dos padrões de vida, da internet e da globalização.

Ninguém honra a humanidade criada à imagem e semelhança de Deus quanto a Igreja de Cristo, o qual foi revelado como Deus “conosco” (Mt 1, 23) e como Deus “para nós” (cf Rom 8, 32). É por isso que a palavra da Igreja é e permanecerá nos séculos uma intervenção para o bem da humanidade e de sua liberdade doada a Deus. A vida na Igreja incorpora, junto à Santa Eucaristia, a esplêndida devoção e a vida de prece, a luta ascética e interior contra as paixões, como também a resistência contra o mal social e a luta para que prevaleçam a justiça e a paz.

Estamos convictos que os nossos esforços comuns e as nossas iniciativas referentes aos desafios globais do presente continuarão, já que são um bom testemunho para a Igreja de Cristo a serviço da humanidade e do mundo, e, ao mesmo tempo manifestam e reforçam a nossa responsabilidade espiritual ante os desafios atuais para o bem do mundo cristão e de toda a humanidade.

Exprimimos a nossa alegria e o nosso prazer pelo fato de que a sua encíclica Laudato Si’ – que gentilmente fez referência às iniciativas ecológicas do Patriarcado Ecumênico, como também à ênfase que pomos sobre as raízes espirituais e morais da crise ecológica, unida à necessidade de arrependimento, de mudança radical de conduta e de comportamento para a sua solução – tenha sido amplamente apreciada e tenha demonstrado as dimensões e as consequências sociais do problema ecológico. Todo aquele que ama Deus com todo o coração, a mente e as forças (cf. Mc 12, 30) ama também a humanidade e se preocupa pela criação de Deus como casa abençoada da humanidade. O duplo “grande mandamento” do amor, sobre o q ual “se fundam toda a lei e os Profetas” (cf Mt 22, 37.40-41) abraça também o cuidado pelo mundo criado.

Santidade e caro Irmão, temos sido abençoados como custodes de preciosas tradições de amor divino e caridade humana, herdeiros também de verdades fundamentais pertencentes aos seres humanos como cidadãos do mundo e cidadãos do céu, que temos o dever de preservar na sua integridade, permanecendo fiéis ao Senhor que “não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20,28), como também aos veneráveis fundadores das Igrejas de Roma e de Constantinopla, os irmãos Pedro e André, que selaram o seu testemunho de Sua verdade sobre a cruz, num modo digno de Cristo.

Os nossos esforços são alimentados por esta fonte infinita para o progredir do caminho em direção à desejada unidade das nossas Igrejas. O diálogo que continua entre a Igreja ortodoxa e a santíssima Igreja de Roma é um âmbito que produz conhecimento teológico, experiência ecumênica e enriquecimento recíproco. Os textos deste diálogo confirmam os nossos modelos cristãos comuns e exprimem a nossa fé segundo a qual a Verdade da Igreja é uma pessoa, ou seja, o Verbo de Deus que se fez carne, sofreu e ressuscitou.

O diálogo “na Verdade” implica em “dizer a verdade na caridade” (cf Ef 4,15), “permanecer” no amor (cf Jo 15, 9) como “vínculo de perfeição” (Col. 3,14).

Estes sentimentos e augúrios fraternos por ocasião da gloriosa festa da Igreja em Roma serão levados e expressos pessoalmente a Sua Santidade pela nossa Delegação patriarcal, guiada por Sua Eminência o Metropolita Methodios de Boston, acompanhado por Sua Excelência o Arcebispo Job de Telemessos e pelo Reverendíssimo Diácono patriarcal Nephon Tsimalis.

Estando juntos, com a boa vontade do Deus benévolo, ao Santo e grande Concílio da Igreja ortodoxa, lhe solicitamos, Santidade, de orar para que as suas deliberações deem uma coletânea fecunda no Espírito Santo, para glória da Divindade Uma e Trina e indivisa, permanecendo com profundo amor e particular estima no Senhor.

29 de junho de 2016.

O amado irmão em Cristo da sua venerável Santidade.

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