25 Outubro 2012
Um mosaico de imagens do centro da Via-Láctea, tiradas com um telescópio no Chile, registrou a presença de cerca de 84 milhões de estrelas, na maior observação desse tipo já feita pela astronomia. O trabalho, de um grupo internacional de cientistas, que contou com quatro brasileiros, resultou em uma "foto" gigantesca de 9 gigapixels - se fosse impressa, na resolução típica de publicação em livro, teria 9 metros por 7 metros.
A reportagem é de Giovana Girardi e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 25-10-2012.
É a primeira vez que se consegue observar tantas estrelas. Antes desse trabalho, o maior registro era do ano 2000, com 9 milhões de estrelas da Grande Nuvem de Magalhães, conta o pesquisador Bruno Dias, da Universidade de São Paulo, colaborador do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) e um dos autores do trabalho.
Usando o telescópio Vista, do observatório Paranal do ESO, que faz a exploração em infravermelho, foi possível penetrar a nuvem de poeira presente na Via-Láctea para fazer as imagens.
A área coberta, equivalente a menos de 1% de todo o céu, foi observada diversas vezes com três filtros de cores de infravermelho para melhorar a visualização. Foi desse catálogo de centenas de imagens que se obteve o mosaico divulgado ontem.
Num primeiro momento, explica o também brasileiro Roberto Saito, da PUC do Chile, foram observados 173 milhões de objetos, dos quais 84 milhões foram confirmados como estrelas e selecionados por apresentarem as informações mais perfeitas, com o que os pesquisadores chamam de melhor fotometria.
"Nem fracas nem brilhantes demais nem coladas umas nas outras", explica Saito, o principal autor do trabalho, publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics.
A porção central e mais interna, conhecida como bojo galáctico, é a mais densa da Via-Láctea e contém cerca de um terço de todas as suas estrelas. O trabalho, que começou em 2010 e segue até 2014, além de chamar atenção pelo tamanho, destaca-se por dar as primeiras noções da estrutura da galáxia.
Mapa 3 D
Diagramas de cor e magnitude que foram obtidos fornecem informações sobre as propriedades físicas dos astros, como temperatura, massa e idade, e dicas de onde podem ser encontrados planetas parecidos com a Terra. O objetivo é, ao final do projeto, ter um mapa em três dimensões dela.
"Hoje conhecemos centenas de milhões de galáxias em todo o universo, mas não sabemos como é a nossa porque estamos dentro dela e olhá-la é mais difícil. Todos os dados desse trabalho serão públicos. Com base nele, diferentes pesquisadores poderão fazer outros trabalhos que vão ajudar a conhecer a estrutura galáctica", afirma Saito.
Segundo ele, o objetivo é tentar entender como ela surgiu e evoluiu. Diversas pesquisas já propuseram teorias para essas questões, mas, como lembra o pesquisador, sem saber direito como é a Via-Láctea hoje, fica difícil comprová-las ou não.
Essas imagens devem ajudar nesse sentido. "Entender o passado da galáxia depende de como ela é hoje", diz.
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Imagem registra 84 milhões de estrelas na Via-Láctea - Instituto Humanitas Unisinos - IHU