12 Agosto 2011
Mesmo que tenha assegurado que o compromisso do governo é oferecer educação gratuita para 40% dos jovens mais vulneráveis, Piñera deixou claro que não pode ser para todos. Greve geral da central operária e mesa de diálogo no Congresso.
A reportagem é de Tomás Lukin e está publicada no jornal argentino Página/12, 12-08-2011. A tradução é do Cepat.
O movimento estudantil no Chile, que já está em seu terceiro mês de greves e tomadas, se caracteriza não apenas pelos chamativos protestos estudantis que incluíram uma paródia do vídeo Thriller de Michael Jackson – para anunciar que a educação está morta – ou divertidos cartazes contra o governo. Outra característica é a atenção concedida através das redes sociais ao conflito, em especial o Twitter, onde todos opinam, comentam e até insultam.
Um pomo de discórdia foi a frase anunciada ontem pelo presidente Sebastián Piñera. Ele afirmou que, embora tenha assegurado que o compromisso do governo é dar educação gratuita para 40% dos jovens mais vulneráveis, deixou claro que não pode estender esta política para todos.
"Todos gostaríamos que a educação, a saúde e a muitas outras coisas fossem gratuitas para todos, mas quero recordar que, no final das contas, nada é gratuito nesta vida, alguém tem que pagar; se déssemos educação gratuita para 20% dos mais favorecidos da nossa sociedade, o que estaríamos fazendo é que toda a sociedade, incluindo os mais pobres, com seus impostos, estariam financiando a educação dos mais ricos, e, portanto, quero fazer um apelo para deixarmos de lado as consignas e entrar a fundo no problema", disse durante a promulgação de uma lei sobre qualidade e igualdade da educação. Os comentários em 140 caracteres, mais contrários que favoráveis, se multiplicaram.
As críticas também vieram dos ex-presidentes da Concertación, especificamente de Ricardo Lagos e Eduardo Frei, que entraram de cheio na arena política. Também a CUT, a central operária chilena, que convocou uma greve geral de 48 horas para o dia 24 de agosto contra as políticas neoliberais do governo e chamou toda a categoria para aderir aos protestos estudantis programados para a próxima quinta-feira.
Entretanto, a apenas algumas quadras do Palácio de La Moneda, um grupo de encapuzados acendeu fogueiras e levantou barricadas. Fato que não apenas foi repelido pelos carabineiros, mas também repudiado pelos vizinhos do setor. Na Praça Itália, entretanto, a polícia evitou que outro grupo de manifestantes bloqueasse o trânsito. Isto em meio a uma convocação de análise, cultura e panelaço efetuada pelos líderes estudantis.
Segundo Camila Vallejo, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECH), a ideia da jornada foi sair às ruas para tornar públicas as demandas e as causas das tomadas de colégios e das greves. A dirigente entregou, além disso, ao Ministério do Interior cerca de 500 cartuchos de bombas de gás lacrimogêneo que foram jogadas na Universidade do Chile, na sede da FECH, no Liceu de Aplicação e no Instituto Nacional. Nesse lugar formaram o sinal da paz na entrada do La Moneda.
O governo disse que enviará diferentes iniciativas para que nessa instância se avance. "Se há uma iniciativa do Parlamento com um projeto de lei que seja a favor das propostas para melhorar a educação, achamos que é uma iniciativa e vamos discuti-la; caso isto não aconteça não estamos dispostos a instâncias de diálogo", precisou Camila Vallejo, nesse sentido.
"Fazemos um apelo ao Congresso para que demonstre, desta vez, que pode legislar em função das grandes maiorias e não com uma proposta não representativa", acrescentou, segundo consigno um matutino.
Camilo Ballesteros, presidente da Federação de Alunos da Universidade de Santiago, por sua vez, precisou que "não se descarta o fato de ir à instância parlamentar, mas em nenhum caso isto significa que será esse o caminho a ser tomado, apenas está em análise".
Junto a isso, a própria Camila Vallejo rechaçou uma eventual mediação da Igreja católica no conflito estudantil. "Nós não solicitamos nenhum tipo de mediação. A única solicitação partiu de um grupo reduzido de estudantes que não consultaram a grande maioria dos mobilizados. Nós não necessitamos de mediadores neste momento, menos ainda que seja a Igreja".
A Igreja chilena mediou em outras instâncias complexas, como greves de trabalhadores e as greves de fome de mapuches.
O que está claro é a convocação para uma nova marcha pela educação para o dia 18 de agosto e a participação na greve nacional dos trabalhadores nos dias 24 e 25 de agosto.
À tarde, na sede do governo, Piñera presidiu a primeira reunião do conselho dos ministros que se realiza após a reforma ministerial realizada já há quase um mês. Algumas horas mais tarde, já se podiam sentir outra vez os "panelaços" em protesto aos quais se somou uma "vigília" em apoio às manifestações estudantis.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Nada é de graça na vida de Piñera - Instituto Humanitas Unisinos - IHU