06 Julho 2011
A única ópera que o francês Olivier Messaien (1908-1992) compôs, "São Francisco de Assis", é energia, amor e liberdade, uma “dose” de alegria que, com fundamentos de teologia sonora, iluminará a partir desta quarta-feira a espetacular cúpula “gótica” que o Teatro Real instalou na Casa de Campo.
A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 04-07-2011. A tradução é do Cepat.
O diretor artístico do Teatro Real, Gerard Mortier, encomendou, em 2007, ao casal de artistas russos Emilia e Ilya Kabakov, a construção de uma cúpula de 22 toneladas, de 13 metros de diâmetro por 14 de altura, para a estreia da montagem feita pela Trienal do Ruhr e eles, entusiasmados com o resultado, decidiram comprá-la.
Quando Mortier, que já havia encomendado em ocasiões anteriores no seu posto na Ópera de Paris, o Ruhr e Salzburgo, a outros diretores cênicos, chegou a Madri e quis recuperar essa produção, de quase seis horas de duração – incluídas as pausas –, e os Kabakov lhe cederam a cúpula.
Na terça-feira, eles; o diretor da orquestra, o francês Sylvain Cambreling; o protagonista, o solista espanhol Alejandro Marco-Burhmester e o coreógrafo encarregado da “disposição cênica”, Giuseppe Frigeni, explicaram os pormenores de uma ópera que teve que ser transferida para o ginásio esportivo Madrid Arena da Casa de Campo para que a abóboda e os 261 intérpretes coubessem no local.
“Sempre nos perguntam por que escolhemos a cúpula como símbolo, se é que somos religiosos. Não. É porque é um símbolo de elevação espiritual e cultural, capaz de concentrar sentimentos e esperanças. É uma ópera longa na qual não transcorrem muitas coisas, uma música difícil que tivemos que escutar oito vezes para compreender tudo o que ela contém”, explicou Emilia Kabakov.
As 1.400 lâmpadas fluorescentes que iluminam a cúpula mudam de cor ao som da música e das emoções dos personagens para combinar, “na mais pura escola russa”, “sensações e sons”.
“O mais importante das 4h30 de música e produção – apontou Cambreling – é a força que proporciona. Esse é o maior presente para o espectador”.
A música de Messiaen, detalhou Cambreling, que já dirigiu esta obra em outras 25 ocasiões, é “uma linguagem nova”, não é “nem tonal nem dodecafônica, é diferente, embora seja francesa no sentido de que se assemelha a Debussy ou Berlioz”.
Os pássaros – representados não apenas com os instrumentos de sopro, mas com a presença real – “têm uma grande importância” nesta composição, porque dão uma constante “impressão de alegria e de liberdade”.
“São Francisco de Assis” é também o gozo que produz a calma, a contemplação, “uma espécie de grande confiança na natureza, no homem e no amor”, acrescentou Cambreling, que irá reger a SWR, a Orquestra Sinfônica de Baden-Baden-Friburgo.
Frigeni explicou que ficou dois dias “descriptando”, com Cambreling, a música para “capturar” as frases, os motivos vitais, e traduzi-los em movimentos no cenário.
“Queríamos – precisou – que fosse tudo simplicidade, sem elementos que distraíssem ou obstruíssem esse caminho para a iluminação pessoal que é esta ópera”.
Nesse sentido, disse, “o espaço vertical” desenhado pelos Kabakov proporciona o túnel de luz que absorve o espectador, ao passo que o “horizontal”, na terra, os personagens se movem separadamente, criando diferentes focos cênicos para que o público possa “ler” a música como se se tratasse de um “ícone bizantino”.
O protagonista, nascido na Basileia em 1968 embora com passaporte espanhol, confessou que se trata de um “papel gigantíssimo”, com “um monte de palavras” em um idioma, o francês, que não domina: “me sinto como um computador sem memória suficiente”, brincou o artista, que Mortier teve que persuadir para que aceitasse, porque acreditava que era muito jovem para o papel.
“Estou muito contente por tê-lo convencido”, disse Mortier, que garante que a obra de Messiaen “é uma ópera de hoje, que transfigura, que muda a quem a escuta, enche de uma nova energia” que enfatiza a importância do espiritual frente ao consumismo.
As portas do Madrid Arena serão abertas nos cinco dias de representação às 16h30 para permitir que os 4.500 espectadores diários possam ver ali uma exposição sobre a “teologia sonora” do “sacerdote” Messiaen.
Para visualizar fragmentos da Ópera, veja o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=ZJuYkh772B0&feature=player_embedded
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Ópera "São Francisco de Assis’ é montada em Madri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU