16 Mai 2011
O Palácio do Planalto montou uma operação para blindar o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, acusado de multiplicar o próprio patrimônio por 20 num período de quatro anos. A estratégia contou com uma espécie de "nada consta" pronunciado pela Comissão de Ética Pública da Presidência e enfáticas declarações de apoio palacianas, apesar de algumas vozes isoladas dentro do próprio PT terem defendido que Palocci torne pública a declaração de Imposto de Renda para dissipar as dúvidas sobre seu patrimônio.
A reportagem é de Vera Rosa, Tânia Monteiro, Eduardo Bresciani e Daiene Cardoso e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 17-05-2011.
Em reunião com a coordenação do governo, ontem de manhã, a presidente Dilma Rousseff disse que a denúncia faz parte de um jogo político para desestabilizar o início da gestão. "Isso é guerra política, mas não tem como prosperar", afirmou, segundo relatos de dois ministros presentes à reunião - o próprio Palocci estava presente.
De qualquer forma, enquanto a oposição e até alguns petistas cobravam explicações públicas do ministro, o governo formou um cordão de proteção em torno do braço direito de Dilma.
Nas fileiras do PT, no entanto, não houve defesa incondicional de Palocci. Os senadores Walter Pinheiro (BA) e Eduardo Suplicy (SP) disseram esperar que o ministro dê mais detalhes sobre sua atuação empresarial, que teria lhe garantido os rendimentos para adquirir em 2010, num bairro nobre de São Paulo, um apartamento de R$ 6,6 milhões. Um ano antes, ele havia adquirido um escritório por R$ 882 mil.
Os imóveis, segundo revelou o jornal Folha de S. Paulo, foram comprados pela empresa de consultoria Projeto, da qual o ministro tinha 99,9% do capital. Em 2006, quando concorreu a deputado, Palocci declarou patrimônio de R$ 375 mil.
"Se ele tem os documentos, o material que diz ter, então deve divulgar e acabar logo com isso", observou Pinheiro. "A gente é que tem de se antecipar e mostrar tudo, até porque esse terreno é propício à ilação. Não vejo crime em se divulgar essas informações", acrescentou. Na mesma linha, Suplicy disse que, pela atuação de Palocci na campanha de Dilma, "será melhor se a explicação vier mais completa".
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que o partido confia no ministro e que todos os esclarecimentos já foram prestados. "Nada mais há a dizer sobre esse tema, que está suficientemente esclarecido."
"Pinheiro e Suplicy são vozes isoladas no PT, que repercutem a oposição", avaliou o deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação da legenda. "Palocci deve explicações como qualquer homem público, mas não acho que seja o caso de abrir as suas contas. Por acaso os ministros do Fernando Henrique que coordenaram as privatizações e viraram banqueiros abriram as deles?"
Ênfase
No Planalto, o presidente da Comissão de Ética, José Paulo Sepúlveda Pertence, e o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, fizeram a defesa mais enfática em favor do ministro.
Sepúlveda Pertence disse que Palocci o procurou, em dezembro, para saber se não haveria conflito de interesse em assumir a Casa Civil sendo proprietário da consultoria Projeto. Foi o próprio Pertence quem o orientou a mudar o contrato da empresa, reduzindo-a a uma administradora de imóveis. Palocci, então, contratou um banco para administrar seu patrimônio.
"Ele nos perguntou se a fórmula nova da empresa era adequada e nós entendemos que sim", argumentou Pertence.
O assunto ocupou ontem a primeira parte da reunião de três horas e meia da Comissão de Ética da Presidência. De acordo com Pertence, porém, nada há a investigar. "Não nos cabe indagar a história da fortuna dos pobres e dos ricos que se tornaram ministro", insistiu ele.
Para Gilberto Carvalho, não há problema com Palocci, definido como "peça fundamental". "Do ponto de vista do governo, não há reparo a fazer. Agora, ele tem vida pessoal. Antes, era deputado federal, desenvolvia outras funções e não cabe a nós discutir isso", comentou Carvalho. "A presidente Dilma convidou Palocci para ser seu ministro e o que interessa é o comportamento dele nesse período, se ele vai ou não auferir bens de maneira legítima dentro do governo. É isso que interessa. Não cabe ao governo fazer investigação sobre o passado, salvo, naturalmente, a postura ética que cada um dos ministros teve ao longo da vida."
No fim do dia, após reuniões para medir a temperatura da crise, a avaliação no Planalto era de que o assunto estava "encerrado" e só será "requentado" se a oposição convocar Palocci para depor. À noite, o ministro conversou com Dilma, sozinho, no Alvorada. O tête-à-tête durou uma hora e meia.
PARA LEMBRAR
Palocci na mira
2005
Caso Leão Leão
Em 2005, Palocci viu seu nome envolvido no escândalo que ficou conhecido como "Máfia do Lixo". Na época, o advogado Rogério Buratti acusou Palocci de receber - entre 2001 e 2002 quando era prefeito de Ribeirão Preto - uma propina mensal de R$ 50 mil da empresa Leão Leão, responsável pela coleta de lixo na cidade.
2005
Mensalão
O ex-deputado Roberto Jefferson denunciou que o governo federal pagava uma mesada para os parlamentares da base aliada em troca de apoio em votações. Segundo Jefferson, os então ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, José Dirceu, foram informados sobre o esquema, mas nada teriam feito.
2006
Caso do caseiro
Palocci não foi réu no caso do mensalão, mas no ano seguinte teve de deixar o governo depois do escândalo envolvendo a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. O caseiro afirmou que uma mansão no Lago Sul era usada por assessores de Palocci para negociações suspeitas.
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Palácio blinda Palocci, mas até petistas pedem que ministro comprove a renda - Instituto Humanitas Unisinos - IHU