29 Novembro 2012
Muitas vezes se falou dos Padres conciliares – com justiça, alguns recordaram também a presença das "mães", ou seja, das mulheres auditoras –, mas sabemos que acima de tudo tiveram um papel determinantes os teólogos (e teólogas) que, na qualidade de especialistas, forneceram as bases necessárias para fundamentar as decisões e os documentos relacionados.
A reportagem é de Maria Teresa Pontara Pederiva, publicada no sítio Vatican Insider, 26-11-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na foto ao lado, vemos os teólogos Karl Rahner e Joseph Ratzinger, ambos peritos do Concílio Vaticano II.
No dia 22 de novembro, em Trento, o teólogo Rosino Gibellini, diretor editorial emérito da editora Queriniana e diretor da revista Concilium, participou do Congresso da Fundação Bruno Kessler "Coragem, coragem: avante, avante! A 50 anos do Concílio Vaticano II". Entre os oradores, também estavam Alberto Bondolfi, diretor do Centro de Ciências Religiosas, Paolo Ricca, Armido Rizzi e Sandra Mazzolini.
"Não só os teólogos anteciparam com a sua reflexão e com as suas obras temas do futuro Concílio, a partir da 'germinação dos anos 1930' (como chama Chenu), mas estiveram presentes e participaram no Concílio como teólogos conciliares", disse o padre Gibellini.
Um "serviço essencialmente escondido", como definiu Karl Rahner. Um historiador, falando da sua contribuição, escreve: "Se forem explorados os arquivos, buscando contribuições escritas durante o Concílio, não se encontra um único texto redigido por Rahner 'sozinho'".
"Eles deram ao Concílio uma contribuição constante, eficaz, desinteressada e sem alarde", escreve o historiador Caprile na revista La Civiltà Cattolica em 1965. "Sobre as suas costas pesava a laboriosa tarefa da redação, revisão, correção e reelaboração dos textos...".
Mas como se tornava um "teólogo do Concílio"? "Havia um regulamento, mesmo que imperfeito, mas tornava-se 'perito' por chamado direta do papa ou do presidente da comissão, ou também somente pelo chamado de um Padre do Concílio, que inseria o teólogo na sua comissão, com a confirmação do papa. Nesse sentido, lembra-se o cardeal de Colônia, Frings, acompanhado pelo perito Joseph Ratzinger; o cardeal de Viena, König, com o perito Karl Rahner; o cardeal de Milão, Montini, com o perito Carlo Colombo".
O seu número aumentou ao longo das sessões conciliares: no início, em 1962, haviam sido chamados 201 peritos que; em abril de 1963, antes da segunda sessão, o seu número subira para 348, enquanto que, se se percorrer a lista dos Autos, leem-se 480 nomes.
Não faltavam já à época alguns que assinalavam o risco da influência dos teólogos sobre os bispos, mas Gibellini prefere enfatizar que o entusiasmo do Concílio favoreceu, ao invés, "uma colaboração efetiva entre bispos e teólogos, que não precisou de uma teorização".
Surge agora a interrogação sobre uma "teologia magisterial" (como sancionado pelo parágrafo 22 da Dei Verbum) ou uma liberdade de pesquisa (ciência crítica) própria da teologia, assim como qualquer outra disciplina.
Significativo foi o comentário do então perito Ratzinger a esse respeito: "O texto que naquele dia foi solenemente proclamado pelo papa traz naturalmente os traços da sua sofrida história e é expressão de inúmeros compromissos. Porém, o compromisso de fundo que o apoia é mais do que um compromisso, é uma síntese de grande relevo: o texto conecta a fidelidade à tradição eclesial com o consentimento da ciência crítica e, assim, descerra desse modo, de uma nova maneira, o caminho para a fé no mundo de hoje. Ele não renuncia a Trento e ao Vaticano I, mas também não mumifica o que aconteceu então, pois é consciente de que a fidelidade nas coisas espirituais só é realizável mediante uma assimilação sempre nova. Olhando para o conjunto do resultado alcançado pode-se, portanto, sem reservas, afirmar que o esforço daquela disputa que durou quatro anos não foi em vão".
Aqui se constata – explica Gibellini – que o documento sobre a Revelação (e em geral os documentos conciliares) são o fruto de um compromisso, que é síntese de três instâncias: fidelidade à tradição eclesial, reconhecimento da teologia como ciência crítica, responsabilidade pelo anúncio do Evangelho no mundo.
Uma situação que o teólogo Otto Hermann Pesch, na sua história do Concílio, considera que foi se distanciando cada vez mais, dos anos noventa em diante, daquele comentário do colega Ratzinger: a teologia seria obrigada a uma obediência interior e exterior diante do ensino oficial – embora ainda não formalmente dogmatizada – da Igreja. O resultado estaria muito além do "laborioso compromisso" da Dei Verbum: a passagem da colaboração conciliar para uma justaposição entre magistério e teologia nos anos seguintes até o presente.
É de 2012 um documento oficial sobre "A teologia hoje", assinado pela Comissão Teológica Internacional, que se mostra consciente dos problemas existentes e se situa na linha de uma desejada cooperação entre bispos e teólogos. "Inevitavelmente – lê-se no número 42 –, na relação entre teólogos e bispos, às vezes podem-se produzir tensões. Na sua profunda análise da interação dinâmica, no interior do organismo vivo da Igreja, [...] o Beato John Henry Newman reconheceu a possibilidade de tais 'contrastes ou colisões crônicas', e é bom lembrar que eles eram considerados por ele como 'na norma das coisas'".
E continua citando a Tese 9 do documento Magistério e Teologia de 1975: "Com relação às tensões entre teólogos e Magistério, a Comissão Teológica Internacional se expressou assim em 1975: 'Onde há verdadeira vida, ali também há tensão. Ela não é inimizade, nem verdadeira oposição, mas sim uma força vital e um estímulo para desenvolver comunitariamente e de modo dialógico o ofício próprio de cada um".
"Talvez se trate de recuperar, em nome de uma nova evangelização, essa capacidade de síntese, da qual laboriosamente nasceram, na real comunhão e colaboração entre Magistério e teologia, os documentos do Concílio Vaticano II", é a conclusão do teólogo Rosino Gibellini.
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O papel dos teólogos no Vaticano II - Instituto Humanitas Unisinos - IHU