Maior empresa de energia elétrica do mundo e sétima maior companhia listada entre as 500 maiores da
Fortune, a estatal chinesa
State Grid Brazil Holdings fez nova aquisição no país. Acaba de comprar, por R$ 205 milhões, um prédio inteiro e novo na avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. É mais um passo para a instalação da companhia que já investiu quase R$ 3,5 bilhões no país desde o ano passado. Os valores foram gastos na aquisição de sete empresas de transmissão de energia controlada pela Plena Transmissoras, das espanholas Elecnor, Isolux, Cobra e Abengoa por R$ 1,89 bilhão e a quitação de um empréstimo de R$ 1,338 bilhões junto ao
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A reportagem é de
Cláudia Schüffner e publicada pelo jornal
Valor, 11-10-2011.
Com a aquisição do prédio, do qual serão usados inicialmente apenas os cinco últimos andares, o investimento da
State Grid chega a R$ 3,433 bilhões. Mas isso pode ser só o começo.
Cai (pronuncia-se Tchai)
Hongxian, presidente executivo e do conselho de administração no Brasil, disse que o apetite pelo país não é passageiro.
O executivo, que deixou a China em 2010 para morar no Rio, tem interesse em disputar a concessão para construir o linhão que vai transmitir os 11.223 megawatts (MW) de energia que serão gerados pela
hidrelétrica Belo Monte para o resto do Brasil, mas não é só. Enquanto o mercado aguarda definição da
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sobre o desenho e outros detalhes técnicos dessa linha - que será leiloada em 2012 e ainda está em fase de projeto -, a State Grid busca parcerias. Ela tem interesse em sociedades com brasileiras (estatais e privadas) e internacionais para projetos de geração de qualquer fonte, seja hidrelétricas, eólicas, biomassa e solar. A busca por parceiros envolve projetos tanto no Brasil como em outros países da América Latina. Entre as empresas que já tiveram conversas com a chinesa,
Hongxian mencionou a Copel, AES, Cemig, Alupar, Eletronorte e o grupo Rede. Com a Eletrobras foi assinado memorando de entendimento para desenvolver projetos em conjunto. Com o
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) um memorando prevê troca de tecnologia e da filosofia de trabalho da
State Grid.
A aquisição do prédio é citado pelo presidente como uma demonstração de que o país está nos planos de longo prazo. "O Brasil está vivendo um boom econômico, vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas e, mais importante, é um grande mercado. Foi isso que atraiu nossa atenção. É um dos Brics", responde
Hongxian quando questionado sobre o porquê de o Brasil ser alvo da segunda incursão da
State Grid ao exterior desde que foi criada pelo governo chinês, em 2002. O primeiro foi as Filipinas, onde tem participação de 40% na empresa que opera a rede de transmissão no país, a
National Grid Corporation of Philippines.
Na entrevista, a primeira desde a chegada ao país, o executivo disse que são infundados os temores de desnacionalização da indústria de equipamentos com a entrada chinesa, e também se adianta dizendo que a empresa não tem planos de importar mão de obra barata da China. "Isso não existe. Sairia muito caro trazer pessoas e suas famílias para trabalhar aqui. Queremos brasileiros", disse
Hongxian. "Nós não viemos para arruinar a indústria de energia do Brasil. Queremos atuar com parceiros locais e trocar experiências. Ninguém precisa ficar preocupado."
Ele parece conhecer bem as preocupações que cercam a chegada de uma empresa integrada de energia controlada pelo governo chinês e que atende 80% da população do seu país com o espantoso número de 1 bilhão de consumidores (80% da população da China, incluindo o Tibet). A
State Grid tem números superlativos: emprega 1,5 milhão de trabalhadores, receitas de US$ 240,6 bilhões em 2010 e atua em 88% da China.
A capacidade de geração em dezembro de 2010 era de 962,19 gigawatts (GW) - oito vezes a capacidade brasileira, de 113,32 GW - e que desde 2002 cresce a espantosa taxa de 12,39% ao ano. Mas não é só. A
State Grid Corporation of China (SGCC) opera 618,8 mil quilômetros de linhas de transmissão, sendo que a maior delas, de 1.900 Km em linhas de 800 Kv de corrente contínua, não tem similar no Brasil. Em comparação com esses números, a
Eletrobras é uma empresa de médio porte.
Não são poucas as preocupações da concorrência por ter esse poderio chinês. Quando ela adquiriu a
Plena, em maio de 2010, alguns executivos ouvidos pelo Valor se disseram preocupados dada a facilidade de acesso da chinesa a capital de baixo custo e a equipamentos muito baratos fabricados em seu próprio país, sem falar no baixíssimo custo da mão de obra.
Hongxian conhece os temores. E fez questão de ressaltar durante as três horas de entrevista que não há o que temer. "Viemos para atuar com parcerias. A
State Grid é gigante na China mas no Brasil é uma novata. Não há o que temer."
E fez questão de explicar dois pontos que, a seu ver, precisam ser melhor entendidos sobre a empresa. "Não temos qualquer subsídio. O governo chinês não subsidia empresas no exterior. E ainda que subsidiárias de estatais, elas vão para os países para atuar de acordo com a legislação local e serem competitivas como qualquer outra, de igual para igual", disse.
Quanto à aquisição de equipamentos no país de origem, Hongxian afirma que a conta não é tão simples. "Na China (o equipamento) é mais barato que no Brasil. Mas em função de frete, tarifas alfandegárias e impostos, esses produtos se tornam não tão competitivos quanto seriam se estivessem em território chinês. Isso tudo está sendo estudado. Dependendo do produto, existem tarifas de 70% a 80% que eventualmente inviabilizam esse tipo de estratégia."
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Estatal chinesa planeja disputar transmissão de Belo Monte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU