21 Novembro 2012
A cadeia de petróleo e gás natural (exploração e produção, refino, oferta de derivados e transporte) deve abocanhar pouco mais de 68% dos investimentos de R$ 1 trilhão previstos para o setor de energia pelo Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2021), elaborado pela Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE). Apenas em exploração e produção de petróleo a soma, entre 2012 e 2021, pode alcançar de US$ 284,6 bilhões a US$ 309,7 bilhões.
A reportagem é de Vladimir Goitia e publicada pelo jornal Valor, 20-11-2012.
Nesse total estão incluídos recursos associados à carteira de projetos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal, referentes à exploração e ao desenvolvimento da produção no país todo, principalmente nas bacias de Campos (RJ) e de Santos (SP), incluindo as descobertas no pré-sal. É bom ressaltar que a Petrobras, que está presente em 28 países e vem expandindo suas operações para se posicionar entre as cinco maiores empresas de energia no mundo até 2020, prevê investimentos de US$ 236,5 bilhões, conforme seu Plano de Negócios 2012-2016.
Ainda segundo as estimativas da EPE, a produção nacional de petróleo, atualmente na casa dos 2,5 milhões de barris por dia, pode pular para 5,43 milhões de barris. O órgão estatal projeta uma ampliação do gás nacional na oferta, de um patamar de 47 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia), este ano, para 112 milhões de m³/dia em 2021, excluindo a região Norte do país. Somando as importações de 30 milhões de m³/dia de gás da Bolívia e de 41 milhões de m³/dia de gás natural liquefeito (GNL), a oferta total de cerca de 98 milhões de m³/dia, em 2012, pularia para 183 milhões de m³/dia em 2021.
A Ernst & Young vai um pouco além nesse horizonte. Afirma que o petróleo continuará sendo a principal fonte na matriz energética do país em 2030, impulsionado principalmente pelos investimentos previstos em exploração e produção de novas jazidas a partir de 2015. A empresa de consultoria e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) estimam no estudo "Brasil Sustentável - Desafios do Mercado de Energia" que, até 2030, os investimentos no setor de petróleo devem somar US$ 350 bilhões, e outros US$ 90 bilhões na área de gás natural. "A partir de 2020, com o desenvolvimento das reservas da Bacia de Santos, o Brasil passaria a exportar petróleo leve e gás natural na forma de gás natural liquefeito para a América do Norte, integrando a Bacia do Atlântico ao mercado internacional de gás por uma rota segura, pelo Atlântico Sul", informa o estudo.
Esses cenários, traçados tanto por órgãos públicos como por consultorias privadas, mostram que a área de petróleo e gás no Brasil pode mesmo apresentar a maior movimentação de recursos nos próximos dez a 20 anos. "Esse setor reúne todas as condições para isso", avalia Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), empresa de consultoria e informação especializada e gestão de negócios no mercado de energia. Mas, alerta o consultor, "a concretização dessas projeções dependerá do cenário econômico internacional e dos planos do governo nesse campo, principalmente se levarmos em conta a forte intervenção que vem exercendo nesse setor, que acabou praticamente sendo politizado".
Pires acredita que, para atrair os recursos necessários para desenvolver a área de petróleo e gás, além do pré-sal, o governo terá de abrir mão de um pacote que permita colocar o Brasil de novo na rota do interesse dos investidores. O consultor elenca alguns problemas que precisam ser resolvidos. Entre eles, a retomada dos leilões de áreas do pré-sal e do pós-sal, interrompidos desde 2008. O consultor lembra ainda que o governo precisa resolver a lei dos royalties, que, pelo andar da carruagem, pode parar na Justiça. O texto aprovado até agora na Câmara dos Deputados contraria os interesses dos Estados produtores e do próprio governo, já que prevê nova divisão sobre royalties de blocos de petróleo leiloados pelo modelo anterior, o de concessão, o que eles avaliam como "quebra de contrato".
Pires lembra também o tema do conteúdo nacional dos equipamentos utilizados na exploração de petróleo, fixados entre 55% a 65%. Para ele, esse assunto precisa ser "mais bem equacionado", caso contrário será um obstáculo para os investimentos.
Marcos Tavares, sócio-diretor e presidente do Conselho de Administração da Gas Energy, empresa de consultoria do setor de gás, também alerta sobre problemas que vêm afetando o setor e sobre o que ele chama de barreiras regulatórias e de mercado, que estariam impedindo a decisão de novos investimentos. "Temos gargalos fortíssimos que precisam ser resolvidos já, principalmente aqueles ligados ao poder de concentração da Petrobras, que ainda por cima enfrenta problemas de caixa", lembra Tavares. Na opinião dele, é lamentável que com tantos investidores dispostos a olhar para o Brasil, haja ainda tantos problemas estruturais a ser resolvidos.
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Petróleo e gás concentram 68% de recursos esperados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU