17 Agosto 2012
Aposentada. Mas não retirada, isolada, distante. Aos 82 anos, Maria da Conceição Tavares tem direito ao relaxamento, ocupar-se com outras coisas além dos gráficos, tabelas, estatísticas que povoaram sua vida e seu cérebro desde a graduação em matemática na Lisboa dos anos 50 do século passado. "Já não gosto de economia", diz. Mas isso é apenas a expressão de um desejo de tranquilidade, pois nos minutos seguintes está a falar do necessário impulso para o Brasil e o mundo voltarem a crescer: "Você paralisa uma economia com corte de investimento público e alta de juros. É como fechar uma janela puxando um cordão. Mas você não abre uma janela emperrada com um cordão, talvez seja preciso um porrete. No sentido figurado, é claro".
A reportagem é de Vera Saavedra Durão e Paulo Totti e publicada pelo jornal Valor, 17-08-2012.
E a primeira-dama da economia brasileira ri, com o arrebatamento de sempre: voz grave, raciocínio rápido, palavras doces ou agressivas, a depender da paixão que a inspira. Aposentou-se, mas não abandonou a franqueza e o rigor crítico. "Leio o caderno de cultura de vocês na sexta-feira, é um bom caderno. Leio também o 'À Mesa'. Mas depende do entrevistado. Se é um chato, não leio".
Quando os repórteres lhe disseram que a intenção deste "À Mesa com o Valor" era reatualizar seu perfil por muitos já traçado e "falar um pouco de tudo", Conceição surpreendeu: "Se for para falar de tudo, prefiro futebol. Passei a gostar mais de futebol do que de economia. Felizmente, a imprensa do Rio parou de falar da crise no Flamengo. Antes da Olimpíada só dava saída do Ronaldinho Gaúcho, queda do Joel Santana, entrada do Dorival Júnior...
- A senhora é Flamengo?
- Não, sou Vasco. A imprensa tem esquecido que o Vasco está entre os líderes do Brasileirão desde o início do campeonato. Foi uma pena perder para o Atlético Mineiro por um golzinho e empatar com aquele time paulista enjoado. Que o Lula não me ouça, porque o Corinthians é o time dele. Mas aqui no Rio Lula é Vasco. Flamengo continua uma porcaria...
Conceição agora só dá aulas de 15 em 15 dias no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de onde se aposentou como professora emérita. São aulas de economia internacional para turmas de pós-graduação. Nos intervalos, deixa-se ficar em seu apartamento do Cosme Velho, no Rio, acompanha o futebol pela TV e ainda não se interessou pelo mensalão. E lê: "Numa semana vazia, sem aulas, sem palestras, leio um livro por dia". A leitura é variada, de romances policiais a Virginia Woolf, de clássicos a contemporâneos, entre os autores nacionais.
Ao conhecer os números, percebi quanto o Brasil era grande e desigual. Daí, fui estudar economia
- Para seus alunos, o que está dizendo sobre a atualidade?
- Que está ruim. É o resultado da perversa globalização financeira. Desregularam tudo e abriram as comportas para a especulação. Os bancos é que aprontaram essa trapalhada geral. Veio a crise de 2008 e arrebentou todos. No Brasil, em 2008, a crise não bateu mais pesado porque nossos bancos não estavam metidos na agiotagem internacional. Espero que não estejam metidos agora.
O Empório Santa Fé, o restaurante que Conceição escolheu para este almoço num meio-dia de sol no marco zero do encontro da ex-praia do Flamengo com a ex-praia do Russel, não é foro apropriado para a reprise de suas aulas, mas a economista nos brinda com alguns "insights". Diz que a "crise agora é mais europeia", pois os Estados Unidos voltam a crescer, embora lentamente. "O Estado americano socorreu os bancos, socorreu as empresas, socorreu as famílias que não podiam pagar. O problema na Europa é que seu Banco Central só socorre os bancos, em vez de socorrer os países. E a [Angela] Merkel não muda, né? Os alemães na verdade faturam com a crise. Quem está em crise é o resto da Europa. A Alemanha é uma espécie de xerife da Europa e, ao mesmo tempo, banqueiro rapinante. É a política ortodoxa.
- Qual é o resultado dessa política?
- O óbvio. Muitos países vão quebrar. Tem sorte quem não entrou no euro: a Turquia, que não deixaram entrar, e a Polônia, que tinha moeda fraca, não entrou e está ótima.
Conceição dispensa a oferta de escolher o vinho. No exílio do Chile, conheceu o Carmenère e acrescentou-o ao Malbec argentino na lista de seus preferidos. Mas os chilenos já não a atraem como dantes - "copiaram os americanos e seu vinho ficou muito frutado". E agora só bebe refrigerantes. Para os sólidos, continua exigente. Pede "codornas com pinoli e seus ovos". A repórter prefere "mignonnettes à moda" e o repórter, "arroz com marreco à portuguesa". A fotógrafa Aline Massuca, o mesmo que a professora. Ao final, não sobra nada nos pratos e todos parecem felizes com suas escolhas.
Anadia, uma aldeia do concelho de Aveiro, no oeste de Portugal, a pouco mais de 50 quilômetros de Coimbra, região famosa pela produção caseira de ovos moles, é o local de nascimento de Maria da Conceição de Almeida Tavares, filha de mãe católica e pai anarquista. Em Lisboa, estudava matemática quando, aos 20 anos, se casou com Pedro Soares, aluno de engenharia hidráulica. Formaram-se e vieram em definitivo para o Brasil. "Portugal de Salazar era uma ditadura selvagem, irrespirável."
O casal chegou em fevereiro de 1954, às vésperas de a democracia brasileira mergulhar na crise que levaria ao suicídio do presidente Getúlio Vargas, em agosto. Soares foi trabalhar numa empresa de engenharia que realizava obras na lagoa Rodrigo de Freitas, mas Conceição, aos 24 anos e grávida de Laura, hoje professora estadual no Rio, não encontrou empresa privada com necessidade ou disposição de contratar uma matemática. Seu primeiro emprego foi como estatística do Instituto Nacional de Imigração e Colonização (Inic), hoje Incra. "Fiz as primeiras estatísticas da colonização brasileira", diz. "Vinha de Portugal e já sabia do tamanho do Brasil. Uma coisa é você saber que o país é grande, outra é conhecer os números e perceber quanto é grande e desigual. Foi a desumana distribuição de renda que me levou a estudar economia."
O ingresso na Faculdade de Economia da então Universidade do Brasil foi fácil. Havia um acordo entre os países lusófonos que lhe permitia entrar na faculdade sem prestar vestibular. Estava para cursar o segundo ano quando o conselho da UNB decidiu que o problema era com o diploma do segundo grau. Abandonou a faculdade e teve de matricular-se num curso de madureza para fazer num só os três anos do ciclo colegial - o chamado "Artigo 99". As disciplinas que tinha de repassar eram português, história, geografia... e matemática. E, depois disso, submeter-se ao vestibular.
Tirou o primeiro lugar e voltou ao primeiro ano da faculdade. Em meio ao curso, o mais brilhante dos professores, Octávio Gouvêa de Bulhões (1906-1990), a convidou para ser sua assistente. Inquieta, dedicada, inteligente, por essas virtudes é que Conceição teria sido escolhida, segundo os contemporâneos. Ela prefere explicação mais simples: "Bulhões sabia muito de finanças e nada de matemática. Numa equação simples se embaralhava. Como eu era boa nisso, me chamou como ajudante".
A jovem já seguia os passos de economistas de escolas diferentes das de Bulhões: seu pensamento econômico em formação continha um pouco de Karl Marx e John Maynard Keynes e bastante dos chamados "estruturalistas", que buscavam soluções para o subdesenvolvimento da América Latina: os brasileiros Celso Furtado e Ignácio Rangel e o argentino Raúl Prebisch, secretário-executivo da Comissão Econômica para a América Latina das Nações Unidas (Cepal). Bulhões, funcionário do Ministério da Fazenda desde 1926, integrou a delegação brasileira na conferência de Bretton Woods (julho de 1944), que criou o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, e inspirava-se nos clássicos do livre mercado, o escocês Adam Smith, o austríaco Friedrich August von Hayek e o brasileiro Eugênio Gudin.
