23 Outubro 2012
A presidente Dilma Rousseff continua tratando o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, como um aliado, mas desde já procura criar alternativas a sua eventual candidatura presidencial em 2014. No Palácio do Planalto e no PT, ninguém sabe exatamente qual é o jogo de Campos.
O comentário é de Raymundo Costa, jornalista, e publicado pelo jornal Valor, 23-10-2012.
Ontem, Dilma foi a Manaus (AM) para participar de um comício da candidata do PCdoB a prefeito, Vanessa Grazziotin. A candidata comunista tem chances remotas de vitória. Segundo as últimas pesquisas conhecidas, o candidato tucano, o ex-líder do PSDB no Senado Artur Virgílio lidera com mais de 30 pontos de diferença.
Um cenário desfavorável que Dilma poderia muito bem evitar. Associar-se à derrota de Vanessa, sem dúvida, dá um gostinho a mais à provável vitória de Virgílio, já considerada "simbólica" pelos tucanos. Mas o que Dilma quer é fazer um afago no PCdoB e enviar um sinal a Eduardo Campos. O partido de Vanessa, aliado histórico do PT, nos últimos anos tem orbitado o PSB de Eduardo Campos.
Ao mesmo tempo, Dilma decidiu não se envolver na eleição de Fortaleza, onde PSB e PT disputam o segundo turno no próximo domingo. Na capital do Ceará o aceno é para os irmãos Gomes, o governador Cid e o ex-ministro Ciro, os únicos integrantes do PSB em condições de tentar, pelo menos em parte, minar a hegemonia de Campos no PSB. Com Cid e Ciro ela mantém uma ponte com o PSB, se vier a precisar da sigla, mais tarde, na campanha sucessória.
À exceção de São Paulo, Eduardo Campos em geral situou-se com o candidato contrário aos interesses do PT e do governo. Um caso exemplar é São Luis do Maranhão, onde Campos desembarcou logo após o primeiro turno a fim de fazer campanha para o candidato do presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), inimigo do clã Sarney.
Dilma poderia apoiar o candidato de Flávio Dino em São Luis. O adversário é da oposição. Tucano de ocasião. Mas o chefe do clã, José Sarney, pediu que ela não se envolvesse na eleição da ilha. E a presidente prefere não comprar briga com o presidente do Senado. Além de ser do PMDB, partido com o qual deve manter aliança preferencial, ajuda mais que atrapalha. Veja-se o caso dos vetos presidenciais ao Código Florestal, cuja votação o presidente do Senado jogou para o fim da fila.
A última sexta-feira só reforçou a necessidade de a presidente ter um Plano B para a hipótese de Campos ser candidato à sua sucessão: o governador de Pernambuco fez campanha em Uberaba (MG), ao lado do tucano Aécio Neves, o mais provável candidato do PSDB em 2014.
Aécio flertou abertamente com Eduardo Campos: "Quem sabe no futuro Deus permita que esses laços sejam mais fortes pelo bem do país", disse. Aliado do governo, Campos foi mais comedido. Destacou a importância do governo Lula e elogiou a oposição feita ao governo pelo PSDB que "olha os interesses do país acima das condições políticas conjunturais".
Não bastasse a aproximação com Aécio Neves, o governador de Pernambuco também resolveu entrar no quintal de Lula, a campanha de segundo turno em Campinas, onde o PSB enfrenta outro candidato "inventado" pelo ex-presidente da República: Márcio Pochmann, ex-presidente do Ipea, que a exemplo de Dilma Rousseff e Fernando Haddad nunca disputou antes uma eleição, seja para cargo proporcional ou majoritário.
Há no PT quem considere a eventual vitória de Pochmann em Campinas, onde o PT enfrenta uma conjuntura difícil já há alguns anos, um feito de Lula maior até que a invenção da candidatura Haddad, hoje favorita em São Paulo.
Campos, na realidade, ao mesmo tempo que deixa correr solta a hipótese de ser candidato já em 2014, afirma que o PSB apoiará a reeleição de Dilma. No calor do segundo turno das eleições municipais já declarou que na segunda-feira, quando os palanques forem desmontados, "a gente vai se juntar para trabalhar e ajudar a presidente Dilma a mudar este país".
A presidente considera as duas possibilidades, tanto a de Campos ser candidato já em 2014, como a do PSB permanecer na aliança da reeleição. Por via das dúvidas, trata de fazer os afagos a potenciais aliados de uma candidatura do governador e enviar os sinais que julga necessários para mostrar que está atenta à movimentação do aliado. Por enquanto, Campos é aliado e mantém o ministro que indicou para o governo em nome do PSB.
Campos sempre foi mais próximo de Lula que da atual presidente, cuja referência no Nordeste passou a ser o governador da Bahia, Jaques Wagner. Ocorre que Lula e Campos se desentenderam sobre a montagem da chapa do candidato a prefeito do Recife. Poucos, além dos dois, sabem exatamente a extensão da divergência e se há sequelas. A se acreditar em dirigentes do PT, Lula se sentiu "traído".
Segundo dirigentes petistas, quando "melou" a prévia do PT do Recife e indicou o senador, ex-líder da bancada e ex-ministro da Saúde Humberto Costa, Lula avisou o governador de Pernambuco de sua decisão. Eduardo Campos não teria vetado como fez com o atual prefeito João da Costa, o vencedor da prévia contra Maurício Rands, o petista apoiado pelo governador. Apenas tirou a carta que tinha guardada na manga, no melhor estilo Lula: seu secretário Geraldo Júlio (PSB), afinal eleito no primeiro turno.
O certo é que o PT não perdoa o governador e diz que ele agora está por sua conta no Nordeste. "Por la libre", como se costuma dizer em Cuba. Para os petistas, Eduardo Campos está pavimentando o caminho de sua candidatura ou um eventual desembarque do governo Dilma. O certo é que está "enfraquecendo" o PT. Pode ser. Mas é preciso esperar assentar a poeira da campanha eleitoral para uma avaliação mais precisa. O fato é que o PT nunca aceitou que algum partido considerado à esquerda do espectro político lhe fizesse sombra. E é muito difícil imaginar Eduardo Campos em campo oposto a Lula numa eleição presidencial.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O fator Eduardo Campos na sucessão - Instituto Humanitas Unisinos - IHU