A hipótese de o vazamento do poço da
Chevron no
Campo de Frade ter sido provocado pela ruptura parcial do reservatório de petróleo vem sendo analisada de maneira sigilosa pela
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ainda não há comprovação de que esse rompimento tenha ocorrido. Se for confirmado, porém, o vazamento poderá ter "proporções gigantescas", avalia a cúpula da agência.
A reportagem é de
Sérgio Torres e publicada pelo jornal
O Estado de S. Paulo, 23-11-2011.
A reserva quanto à divulgação da possibilidade se baseia na constatação de que, se o reservatório natural rompeu, não haverá meios de conter o vazamento com rapidez. A tentativa de contenção exigiria complexos trabalhos de engenharia, com equipamentos sofisticados operando a grandes profundidades. Nesse caso, o óleo tenderia a vazar na bacia petrolífera de Campos, onde fica o
Campo de Frade, por tempo indeterminado, ainda que em pequenas quantidades.
O que se conhece até agora, divulgado pela companhia norte-americana
Chevron, responsável pela exploração de
Frade, é que o óleo vaza por uma brecha na parede do poço.
Segundo a companhia norte-americana, a parede se rompeu por causa da pressão exercida pela lama injetada no poço, procedimento habitual na exploração de petróleo. O petróleo alcançou a superfície após, a partir do buraco, percorrer o subsolo marinho até encontrar fraturas geológicas que propiciaram o contato com o oceano.
A questão que mais tem afligido os técnicos e diretores da agência é a suspeita de que a lama injetada no poço também pode ter causado rompimentos na estrutura do reservatório de petróleo, cujas paredes têm tamanhos, formatos e espessuras diferentes. Há trechos porosos, de material menos consistente, mais suscetíveis a rupturas nos abalos de terreno.
Dentro do reservatório - uma espécie de grande cisterna formada no decorrer de milhões de anos - fica o petróleo, extraído por poços artificiais perfurados pelas empresas exploradoras (mais informações nesta página).
Fratura
Professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), o geólogo
Carlos Jorge Abreu considera viável a hipótese de ruptura de alguma estrutura do reservatório. Em tese, ele afirmou que pressões mal calculadas podem "fraturar o terreno, botando em conexão o reservatório de petróleo e o fundo do mar".
"Quando se põe uma pressão mais alta que a adequada, pode haver rompimento do reservatório. Estão falando muito de cementação do poço. Mas, se o poço foi cimentado e o óleo continua vazando, só pode ser por uma fratura do reservatório. Por vezes se aplica uma pressão maior que a estrutura suporta. A pressão alta pode matar um poço", afirmou o professor.
Para o oceanógrafo
David Zee, perito chamado pela Polícia Federal para atuar no inquérito, a hipótese de rompimento no reservatório é pouco provável, embora, em tese, possa acontecer na aplicação de pressões calculadas de maneira equivocada. "É possível acontecer algo do tipo, mas é muito difícil", observou o especialista.
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ANP investiga vazamento de óleo no subsolo, mais difícil de ser contido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU