20 Abril 2016
Existe alguém que se interessa pela geração millennials, ou a resignação é tal que não resta nada mais do que a resistência no forte, talvez lamentando os bons velhos tempos? É possível experimentar linguagens novas, meios novos, que saibam minar planos pastorais detalhados que permanecem como letra morta ou que são tremendamente ineficazes?
O comentário é de Sergio Di Benedetto, professor de literatura italiana da Universidade da Suíça Italiana de Lugano, em artigo publicado no sítio Vino Nuovo, 13-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Nas últimas semanas, tem havido muita conversa sobre os millennials: a categorização não é claro até o fim, mas me parece que se trata dos jovens nascidos nos anos 1980 e que se tornaram maiores de idade depois do ano 2000, jovens que têm cerca de 25-35 anos.
Destes, talvez erroneamente, eu ainda me sinto parte, tanto por razões de idade, embora me coloque nos limites de registro, seja porque eu tenho amigos, colegas, filhos de amigos, estudantes e ex-estudantes millennials.
Discutiu-se sobre os millennials pelos trágicos eventos das meninas mortas na Espanha, de Giulio Regeni, de Valeria Solesin (mas também quero lembrar o fotógrafo Andrea Rocchelli morto na Ucrânia em 2004). Eu li muito nos jornais, nessas ocasiões: "geração Erasmus" é outro rótulo usado.
O que eu vejo, experimento, conheço dos millennials? Faço uma descrição parcial, a partir do observatório em que eu estou (a universidade de um país estrangeiro), sabendo que é um ponto de vista que não pode ser generalizado e não é uma descrição exaustiva. Mas esta é a minha experiência.
Os millennials são medianamente instruídos, leem muito, estão muito conectados, mas não são necessariamente dependentes da web, sabem usar as potencialidades da internet. Cosmopolitas, sentem-se cidadãos do mundo, falam e escrevem em uma ou mais línguas estrangeiras, consideram a viagem como uma oportunidade de conhecimento, e a mobilidade, como um recurso.
A União Europeia está nos fatos, antes que nas diretrizes ou nos regulamentos, porque eles são substancialmente gratos à Europa: diante de uma Itália madrasta, que muitas vezes os cria e depois os força a emigrar, se quiserem continuar no caminho da especialização ou de um trabalho gratificante, a Europa aparece como uma terra de possibilidades, menos engessada e mais coerente. Mesmo aqueles que continuam vivendo na Itália viajam a trabalho todas (ou quase todas) as semanas.
Salvo algumas exceções, eles não são competitivos e têm uma ética social muito forte: opõem-se às injustiças, experimentaram por primeiro os desastres do capitalismo selvagem. Alguns caíram na tentação e começaram a imitar os seus pilares na própria vida, muitos tomam distância dele. A precariedade é um fato constitutivo da vida, muitas vezes sofrida, às vezes procurada: eles não conhecem postos fixos, tutelas e garantias.
Possuem uma sensibilidade ecológica profunda, porque a Terra é um bem precioso e porque, na sua vida, as mudanças climáticas são o presente e o temível futuro (eles não têm senão vagas lembranças de estações "normais").
Muitos têm relações sentimentais com pessoas originárias de outras regiões italianas ou de outros países europeus (ou do mundo), conhecidas muitas vezes longe de casa. Muitos coabitam, uma parte tem relações temporárias, alguns constroem laboriosamente relações à distância. Pouquíssimos são casados. Menos ainda são aqueles que têm filhos (seria longo de explicar agora o que está na base desse fenômeno).
A ética social, muitas vezes, é acompanhada por um forte subjetivismo: grande tolerância à diversidade, defesa da acolhida, eles configuram e vivem a vida como acham certo, de acordo com a própria visão de mundo, a liberdade é absoluta e tem como único limite a liberdade do outro.
A fé é um fenômeno subjetivo: a maioria acredita em Deus, mas de acordo com uma concepção própria que, frequentemente, exclui uma teologia e que beira quase abordagens deístas ou agnósticas: uma divindade provavelmente existe, provavelmente é boa, mas não se sabe realmente quem ou o que seja. Jesus foi um homem bom, um modelo moral. Mas, se fosse filho de Deus, não se sabe. É provável, mas não é certo. No entanto, a religião diz pouco respeito à vida.
Quase todos seguiram os percursos clássicos da iniciação cristã, mas abandonaram mais cedo ou mais tarde a prática da fé, e, em nível de cultura religiosa, a confusão não é pouca. Se, na concepção da sociedade, eles estão substancialmente próximos da doutrina social da Igreja (muitas vezes sem saber), no campo sexual, eles não vivem mais a distância ou a contestação contra a moral tradicional, porque simplesmente não se colocam mais esse problema.
A Igreja é objeto de críticas duras, tanto pelo escândalo da pedofilia, quanto pela incoerência de muitos de seus filhos, e ainda por experiências pessoais pouco felizes. Estimam o Papa Francisco pela atenção ao ser humano ferido e pela insistência que ele usa ao falar de pobreza necessária à Igreja, mas muitas vezes param naquilo que a mídia relata, sem aprofundar. As figuras religiosas, especialmente os sacerdotes, não são consideradas com benevolência.
As exceções são representadas por poucos membros de movimentos eclesiais, que têm identidades mais marcadas e que são objeto (de forma certa ou errada) de juízos pouco generosos por parte de quem não convive com eles.
Esse é um retrato simplificado e, como tal, contém margens de erro e julgamentos superficiais. Eu não tenho estatísticas oficiais (repassei os resultados de uma recente pesquisa realizada pelo Instituto Toniolo que me parece alinhada com o que eu descrevi). Tenho uma estatística pessoal própria: em um congresso na Basileia, que terminou no domingo passado, de 50 participantes, apenas dois estávamos na missa. Em um congresso nos Estados Unidos que contava com a presença de cerca de 50 italianos entre 70-80 relatores, na missa do domingo, eu estava sozinho.
Esses números e tendências são confirmadas por conversas e debates com colegas e amigos.
Ora, diante desse quadro, eu me pergunto: do ponto de vista da fé, devemos considerar os italianos da "geração millennials" como uma "geração perdida"? Não quero aqui indagar os motivos na base de tal situação, mas pergunto: o que fazer para aproximá-los? Como aproximá-los, sabendo que muitos se deslocam frequentemente?
Os instrumentos tradicionais não serviram e não servem. A hemorragia juvenil continua (e a geração pós-millennials, por enquanto menos móvel apenas por razões de idade, não parece estar encaminhada para outros destinos).
A Igreja italiana, entre congressos pouco úteis e documentos jamais lidos, pode se limitar a alguns retoques no caminho de iniciação cristã, talvez antecipando em um ano o início da catequese, para "evitar" fugas e saídas? Mais: a Igreja ainda é capaz de ousar, de derrubar práticas, modos, esquemas que levaram a resultados substancialmente falimentares? Há um papa que impulsiona a tentar novas estradas, mas por que temos tanto medo de percorrê-las?
Existe alguém que se interessa pela geração millennials, ou a resignação é tal que não resta nada mais do que a resistência no forte, talvez lamentando os bons velhos tempos? É possível experimentar linguagens novas, meios novos, que saibam minar planos pastorais detalhados que permanecem como letra morta ou que são tremendamente ineficazes?
E se a ação não é possível, ou não se quer tentá-la, na convicção de que é tarde para os millennials, como evitar que tudo isso aconteça com os adolescentes de hoje, jovens de amanhã? No entanto, não se reapresentam cansativamente as mesmas fórmulas, as mesmas propostas?
E se a inação não tem alternativas, por que não fazer, ao menos, um sério, profundo, verdadeiro exame de consciência que permita entender o que, nas últimas décadas, deu errado, sem simplesmente acusar a secularização, o bem-estar, o mundo, o Concílio e afins?
Dir-se-á: o testemunho pessoal é o melhor meio. Certamente, mas ele não é mais suficiente. O campo é vasto demais. É preciso outra coisa.
Eu sei, há o Espírito Santo e, no fim, Ele vem de qualquer forma, onde quer que seja e para quem quer que seja.
Mas, como homem, peço que alguém tente se aproximar da minha geração. Alguém salve os soldados millennials.
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Millennials: uma geração sem Igreja? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU