06 Outubro 2012
"Em 2005, estimava-se que havia cerca de1.200 moradores de rua em Belo Horizonte. A Pastoral de Rua crê que esse número subiu para 2 mil. Some-se a isso o fato de a capital mineira ser líder no ranking nacional de assassinatos de moradores de rua. Entre abril e agosto deste ano, um total de 59 moradores de rua foram assassinados em Belo Horizonte", escreve Bruno Vieira, 26, morador de Belo Horizonte e coordenador do blog coletivo, em depoimento publicado pela BBC Brasil, 06-10-2012. Neste texto Bruno Vieira contou com a colaboração de Luana Costa.
Eis o artigo.
Os moradores vivendo em situação de rua em Belo Horizonte não estão mais restritos somente à região central da cidade como há algus anos. Eles atualmente se espalharam até por áreas distantes do Centro.
Este fenômeno ganhou força nos últimos quatro anos. Atualmente, há pessoas morando na rua em bairros diversos, em áreas distantes do Centro - como, por exemplo o bairro afluente de Santa Amélia, na região da Pampulha, na zona norte da cidade.
Em 2005, estimava-se que havia cerca de1.200 moradores de rua em Belo Horizonte. A Pastoral de Rua crê que esse número subiu para 2 mil. Some-se a isso o fato de a capital mineira ser líder no ranking nacional de assassinatos de moradores de rua. Entre abril e agosto deste ano, um total de 59 moradores de rua foram assassinados em Belo Horizonte.
O levantamento foi feito pelo Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Material Reciclável (CNDDH).
Cultura violenta
Glaston Lage é pedagogo e coordena os trabalhos do Serviço de Acolhimento Institucional de Atendimento à População de Rua e Migrante de Belo Horizonte. Lage acredita que informações sobre o alto índice de mortes de moradores de rua em Belo Horizonte são revelados com certo alarde na mídia e sem uma reflexão em torno do tema.
''Não podemos partir apenas do pressuposto que haveria uma intolerância da sociedade em relação à população de rua - governo, polícias, etc. -, mas um dado importante é que esta população não é um grupo homogêneo: pessoas com transtornos mentais, abandonadas pelas famílias, jovens, imigrantes, desempregados, idosos, dependentes químicos, ex-presidiários e até trabalhadores autônomos se misturam nas ruas e há um alto índice de violência entre eles mesmos. E isso, nada mais é que um reflexo da nossa própria cultura, que está mais violenta.''
Não é esta, no entanto, a opinião de Oziel Fernandes, 39 anos, há seis em condição de rua. Oziel afirma que se encontra nessa situação devido à morte de sua mãe e da ''esperteza'' do seu irmão, que se apossou do imóvel da família e não repassou a parte que lhe caberia.
'Preconceito gritante'
Nascido no interior da Bahia, Oziel revela já ter sofrido violências na rua, ele considera ser perigoso viver nessa condição. ''O preconceito que a gente vive é gritante: a Polícia Militar te persegue, a Guarda Municipal te persegue, bate, joga spray de pimenta, a sociedade não te aceita e te trata como um bicho.''
Oziel desabafa e diz que recentemente foi vítima de um integrante da Guarda Municipal de Belo Horizonte, que em sua abordagem, entre outras violências, acabou por quebrar seus óculos de grau. De acordo com ele, o processo corre na justiça.
A Prefeitura afirma ter uma política de inclusão que visa conduzir pessoas vivendo nas ruas da cidade para albergues e abrigos.
Mas Glaston Lage acredita que a Prefeitura vem negligenciando a população vivendo nas ruas da cidade, o que explica, segundo ele o fechamento do Centro de Referência para a População em Situação de Rua de Belo Horizonte.
''Houve várias dificuldades: de segurança do trabalhador, de controle dos usuários, dos critérios de acesso. O fechamento se deu para que o município pudesse rediscutir a política desse espaço. Foi um momento de interrupção por causa da violência do entorno, do uso de drogas no interior do centro de referência e inclusive pela insegurança demanda pelos trabalhadores. A instituição precisou ser repensada'', pondera.
Pedras 'antimendigos'
A mais recente - e polêmica - ação sobre a população de rua de Belo Horizonte foi a colocação de cercas, arames farpados e ''pedras antimendigos'' debaixo de viadutos da cidade, com o suposto intuito de não tornar esses espaços habitáveis. A repercussão negativa foi intensa e grupos da sociedade civil realizaram protestos.
Um exemplo foi a ação Humanize uma Pedra, ocorrida debaixo de um dos viadutos onde havia as tais pedras (na Avenida Cristiano Machado, que dá acesso ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte), artistas promoveram intervenções no espaço, de maneira bem-humorada, chamando a atenção da população de Belo Horizonte para a população de rua.
Também foram registrados flagrantes de funcionários recolhendo e jogando fora pertences - até mesmo documentos - de moradores em situação de rua. Uma delas se deu em uma praça no bairro de Santa Amélia e outro na praça Engenheiro Iron Marra.
A praça ganhou fama em 2011 quando 8 pessoas que dormiam por lá foram envenenadas com chumbinho, colocado em uma garrafa de cachaça.
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BH é líder em assassinatos de moradores de rua - Instituto Humanitas Unisinos - IHU