04 Janeiro 2011
Se é verdade que a única coisa pior do que publicidade negativa é a não publicidade, então 2010 foi um ano excepcional para o Vaticano. Ele começou com uma crise dos abusos sexuais na Irlanda, que varreria toda a Europa e colocaria a história pessoal de Bento XVI no centro das atenções, e terminou com um frenesi em torno dos comentários do Papa sobre o preservativo e vários esforços do Vaticano para explicar o que Bento quis e não quis dizer.
A análise é de John L. Allen Jr., publicada no sítio National Catholic Reporter, 31-12-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A Religion Newswriters Association, composta por repórteres veteranos dos Estados Unidos, classificou a crise dos abusos sexuais como a terceira maior notícia sobre religião do ano, atrás da polêmica em torno da mesquita de Nova York e dos esforços religiosos de ajuda ao Haiti. Isso é relevante, já que a crise de 2010 não foi nem sequer uma notícia primeiramente norte-americana.
Na verdade, a notícia do ano não foi de todo ruim para a Santa Sé. Indiscutivelmente, o destaque de 2010 do ponto de vista do Papa veio em setembro, quando sua improvável viagem triunfal ao Reino Unido também atraiu um amplo interesse internacional.
Como sempre acontece quando algumas narrativas maciças dominam a cobertura jornalística, outras histórias tendem a vazar através das rachaduras. Com isso, eis a minha contagem regressiva anual dos "Cinco Fatos do Vaticano Menos Noticiados do Ano" – cinco histórias com importantes implicações para o Vaticano e para a forma como ele pensa o mundo, que não receberam a atenção que mereciam.
5. O caso Boffo
O que os italianos chamam de giallo – que significa literalmente "amarelo", mas é usado para se referir a um mistério – envolvendo o jornalista católico italiano Dino Boffo eclodiu pela primeira vez em 2009. Enfrentando acusações de ter assediado uma mulher por querer ter um caso homossexual com seu amante, Boffo renunciou ao cargo de editor do L`Avvenire, o jornal dos bispos italianos, em setembro de 2009. Boffo negou as acusações, mas disse que renunciou para poupar os bispos do embaraço.
Em meados de janeiro de 2010, o caso reacendeu após revelações de que um suposto documento da polícia sobre Boffo era uma farsa. Surgiram especulações na imprensa italiana sobre quem estava por trás disso, que se cristalizaram na seguinte hipótese: o secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Tarcisio Bertone, queria se livrar de Boffo porque ele estava associado com o cardeal Camillo Ruini, o ex-presidente dos bispos italianos e rival de Bertone pela primazia na Itália. Bertone supostamente atraiu o editor do jornal do Vaticano e o responsável pelos policiais do Vaticano para a trama. Um documento falso foi redigido e passado para aliados da imprensa secular, que passaram a denegrir Boffo e a garantir sua renúncia.
Na realidade, essa reconstrução jamais passou pelo "teste do cheiro" – para começar, a Secretaria de Estado tem formas muito menos complicadas para demitir o editor do L`Avvenire –, mas cativou o país durante um total de 18 dias antes que o Vaticano fizesse qualquer comentário. Sob o pretexto de que o silêncio significa consentimento, muitos italianos concluíram que tudo devia ser verdade. Quando o porta-voz do Vaticano foi finalmente autorizado a rejeitar as acusações, um jornal italiano trouxe a seguinte manchete, que pareceu captar o momento: "Vaticano nega tudo. Ninguém acredita".
Além de exercer uma espécie de fascínio macabro, como descarrilamentos e os acidentes da Nascar, o caso Boffo confirmou que o Vaticano continua sendo extremamente lento e ambivalente com relação à dinâmica da opinião pública do século XXI. Especialmente entre os italianos, o fato de que o Vaticano deixou o caso Boffo sair tão fora do controle também cimentou impressões de uma crise de governo com Bertone. Reparar essa crise pode figurar com proeminência na lista de "coisas a fazer" de muitos cardeais da próxima vez que se reunirem para eleger um Papa.
Como nota de rodapé, Boffo foi mais ou menos reabilitado. Em outubro, ele foi nomeado diretor da TV2000, a rede de televisão oficial dos bispos italianos.
4. Escândalos na Propaganda Fide e no Banco do Vaticano
Em 2010, duas veneráveis instituições do Vaticano, a Congregação para a Evangelização dos Povos (o departamento para a atividade missionária ainda conhecido pelo seu antigo nome, Propaganda Fide) e o Instituto para as Obras da Religião (popularmente chamado de Banco do Vaticano), enfrentaram acusações de crimes financeiros.
Durante séculos, a Propaganda Fide foi um império financeiro só para si mesmo, possuindo enormes quantias de imóveis valiosos e gerindo grandes contas bancárias, a fim de financiar as missões no exterior. O cardeal-prefeito é informalmente apelidado de "Papa vermelho", uma referência ao poder e à influência que esses recursos geram. (O jornal italiano Libero estimou o valor de mercado das propriedades imobiliárias da congregação, que alegadamente incluem 761 edifícios, 445 conjuntos de terrenos e 2.325 apartamentos, em aproximadamente 1,7 bilhão de dólares.) Muitos observadores acreditam há muito tempo que a riqueza da Propaganda Fide, juntamente com a sua autonomia quase total, tornou-a propícia para um escândalo financeiro, e 2010 acabou sendo o ano em que isso aconteceu.
Em junho, procuradores italianos anunciaram que o cardeal italiano Crescenzio Sepe, de Nápoles, que dirigiu a Propaganda Fide entre 2001 e 2006, era o alvo de uma investigação anticorrupção. A teoria é de que Sepe fez aos políticos italianos ofertas extremamente favoráveis de apartamentos, ao mesmo tempo em que milhões de euros em fundos estatais foram alocados para projetos de reformas da Propaganda Fide, incluindo a sua sede na Piazza di Spagna, em Roma. Com efeito, a sugestão é de que Sepe subornou funcionários públicos para financiar o trabalho que, em alguns casos, nunca foi concluído.
Uma investigação por parte dos Ministério Público italiano está em curso. Sepe declarou a sua inocência, dizendo: "Eu agi unicamente pelo bem da Igreja".
No Banco do Vaticano, entretanto, 30 milhões de dólares em bens foram apreendidos pelas autoridades civis em setembro por violações das leis europeias antilavagem de dinheiro. Embora os funcionários do banco descreveram o caso como um "mal entendido", documentos judiciais recentemente divulgados indicam que os promotores suspeitam que os membros do clero com contas no banco podem estar envolvidos na lavagem de dinheiro para empresários corruptos e até mesmo para a máfia italiana. Um documento apresentado pelo Ministério Público em novembro afirma que, enquanto o banco manifestou uma "vontade genérica" a se conformar com as normas internacionais, "não há nenhum sinal de que as instituições da Igreja Católica estão se movendo nessa direção".
Em um esforço para combater essas impressões, o Vaticano anunciou a criação de um órgão de controle financeiro, a Autoridade para a Informação Financeira, para supervisionar todas as operações, incluindo as do Banco do Vaticano. Bento XVI publicou um motu proprio, um documento jurídico, criando a nova autoridade, que foi projetada para colocar o Vaticano em conformidade com as normas internacionais contra a lavagem de dinheiro, o financiamento do terrorismo, o comércio ilegal e o abuso de mercado. A nova autoridade supostamente será chefiada pelo cardeal Attilio Nicora, um perito financeiro que negociou a revisão de 1984 da concordata entre o Vaticano e a Itália.
O presidente leigo do Banco do Vaticano, o economista italiano Ettore Gotti Tedeschi, manifestou repetidamente o seu compromisso com a transparência. Na verdade, a maioria dos observadores do Vaticano viram a sua nomeação em 2009 como um sinal de que Bento XVI quer uma glasnost nas finanças do Vaticano.
Tanto a Propaganda Fide quanto os escândalos do Banco do Vaticano ilustram dois pontos gerais.
Primeiro, a era da ampla deferência civil à autoridade eclesiástica acabou. Nestes dias, a polícia e os promotores não estão nada relutantes para pôr a Igreja na mira, um ponto também exemplificado em junho pelas blitzes policiais contra a Igreja Católica na Bélgica como parte de uma investigação sobre abuso sexual, que incluiu a abertura de furos nos túmulos de dois ex-arcebispos de Bruxelas.
Em segundo lugar, o Vaticano se encontra encurralado no que se refere à cooperação com as autoridades seculares. Por um lado, ele enfrenta um mundo do século XXI, em que o Vaticano deve ser responsável perante a lei, assim como qualquer outra instituição. Por outro lado, ele tem uma cultura interna moldada por séculos de luta para resistir à interferência civil e um ethos evangélico resistente a ser cooptado pelo secularismo. Algumas vozes antigas do Vaticano são céticas em relação à glasnost de Gotti Tedeschi, precisamente pelo fato de correr o risco de renunciar à independência pela qual os Papas, nos séculos anteriores, lutaram tão poderosamente. Essa dinâmica do encurralamento parece augurar mais batalhas Igreja-Estado pela frente.
Finalmente, também é provável que a erupção desses escândalos financeiros aumente a pressão pelo bom governo na Igreja, não só no Vaticano, mas também nas dioceses, paróquias e outras instituições católicas ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, grupos como o Leadership Roundtable on Church Management tem uma nova carta para usar em suas conversas com os bispos e pastores: "Vocês querem ser o próximo Sepe?".
3. A Europa e o Crucifixo
Por falar em batalhas Igreja-Estado, em novembro, o a Corte Europeia dos Direitos Humanos determinou que a exposição de crucifixos nas escolas públicas italianas é uma violação da "neutralidade confessional" e ordenou que o governo italiano pague 6.500 dólares por danos pessoais para uma mãe que apresentou sua denúncia. Se confirmada na apelação, a decisão pode estabelecer um amplo antecedente europeu contra a exposição de símbolos religiosos (principalmente, para ser honesto, cristãos) nos espaços públicos.
A decisão encontrou ampla oposição na Itália, onde o crucifixo é geralmente visto como um símbolo da identidade nacional. Também alimentou o ressentimento com relação aos burocratas europeus sem rosto que impõem sua vontade aos Estados membros. A Itália apresentou um recurso, ao qual se somaram Armênia, Bulgária, Chipre, Grécia, Lituânia, Malta, Mônaco, Romênia, Rússia e San Marino. A decisão final é esperada para o início de 2011, embora os observadores alertam contra a espera de uma reversão dramática, uma vez que muitos dos mesmos juízes da primeira rodada também estarão sentados no tribunal da segunda instância.
Do ponto de vista do Vaticano, o caso do crucifixo cimentou duas impressões gerais.
Primeiro, reforçou a convicção de que a União Europeia está nas garras de um secularismo desgovernado e hostil à Igreja Católica. Dentre outras coisas, isso acelerou o desaparecimento do antigo antiamericanismo no Vaticano. Hoje, as autoridades mais antigas do Vaticano, incluindo o próprio Papa Bento XVI, olham ansiosamente para aquilo que consideram como uma cultura mais amigável à religião nos Estados Unidos.
Em segundo lugar, contribuiu para a transição do diálogo"inter-religioso" ao diálogo "intercultural" como o principal modelo para o engajamento com as outras religiões. A ideia é de que, enquanto as diversas religiões não podem chegar a um acordo teológico, elas enfrentam muitas das mesmas pressões sociais, culturais e políticas, especialmente com relação aos esforços seculares para levar a religião para fora da praça pública.
Por falar nisso, o advogado que representa o Vaticano na Corte Europeia dos Direitos Humanos é na verdade judeu: Joseph Weiler, que nasceu na África do Sul e que agora leciona na Faculdade de Direito da Universidade de Nova York.
2. O Sínodo para o Oriente Médio
Sabe-se que os sínodos dos bispos raramente fornecem elementos para um grande drama. De certa forma, o Sínodo dos dias 1º a 24 de outubro para o Oriente Médio foi um desses casos. A assembleia produziu 44 proposições, uma mensagem final de 5 mil palavras e uma onda de discursos, sem nenhum impacto significativo sobre a situação em questão. Os cristãos eram uma espécie em extinção no Oriente Médio antes de os bispos se reunirem em Roma, e assim se mantiveram depois.
De fato, o único desenvolvimento com alguma coisa que fomentasse uma notícia foi realmente uma distração. Em uma coletiva de imprensa de conclusão, um arcebispo greco-melquita de Massachusetts disse aos repórteres que Cristo tinha "anulado" o conceito de Israel como uma "terra prometida" para os judeus, provocando acusações de antissemitismo teológico e político. Embora esses comentários tenham rendido uma boa notícia, eles dificilmente representam o impulso dominante da discussão.
Como resultado, o sínodo foi em grande parte uma oportunidade perdida para contar a história cristã mais dramática em qualquer lugar do mundo. No Oriente Médio, os cristãos sofreram uma diminuição dos 20% da população há um século para talvez 5% hoje. No entanto, eles estão tentando desesperadamente superar esse desafio. Seu grande sonho é catalisar uma revolução democrática em toda a região – pressionando Israel para uma melhor integração com a minoria árabe e pressionando as sociedades islâmicas a fazer as pazes com a modernidade. É uma visão que une os católicos com uma miscelânea ecumênica de outros cristãos, sem mencionar os muçulmanos e judeus que pensam de forma semelhante.
Se essa visão falhar, não só o cristianismo irá correr o risco de extinção na terra do seu nascimento, mas também a ponte humana mais natural entre o Ocidente e o mundo muçulmano entrará em colapso.
O sínodo, de fato, gerou algumas ideias interessantes com relação a esse grande sonho. Eles incluíram formas concretas para superar as tradicionais lutas internas entre os sete ritos católicos do Oriente Médio (armênio, caldeu, copta, latino, maronita, melquita e sírio), capacitando os patriarcas locais e fortalecendo os laços entre os cristãos locais e suas comunidades da diáspora no exterior. Os bispos do Oriente Médio, normalmente conhecidos por uma abordagem suave com relação ao Islã, também flertaram com uma linha mais realista, pressionando para além da fase de diálogo "chá e biscoitos" para a conversa franca sobre pluralismo, reciprocidade e os perigos da islamização.
Conclusão: se há alguma comunidade cristã no planeta que mereça a preocupação dos católicos no Ocidente, especialmente na América, dada a influência dos Estados Unidos na região, é a comunidade do Oriente Médio. Uma oportunidade para construir essa consciência foi desperdiçada durante o ano, dado que o sínodo voou abaixo do radar até o final e depois chamou a atenção apenas para um show à parte.
1. Cristianofobia
Estritamente falando, "cristianofobia", referindo-se à intolerância e à perseguição anticristãs em todo o mundo, não é realmente um fato do Vaticano. Acima de tudo, os 108 hectares da cidade-Estado do Vaticano são provavelmente o território mais seguro do planeta para os cristãos. Mas o que muitos especialistas consideram como uma crescente onda global de espírito anticristão carrega consequências enormes e muitas vezes subavaliadas para as prioridades do Vaticano e para a forma como ele pensa o mundo.
O termo "cristofobia" foi cunhado por Weiler para se referir à crescente marginalização dos cristãos na Europa secular. Modificado para "cristianofobia", o termo entrou no léxico europeu em 2004, quando o político italiano Rocco Buttiglione foi banido pela Comissão Europeia de Justiça devido às suas opiniões católicas ortodoxas sobre o aborto e a homossexualidade. A Comissão dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas reconhece agora "o antissemitismo, a islamofobia e a cristianofobia" como formas de intolerância religiosa.
Desde então, a "cristianofobia" se tornou um conceito mais amplo, referindo-se à opressão anticristã onde quer que ela ocorra, incluindo suas formas violentas – e, em todo o mundo, ela ocorre com uma frequência impressionante.
A Ajuda à Igreja que Sofre, agência de ajuda católica com sede na Alemanha, produz um relatório anual muito confiável sobre as ameaças globais à liberdade religiosa. Ele estima que entre 75% e 85% de todos os atos de perseguição religiosa são dirigidas contra os cristãos. Em um relatório ao Parlamento Europeu de novembro, o Pew Forum on Religion and Public Life disse que, enquanto os muçulmanos e os judeus enfrentam uma perseguição significativa, "os cristãos enfrentaram algum tipo de ataque em dois terços de todos os países", ou seja, 133 Estados.
Essas estatísticas são concretizadas por manchetes quase diariamente.
Apenas no último período de Natal, inúmeras missas católicas foram canceladas no Iraque devido às ameaças de grupos extremistas. Desde a primeira Guerra do Golfo em 1991, o Iraque perdeu dois terços do que foi outrora uma das maiores populações cristãs no Oriente Médio. Na China, a nova repressão sobre a Igreja está em pleno andamento, já que o governo orquestrou eleições para uma conferência episcopal e uma assembleia de católicos calculadas para preservar o controle estatal. Alguns clérigos foram levados para essas eleições praticamente com uma arma apontada para eles.
No Vietnã, um bispo católico foi proibido de celebrar missa de Natal na região montanhosa do país, supostamente por causa do seu sucesso na conversão dos montanheses, um aglomerado de grupos étnicos geralmente estigmatizados e vistos como potenciais ameaças por outros vietnamitas. Nas Filipinas, extremistas muçulmanos atacaram uma capela católica na ilha de Jolo, no dia de Natal. Foi apenas o mais recente ataque em Jolo, onde uma bomba explodiu no interior da catedral local em julho de 2009, matando seis pessoas e ferindo 40. Na Nigéria, os confrontos entre cristãos e muçulmanos no norte da cidade de Jos, no período de Natal, teria deixado pelo menos 80 mortos.
A cristianofobia está em ascensão por inúmeras razões. Parte do problema é pura matemática: há 2,3 bilhões de cristãos no mundo, o maior seguimento de qualquer religião. Assim, em termos de números brutos não são cristãos simplesmente mais para oprimir. Isso é especialmente verdade dado que o centro de gravidade do cristianismo muda para o mundo em desenvolvimento, onde a democracia e o Estado de direito, às vezes, destacam-se pela sua ausência.
Por causa da associação histórica entre cristianismo e o Ocidente, os cristãos são muitas vezes alvos convenientes para os indivíduos e grupos que expressam ódio antiocidental. Em alguns casos, também, a lógica é primorosamente local. Na Índia, uma parcela desproporcional de cristãos convertidos vêm da comunidade dalit, "intocável". Por isso, muitas vezes é difícil distinguir especificamente a perseguição cristã do antigo preconceito entre castas. (Uma observação semelhante pode ser feita acerca dos montanheses do Vietnã).
Um aumento no movimento anticristão molda as atitudes do Vaticano de três formas.
Primeiro, ele consome uma parte crescente de tempo e atenção. Para explicar por que o Vaticano não está em uma posição total, completa e fechada sobre a crise dos abusos sexuais, a escassez de padres, o debate sobre o sistema de saúde nos Estados Unidos, ou qualquer que seja o problema do dia, parte da lógica é diretamente Maslow: quando há uma ameaça perceptível à sobrevivência, é difícil avançar para objetivos de ordem superior.
Em segundo lugar, ele se tornou um prisma através do qual os funcionários do Vaticano veem todo o resto. Por exemplo, se você quer saber por que o Papa Bento XVI não impôs uma política global uniforme de cooperação com as autoridades civis nos casos de abuso sexual, é em parte porque essa exigência seria uma sentença de morte em algumas partes do mundo onde a polícia e os procuradores estão abertamente prontos para capturar a Igreja.
Em terceiro lugar, a cristianofobia é a principal razão pela qual a reciprocidade e a liberdade religiosas têm reivindicado um lugar de destaque entre as prioridades geopolíticas do Vaticano. Nos últimos anos, diplomatas creditados junto à Santa Sé dizem que seus homólogos no Vaticano parecem estar concentrados como um raio laser sobre a liberdade religiosa, algumas vezes levando-os a abrandar em outras frentes, tais como os esforços de combate à pobreza, de resolução de conflitos etc. Isso tem sido uma fonte de preocupação nos círculos diplomáticos e às vezes é percebido como parte da crise de governo com Bertone. No entanto, isso também está relacionado com o que foi dito acima: quando percebe-se que a sobrevivência está em risco, pelo menos em algumas partes do mundo, ela tende a encobrir as outras prioridades.
Embora os incidentes anticristãos muitas vezes tenham atraído uma ampla cobertura em 2010, o âmbito do fenômeno e seu impacto na psicologia do Vaticano foram muitas vezes deixados de lado.
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Os fatos do Vaticano menos noticiados em 2010 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU