07 Agosto 2011
Um movimento que começou na Alemanha está ganhando, aos poucos, os corredores acadêmicos. A causa é nobre: mais tempo para os cientistas fazerem pesquisa.
 
 Quem encabeça a ideia é a organização "Slow Science", criada por cientistas gabaritados da Alemanha.
 
 A reportagem é de Sabine Righetti e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 08-08-2011.
 
 Aderir ao movimento significa não se render à produção desenfreada de artigos em revistas especializadas, que conta muitos pontos nos sistemas de avaliação de produção científica.
 
 Hoje, quem publica em revistas científicas muito lidas e mencionadas por outros cientistas consegue mais recursos para pesquisa.
 
 Por isso, os cientistas acabam centrando seu trabalho nos resultados (publicações).
 
 "Somos uma guerrilha de neurocientistas que luta para que o modelo midiático de produção científica seja revisto", disse o neurocientista Jonas Obleser, do Instituto Max Planck, um dos criadores do "Slow Science". 
 
 O grupo chegou a criar um manifesto, no final do ano passado, em que proclama: "Somos cientistas, não blogamos, não tuitamos, temos nosso tempo".
 
 "A ciência lenta sempre existiu ao longo de séculos. Agora, precisa de proteção."
 
 O documento está na porta da geladeira do laboratório do médico brasileiro Rachid Karam, que faz pós-doutorado na Universidade da Califórnia em San Diego.
 
 "O manifesto faz sentido. Temos de verificar os dados antes de tirarmos conclusões precipitadas", analisa.
 
 "A `Slow Science` nos daria tempo para analisar uma hipótese em profundidade e tirar conclusões acertadas."
 
 De acordo com Obleser, o número de cientistas simpatizantes do movimento está crescendo, "especialmente na América Latina".
 
 "Mas não é preciso se filiar formalmente. Basta imprimir o manifesto e montar guarda no seu departamento", diz.
 
 O Slow Science é um braço do já conhecido "Slow Food", que defende uma alimentação mais lenta e saudável, tanto no preparo quanto no consumo dos alimentos.
 
 Na ciência, a ideia é pregar a pesquisa que não se paute só pelo resultado rápido.
 
CETICISMO
 
 "É improvável que o ritmo de fazer pesquisa seja diminuído por meio de um acordo mundial em que cada cientista assume o compromisso de desacelerar seus trabalhos", diz o especialista em cientometria (medição da produtividade científica) Rogério Meneghini.
 
 Ele é coordenador científico do Projeto SciELO, que reúne publicações da América Latina com acesso livre.
 
 Para Meneghini, o "Slow Science" é um movimento "anêmico" num contexto em que a rapidez do fluxo de ideias e informações acelera as descobertas.
 
 "Parece uma reivindicação de um velho movimento com uma roupagem nova. É certamente a sensação de quem está perdendo as pernas para correr", conclui.
 
                         
                         
                        