Por: André | 04 Mai 2016
Nos oito dias passados, os judeus de todo o mundo celebraram a Pesach, a Páscoa, que começou na tarde da sexta-feira 22 de abril com a ceia ritual chamada Sêder.
Fonte: http://bit.ly/1W8PBRZ |
A reportagem é de Sandro Magister e publicada por Chiesa.it, 02-05-2016. A tradução é de André Langer.
O desenrolar e o significado das celebrações pascais judaicas foram cuidadosamente explicados, há um ano, no L’Osservatore Romano por Zion Evrony, o então embaixador de Israel junto à Santa Sé.
Esta ceia é um sinal distintivo do judaísmo à qual quase ninguém falta, nem mesmo os não poucos judeus que se dizem ateus. Um estudo recente do Pew Research Center, de Washington, realizado entre os cidadãos de Israel, ressaltou que na ceia do Sêder participam 100% dos haredi, chamados comumente “ultra-ortodoxos”, 99% dos sionistas, os “religiosos”, e 97% dos masorti, os “tradicionalistas”, e também 87% dos hiloni, os “seculares”, 40% dos quais são ateus, que durante todo o ano não rezam nem vão à sinagoga, nem tampouco observam o descanso do sábado, mas jejuam em massa (83%) no dia do Yom Kippur.
O Sêder de Páscoa e o Yom Kippur são os dois atos que reúnem todos os judeus, por razões de tradição e de cultura, quando não de religião. Mas, para todo o resto, as diferenças entre as diferentes formas de judaísmo são numerosas e profundas, como mostrou o estudo do Pew Research Center, estendendo-o também aos outros grupos religiosos que vivem em Israel: muçulmanos, drusos e cristãos.
São diferenças que afetam tanto os princípios máximos como a vida cotidiana. Por exemplo, um judeu secular fica com os cabelos eriçados com a ideia de que sua filha se case com um ultra-ortodoxo, e vice-versa. Antes, gostaria que se casasse com um cristão, apesar do fato de que em Israel os casamentos inter-religiosos não serem permitidos, mas que só são reconhecidos legalmente quando celebrados em outro país.
Quanto à distinção entre religião e política, os seculares não querem ouvir falar que a lei judaica, a Halaka, esteja acima dos princípios democráticos. Os ortodoxos, por sua vez, querem exatamente isto, e com eles também os dois terços dos sionistas, os religiosos.
Apesar disto, todos, de forma indistinta, dizem professar a religião judaica, inclusive aqueles que não a praticam e nem sequer acreditam em Deus. Em Israel, quase ninguém se define sem religião, embora os seculares se considerem em primeiro lugar israelenses e depois judeus, ao passo que acontece o contrário com os haredi e os sionistas, primeiro judeus e apenas israelenses de forma subordinada.
Asquenazes e sefarditas, as duas grandes divisões histórico-geográficas dos judeus no mundo, são categorias que atravessam os quatro grupos estudados. Apenas em pequena medida prevalecem os primeiros entre os seculares e os segundos entre os ortodoxos.
Três quartos dos judeus que vivem atualmente em Israel nasceram ali, ao passo que apenas um quarto veio do exterior. Mas todos estão de acordo em afirmar para cada judeu o direito de emigrar para Israel e de ser imediatamente cidadão. Nove de cada dez – os céticos estão todos entre os ultra-ortodoxos – veem necessária a existência de um Estado judaico para assegurar a sobrevivência do povo de Israel, tanto mais que na opinião de três quartos dos judeus israelenses o antissemitismo persiste e, mais ainda, está crescendo no mundo.
Mas as divisões se verticalizam diante do dilema entre a lei judaica e a democracia.
Em sua quase totalidade, os ultra-ortodoxos querem que a Halaká tenha a primazia e que seus preceitos tenham valor de lei, ao passo que os seculares querem exatamente o contrário. Também entre os sionistas, os religiosos, 69% estão a favor da Halaká, ao passo que os masortis, os tradicionalistas, 57% optam pela democracia.
Indo às considerações práticas, os haredi e os sionistas gostariam de impedir a circulação do transporte público nos sábados, o oposto do que querem os hiloni. E o mesmo acontece sobre a separação entre os homens e as mulheres no transporte público, com os ultra-ortodoxos a favor e os seculares contra.
Sobre o casamento, que em Israel pode ser celebrado apenas na presença do rabino ortodoxo, os haredi são intransigentes na defesa desta disciplina, ao passo que os seculares gostariam de mudar a lei para permitir a presidência também de rabinos reformistas e conservadores.
No espectro político israelense, os sionistas são aqueles que se situam mais à direita e os hiloni mais na centro-esquerda, ao passo que os haredi situam-se principalmente no centro. Nos ultra-ortodoxos estão também aqueles que se opõem à criação de um Estado judaico antes da chegada do Messias. E há também aqueles que se opõem ao assentamento de colonos na Cisjordânia e apoiaram a cessão de terras aos palestinos em troca da paz.
O Likud, o partido leigo de centro-direita ao qual pertence o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, encontra o seu eleitorado principalmente entre os masorti e os hiloni. Ao passo que os sionistas se dividem entre dois partidos, ambos aliados ao Likud: Habayit Hayehudi, que apóia os assentamentos, e Shas, que cuida dos interesses dos sefardistas.
Em todo o caso, os quatro grupos que foram objeto do estudo vivem separados uns dos outros. Nove de cada dez dos haredi e dos hiloni declaram ter em seus círculos de amigos apenas aqueles que pertencem ao seu próprio grupo. E o mesmo acontece com os casamentos.
O estudo do Pew Research Center recolheu muitos dados também sobre as minorias religiosas e suas relações com os judeus de Israel.
A confiança recíproca entre judeus e muçulmanos é muito baixa. 72% dos árabes que habitam em Israel e 88% dos judeus consideram que os esforços de paz das respectivas contrapartes israelense e palestina carecem de sinceridade.
Quanto à solução de um Estado palestino independente ao lado do Estado de Israel, consideram-na possível 43% dos judeus e 50% dos árabes israelenses.
Mas entre os judeus mais céticos sobre a solução dos dois Estados estão os haredi e os sionistas. Por outro lado entre os árabes a confiança nessa solução está em queda vertical, porque é verdade que hoje está em 50%, mas há apenas três anos, em 2013, estava em 80%.
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Judeus. A discórdia dos quatro irmãos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU