A aprovação do
Código Florestal na Câmara, os assassinatos na Amazônia e o licenciamento de
Belo Monte põem na berlinda a liderança ambiental internacional do Brasil. A opinião é de
Stephen Schwartzman, 59, o homem que introduziu
Chico Mendes e
Marina Silva ao movimento ambientalista.
Schwartzman disse que a liderança alcançada pelo Brasil no debate internacional de mudanças climáticas e florestas "não repercutiu no Congresso", e que a imagem do país-sede da
Rio +20, no ano que vem, fica prejudicada.
A entrevista é de
Cláudio Angelo e publicada pelo jornal
Folha de S. Paulo, 16-06-2011.
Eis a entrevista.
O sr. publicou um texto intitulado "O Que Há de Errado com o Brasil?", sobre os acontecimentos recentes na área ambiental. O que há de errado?
Tenho a impressão de que a reforma do
Código Florestal que passou na Câmara foi feita às pressas e sem fundamento técnico-científico.
Dentro do Congresso, as pessoas também pareciam não entender a dimensão da liderança internacional do Brasil na questão ambiental, pelo desempenho do plano nacional de prevenção e controle do desmatamento.
O sr. também menciona os assassinatos em Rondônia e no Pará como fatores que lembram a Amazônia dos anos 1980. Mas muita coisa mudou de lá para cá, não?
A coisa mais marcante é exatamente como pode acontecer uma coisa dessas depois de tanta mudança.
Quando
Chico Mendes foi assassinado, em 1988, a expectativa geral era de impunidade para o crime.
Depois que houve casos marcantes como o dele e o da
irmã Dorothy, o governo achou necessário investigar e dar uma resposta.
Não podemos dizer que o problema parou. Mas é mais chocante porque a expectativa era de que esse tipo de coisa não era mais lugar-comum. Parece uma coisa anacrônica. É crucial que o governo responda à altura.
Houve uma falsa impressão de que o desmatamento estava controlado nos últimos anos?
Há muito tempo a gente vem falando que o programa de controle do desmatamento, que é um fato histórico, foi feito em cima de instrumentos de comando e controle, principalmente pela criação das novas áreas protegidas.
Porém, os incentivos positivos para valorizar a floresta ficaram para trás. E coincidiu com uma época de preços baixos das commodities, e quando eles voltassem a subir as pressões voltariam.
Como o sr. encara a crítica da bancada ruralista de que o ambientalismo é movido por interesses internacionais que querem acabar com a competitividade conquistada pela agricultura brasileira?
Esse argumento ignora fatos econômicos importantes. Cada vez mais, os mercados internacionais estão exigindo qualidade ambiental dos seus produtos. Isso significa que quem tem uma legislação ambiental avançada cada vez mais tem vantagens.
Num mundo de 7 bilhões de pessoas, indo para 10 bilhões, onde há uma necessidade premente de aumentar a produção de comida, esse tipo de possibilidade de aumentar a produção em bases sustentáveis será uma vantagem cada vez maior.
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Mortes de ativistas e volta do desmatamento e o retorno aos anos 1980 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU