22 Dezembro 2011
É uma iniciativa crucial: ao apelo do clero afro-americano, o movimento negro pelos direitos civis, historicamente de marca protestante, traz à tona pastores de todas as denominações, que se unem ao movimento Occupy Wall Street.
A reportagem é de Natalia Trouiller, publicada no sítio da revista francesa La Vie, 15-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Occupy the Dream (ocupem o sonho): os pastores afro-americanos em contestação. Em outubro passado, um grupo inter-religioso sob a iniciativa de pastores episcopalianos (anglicanos) haviam marchado pelas ruas de Nova York portando um bezerro de ouro, em apoio ao movimento Occupy Wall Street. Desde então, os episcopais continuam dando um apoio ativo aos manifestantes, em particular, dispondo-lhes algumas das suas igrejas para se reunir ou até mesmo para dormir.
Na quarta-feira, 14 de dezembro, foram mais de 1.000 os ministros cristãos de todas as confissões, ajudados por líderes da comunidade negra norte-americana (atletas, empresários, artistas), que lançaram o movimento Ocuppy the Dream (ocupem o sonho), realizando a sua primeira coletiva de imprensa. É um apoio importante para o movimento, especialmente conhecendo a experiência que as igrejas afro-americanas dispõem em matéria de luta pelos direitos civis.
À frente do Occupy the Dream está o pastor Jamal Harrisson-Bryant, que é um ex-membro da NAACP (a mais antiga associação negra de luta pelos direitos civis) e Benjamin F. Chavis Jr., presidente da NAACP e que trabalhou com Martin Luther King.
"É hora de que a Igreja negra, a comunidade negra e a família de luta pelos direitos civis se reencontrem de mãos dadas para se unirem ao que os manifestantes do Occupy Wall Street estão fazendo", declarou Harrison-Bryant durante a coletiva de imprensa. E convidou para um dia de ação durante o Martin Luther King Day, no próximo dia 16 de janeiro, em frente ao Federal Reserve Bank.
"Vamos demonstrar aos EUA que a economia tornou o povo doente. As Igrejas se mobilizam em todo o país neste momento. Convidamos as pessoas a vir de cadeiras de rodas, de muletas, e a jogá-las para que se acumulam diante da porta, para que haja uma imagem visível do que significa ser deficientes nesta economia".
Com a chegada do Natal, alguns movimentos alternativos lançaram a operação Occupy Christmas (Ocupem o Natal) para dar a esse dia novamente uma dimensão familiar, convivial e centrada na partilha. A ideia foi tomada literalmente por paroquianos católicos de Downey, na Califórnia, que decidiram fazer com que Jesus ocupasse o Natal e organizaram um flash-mob eucarístico em pleno shopping de Stonewood, celebrando a adoração ao Santíssimo Sacramento no meio das publicidades e da multidão de consumidores, ao som de Adeste fideles [assista ao vídeo aqui].
Sem convidar a manifestações, o episcopado católico norte-americano publicou em seu site uma carta ao Congresso dos EUA sobre o subsídio ao desemprego, cuja drástica revisão foi discutida nestes dias no parlamento. Assinada pelo bispo de Toledo (Ohio), Dom Blaire, essa carta lembra aos parlamentares as palavras de João Paulo II na encíclica Laborem Exercens: "A obrigação de conceder fundos em favor dos desempregados, quer dizer, o dever de assegurar as subvenções indispensáveis para a subsistência dos desempregados e das suas famílias, é um dever que deriva do princípio fundamental da ordem moral neste campo, isto é, do princípio do uso comum dos bens ou, para exprimir o mesmo de maneira ainda mais simples, do direito à vida e à subsistência".
No Sojourners, site protestante evangélico de esquerda, aplaude-se essa iniciativa e se envia aos parlamentares de direita, prontos para cortar o fornecimento de alimentos para os mais pobres, a frase de advertência: "Não se chamem 'pró-vida' se você abandonam os pobres logo depois que eles nascem".
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Contra a ditadura da Bolsa, a força dos cristãos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU