''É possível conciliar o Alcorão e a liberdade''. Entrevista com Itamar Rabinovich

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

14 Dezembro 2011

"O Islã e a democracia são conciliáveis. Os dois termos não estão em contradição. Basta olhar para nações como a Indonésia ou a Turquia...". Para Itamar Rabinovich, estudioso israelense da política árabe, que leciona em Tel Aviv e Harvard, não existem países menos democratizáveis enquanto muçulmanos: "O problema surge quando o Islã se torna refém de movimentos radicais, como os salafistas, que são antidemocráticos por definição".

A reportagem é de Francesco Battistini, publicada no jornal Corriere della Sera, 11-12-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis a entrevista.

É possível inserir forças islâmicas em uma democracia liberal de tipo ocidental? Ou deveríamos pensar em outra forma de Estado?


Depende. O modelo turco, evidentemente, é melhor do que o egípcio, mas porque ali foi completada a construção de um Estado moderno, em que as forças seculares e religiosas se enfrentam em igualdade de condições. Se a democracia é forte, os Irmãos Muçulmanos também podem estar nela. No Líbano, com o Hezbollah, tentou-se isso. Mas o sistema era muito fraco em 2005, quando os liberais venceram. E para a Síria e o Irã foi uma brincadeira favorecer a reviravolta antidemocrática, levado ao poder os islamitas. Se o Líbano fosse uma democracia plena, o Hezbollah teria que se adaptar às regras. Sem sonhar com o Estado teocrático.

Por que o Islã moderado está na fogueira?

Porque não sabe como enfrentar a modernização, a pobreza e o analfabetismo que afligem o mundo muçulmano. Assim, fica fácil de os radicais se inserirem.

Quando o Hamas tomou o poder em Gaza, o Ocidente se arrependeu de ter desejado as eleições de 2006. "Faço vocês votaram se ganhar quem eu disser": não é muito cômodo?

Os radicais passam quando os moderados não são apresentáveis: mais do que o Hamas ganhar, foram os líderes corruptos do Fatah que perderam. E o erro de Bush foi o de pensar que a democracia era só ir às urnas. As eleições em si não bastam: antes, são necessários uma sociedade civil, direitos iguais para as mulheres, liberdade de pensamento... Um Estado completo, em suma.

E até lá o que se faz? Os muçulmanos devem manter seus ditadores?

No longo prazo, é preciso otimismo: as revoluções árabes levarão a democracias mais sólidas. Vejam-se a Tunísia ou o Marrocos. No Egito e na Líbia, o percurso é mais difícil. Mas é um erro pensar que esses países não têm os nossos mesmos sonhos de democracia. Para ver os resultados, os homens têm a mesma paciência da história.