As divergências não prejudicaram as relações do professor e sua assistente. "Bulhões era liberal em política e conservador em economia. Ele me dizia: 'Pode falar de seus monopólios, mas fale também das coisas que eu digo'. Eu respondia: 'Claro, doutor Bulhões'."
Ainda na Faculdade de Economia, Conceição conseguiu uma vaga no BNDE - na época, sem "S" - para integrar, como matemática, a equipe que traduziria em financiamentos para a infraestrutura o Plano de Metas do presidente Juscelino Kubitschek. No banco, conheceu Ignácio Rangel (1914-1994), economista até hoje pouco louvado por sua contribuição ao desenvolvimento do país e um dos concretizadores da utopia de JK de fazer o Brasil crescer 50 anos em 5. Rangel a estimulou a seguir com atenção as aulas de Bulhões. "A esquerda", dizia, "não estuda com seriedade coisas como moeda, finanças, balanço de bancos, inflação. E isso dá muito mau resultado." Conceição seguiu o conselho e aprendia política monetária, de manhã, com Bulhões na universidade, e, à tarde, estruturalismo com Rangel no BNDE. Deu certo, como se veria pelos vindouros 55 anos.
Mais tarde, Bulhões, ministro da Fazenda da ditadura, foi da banca examinadora do concurso de livre-docência de Conceição para a UFRJ, cuja tese, "Acumulação de Capital e Industrialização no Brasil", tinha um capítulo de críticas explícitas à política do governo. "Ele me aprovou mesmo assim."
A essas alturas (1965), Conceição já se tinha separado de Soares e se casado com Antônio Carlos Macedo, um paleontólogo do Museu Nacional, hoje aposentado e vivendo em Brasília. Macedo, de quem também se divorciaria mais tarde, é pai de Bruno, estudante de cinema depois de ter feito dois outros cursos universitários: produção cultural e economia. "Ele não queria nada com a profissão de economista. Para buscar o diploma, tive que obrigá-lo." Artes audiovisuais parecem ser a verdadeira vocação de Bruno, já autor de documentários sobre Parati e a escola de samba Mangueira. E isso deixa a mãe intelectual visivelmente orgulhosa: "São belas peças", diz. Mas a protetora mãe portuguesa se manifesta quando pergunta à repórter, que tem filha cineasta: "Também faz cinema a sua menina? Está conseguindo se virar, ganhar a vida?"
Conceição fala de Bulhões com respeito e até carinho. Adversária feroz da ditadura, destaca da política econômica daquela época um dado que, citado por ela, é uma homenagem a Bulhões, pois a correção monetária para enfrentar os problemas da dívida pública foi criação dele. "A moeda indexada nos defendeu mais tarde da dolarização. Somos o único país na América Latina que teve hiperinflação sem dolarizar. Quando Milton Friedman veio ao Brasil, ficou espantadíssimo: 'É o primeiro país que eu vejo que indexa a própria moeda', ele disse."
Professora na UFRJ e mais tarde na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Conceição começou a ficar conhecida por palestras e artigos em revistas especializadas ou nos jornais diários. Saiu do BNDE e foi ser chefe do escritório da Cepal no Rio. Quando veio o golpe militar, já estava na Cepal. No início, não a molestaram na universidade, mas o fato de Celso Furtado ser o 10º na primeira lista de 102 brasileiros com seus mandatos cassados ou direitos políticos suspensos pela ditadura - o 11º foi Josué de Castro, autor de "Geopolítica da Fome" - demonstraria que o golpe não pouparia os intelectuais.
Apesar do rarefeito clima para o livre exercício do pensamento - piorado depois do Ato Institucional nº 5, em dezembro de 1968 -, surgiu uma nova geração de economistas, que influenciaria o debate macroeconômico do país pelos 40 anos seguintes. "Era uma geração de cinco brilhantes economistas", afirma e, sem acanhamento, inclui-se entre eles. No lado do governo, destaca Antônio Delfim Netto e Mário Henrique Simonsen. Na oposição, ela própria e seus colegas, sete e oito anos mais jovens, Carlos Lessa e Antônio Barros de Castro, autores de "Introdução à Economia - Uma Abordagem Estruturalista", best-seller entre estudantes de economia, já na 31ª edição.
Conceição refere-se a esses tempos como de debate exaltado, mas pluralista - até a intromissão da polícia, com as consequentes perseguições, tortura e morte de divergentes. Simonsen foi seu colega no Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e a professora não esquece que, anos depois, saiu da prisão por interferência do ministro da Fazenda do general Ernesto Geisel. Delfim era o mais velho, e hoje Conceição acha que, pela "lucidez, contundência, ironia" com que escreve, até parece mais moço. E ri: "Acho que ele pinta o cabelo. Agora é crítico severo da globalização da agiotagem. É um dos nossos".
- Apesar da ditadura, a senhora estava com frequência na televisão. Mas não me lembro de tê-la visto num debate com o Delfim.
- Acho que nunca estivemos frente à frente. Lembro é do que me disse um taxista em São Paulo, que tinha me visto na TV na noite anterior: "Não discuta com o Delfim, porque ele vai sacanear a senhora". O Delfim era rápido no gatilho, muito sarcástico, poderia mesmo ganhar de mim num debate, apesar de eu não ser das mais lentas. Já o Campos, eu tirava de letra.
- Roberto Campos foi seu professor?
- Era um chato de galochas. Dava aula sobre moeda às 7h30. Lia lá o caderno, todo mundo ficava com sono. Aí os colegas falavam pra mim: "Provoca ele". Eu provocava, ele debatia e a turma ficava acordada. Naquela altura, era moda ser isento, então ele me dava 10 mesmo se eu discordasse do que ele ensinava.
A moda de isenção acabaria pouco depois, em dezembro de 1968, com a decretação do AI-5. A repressão desabou sobre as universidades. Todos os professores acusados de esquerdistas perderam sua cátedra, inclusive Fernando Henrique Cardoso, na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). Conceição se salvou porque estava em licença na UFRJ e na Unicamp e a caminho do Chile, para um autoexílio que duraria até 1973. Em 1972, lançou seu livro de maior repercussão e influência: "Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil - Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro". No Chile, trabalhou na Cepal e para o governo de Salvador Allende. E apareceu numa foto dançando com o guru Raúl Prebisch. "Eu dançava com todo mundo", é seu único comentário.
A partir daí publicou mais cinco livros e uma centena de artigos, de cuja reunião em uma ou mais obras sempre descuidou. "Não cuido disso, sou um pouco displicente", reconhece. Quando fez 80 anos, numa grande festa no Rio que reuniu amigos e ex-alunos - entre eles os então candidatos a presidente Dilma Roussef, que conheceu em suas aulas de doutorado em Campinas, e José Serra, com quem conviveu no exílio do Chile - lhe prometeram fazer um livro em sua homenagem e uma coletânea de tudo o que já escreveu.
Se os livros ainda não saíram, a Marinha a homenageou com o Prêmio Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia, em cerimônia realizada no Palácio do Planalto. Em seu discurso, Dilma disse que falava de "discípula para mestra". E Conceição, comovida, se despediu dizendo esperar morrer feliz por ser brasileira e triste por ser europeia, pois não acredita viver o suficiente para ver o fim da crise no velho continente.
No dia seguinte, almoçou em Palácio com Dilma e o ministro Guido Mantega. Não falaram de futebol, mas Conceição não diz sobre o que discutiram. Para provocar seu amigo ministro da Fazenda, faz uma só confidência: "Dilma dizia: 'Guido, presta atenção'".
- A senhora está bem de saúde?
- Estou bem. Há alguns anos, pensaram que eu tinha um câncer atrás das costelas. Abriram - a operação foi horrível! - e era um tumor no tuberculino que devo ter trazido de Portugal, quase tão velho quanto eu. Trataram, e ele desapareceu.
O café é servido e a professora sai para fumar um dos 40 cigarros que consome por dia. O repórter a acompanha e, cavalheiro, não a deixa fumar sozinha.
Ao contrário de muitos dos companheiros de vida acadêmica, Conceição não pertenceu ao Partido Comunista Brasileiro na juventude - "era apenas próxima" - e depois da ditadura se filiou ao PMDB, passando para o PT quando houve o cisma no partido de Ulysses Guimarães. Nunca foi, porém, militante muito disciplinada. Quando o PMDB apoiou Moreira Franco para o governo do Rio - "lindo apelido Leonel Brizola lhe arranjou: gato angorá" -, Conceição se negou a votar nele. No PT, quando a direção nacional resolveu apoiar "o cretino do [Anthony] Garotinho" para governador, foi direto a Lula para protestar. Não votou e foi ao Rio Grande do Sul fazer a campanha do petista Olívio Dutra.
Em 1993, foi a segunda mais votada para deputada federal na legenda do PT - o primeiro foi Milton Temer, hoje no PSOL.
- Por que não quis disputar a reeleição?
- 'Tá maluco? Quase morri. Éramos só 50, 10% da Câmara. Fomos levados de roldão pelo rolo compressor do PSDB com o PFL. Não dava para fazer nada. Nem a taxação das grandes fortunas, um projeto do próprio Fernando Henrique de outros tempos, que emendei cuidadosamente, conseguimos levar adiante. Consegui aprovar na comissão de finanças, mas para levar ao plenário precisava de não sei quantas assinaturas. Fui de deputado em deputado. O Delfim até assinou e disse a um colega dele: 'Assina aí pra professora não perder seu tempo. Depois a gente derruba no plenário'. Minha coluna estourou lá de tanto estresse. Fiz duas operações de coluna. Ah não, foi horrível!"
O garçom vem oferecer o licor, delicado, perfumoso Moscatel de Setúbal, cortesia da casa. É por causa da professora portuguesa, com certeza.
- Como foi essa história de o Simonsen tê-la tirado da cadeia?
- O Mário Henrique foi direto falar com o general Geisel.
A professora conta como foi sua prisão. Voltara do Chile em 1973 e continuara fazendo trabalhos para a Cepal. Em 75, ia viajar para Santiago, quando a prenderam no aeroporto do Galeão. Levaram-na num táxi para a sede do Dops e de lá, encapuzada e obrigada a deitar-se no chão do carro, a transportaram para a Polícia do Exército. Havia testemunhas de sua prisão no Galeão e "todo mundo se mexeu". Sua filha já estava no Dops com advogado. Em Brasília, o então ministro de Indústria e Comércio, Severo Gomes, ligou para o Dops, para o I Exército, e lhe responderam que não havia ninguém preso ou detido com o nome da economista. Severo Gomes ligou, então, para Simonsen.
Conceição conta como foi o diálogo: "Severo Gomes: 'Prenderam sua colega, a Maria'. Simonsen: 'Ela é maluca. Não pode ser'. Severo Gomes: 'Prenderam, sim, e ninguém sabe para onde a levaram. Fale com o presidente". Simonsen estava em Brasília e foi ao Geisel. O general deu um murro na mesa: "Não é contra ela, é contra mim", segundo relato, mais tarde, do próprio ministro. Sem saber, a professora se vira envolvida nas disputas entre Geisel e os porões. Ordens foram dadas e, em horas, Conceição estava livre. Daí foi a vez de Bulhões, já não mais ministro, interferir. Ligou para Simonsen e explicou que Conceição poderia ser presa novamente se tentasse viajar. E Simonsen mandou que, em carro oficial e com escolta, Conceição fosse deixada na escada do avião - em outro voo, porque o primeiro fora perdido.
- Agradeceu ao Simonsen mais tarde?
- O Ministério da Fazenda ainda era no Rio. Entrei no gabinete dele e fui dizendo daquele meu jeito mal-educado. "Olá, Mário, tudo bem? Nem vou agradecer porque você não fez nada mais do que sua obrigação".
São 3 da tarde, última semana da Olimpíada de Londres, e Conceição se retira. Declina da carona e toma um táxi sozinha. Ela tem pressa: "Quero ver as meninas na final do vôlei de praia".
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O descanso da guerreira Maria - Instituto Humanitas Unisinos - IHU