A grande quantidade de projetos de engenharia para a Amazônia, além da urbanização acelerada da região, tem dificultado o trabalho dos arqueólogos que trabalham por lá. A avaliação é do pesquisador
Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP).
A reportagem é de
Amazônia.org.br, 16-06-2011.
Ele cita a construção de hidrelétricas - como as usinas de
Belo Monte, no Pará, e
Jirau, em Rondônia - a abertura de estradas - como a que ligará
Manaus (AM) e Porto Velho (RO) -, e conjuntos habitacionais.
Neves deu como exemplo um bairro na periferia de Manaus, construído sobre um sítio arqueológico, sem um estudo aprofundado.
"Na Amazônia, é o poder público que acaba sendo agente direto ou indireto da destruição do patrimônio arqueológico, na maioria das vezes por ignorância". Segundo o arqueólogo, a implantação de projetos na região ocorre em "ritmo vertiginoso".
Atualmente, são apenas 11 os cursos de graduação no país. Em São Paulo, a única forma de se tornar um especialista da área é por meio da pós-graduação. Além disso,
Neves conta que alguns estudantes, logo após a formação, abrem empresas de arqueologia e começam a emitir laudos, "sem maturidade" para a atividade.
Como todos os empreendimentos, por lei, precisam da emissão de um laudo arqueológico para a liberação das obras, a atividade tem sido atraente. "Quem pauta a pesquisa são os grandes projetos de engenharia. Em 2005, foram sete portarias para a permissão de sítios arqueológicos; em 2010, foram quase mil, e o número vai ser cada vez maior. Nunca tivemos tantos recursos e tanta gente trabalhando, mas ainda é pouco", diz o pesquisador do MAE.
"Em três anos, vamos perder uma área de estudo muito grande, pois não temos arqueólogos suficientes. Não dá pra fazer pesquisa de qualidade em um tempo tão curto".
Outro problema apontado por
Góes Neves é o destino de boa parte dos artefatos encontrados. "Há empresas que mandam [os artefatos] para museus afastados, como o de Agudos [interior de São Paulo], que não possuem estrutura. A lei está sendo cumprida, mas a pesquisa gerou conhecimento?", questiona.
Conhecimento
Ao contrário do que a maioria dos brasileiros imagina, a Amazônia é povoada há mais de 12 mil anos, com uma população relativamente numerosa para a época, com tradições e ritos definidos, organizações sociais complexas e diversidade cultural maior do que as dos indígenas que vivem atualmente no Brasil.
"No século XV, por exemplo, tinha mais gente no norte [do Brasil] do que no sul".
Góes Neves também mencionou relatos europeus da época, que contam sobre a grande quantidade de índios que viviam à beira do Rio Amazonas.
A
Ilha de Marajó é um dos locais mais estudados pela arqueologia da região. Lá, encontram-se aterros onde os nativos enterravam seus mortos, em urnas com desenhos complexos e alta quantidade de signos, e com formatos predominantemente antropomorfos.
O pesquisador explica que a região foi esvaziada demograficamente devido ao contato com os europeus, a partir do século XVI. "Os povos americanos domesticaram muitas plantas, mas não tinham animais domésticos. Já os europeus, criavam porcos, galinhas, e esta proximidade deu resistência a doenças que os índios não tinham contato".
Assim, as áreas que eram anteriormente ocupadas pelos indígenas foram retomadas pela mata. "Muito do que nós chamamos de mata virgem tem cerca de 500 anos de vida".
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Ritmo vertiginoso de projetos coloca em risco arqueologia na Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU