Por: Jonas | 29 Mai 2012
“Freiras comunistas, rebeldes, inimigas do exército”, é a acusação das forças armadas filipinas. Na região onde foi assassinado o missionário Fausto Tentorio, depois de 32 anos em Mindanao, agora são as freiras que estão na mira dos militares. As duas freiras comprometidas com a paz, defesa dos povos indígenas e do patrimônio natural de Mindanao, são acusadas pelos militares de apoiar o grupo guerrilheiro “New People’s Army” (NPA), que há algumas décadas tem em vista uma insurreição armada de matriz comunista ao governo de Manila.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 25-05-2012. A tradução é do Cepat.
A região de Mindanao, majoritariamente mulçumana, há 40 anos é cenário de um conflito entre o exército filipino e grupos extremistas islâmicos que lutam para obter a independência da ilha e criar um estado ilsâmico governado pela charia. Apesar das negociações com o Moro Islamic Liberation Front (MIFL), histórico movimento separatista islâmico - Abu Sayyaf e Jemaah Islamiyah - continuam com os sequestros e atentados contra edifícios cristãos e governamentais. Durante esses anos, as comunidades católicas de Jolo e Basilan já foram, muitas vezes, alvo de ataques. O mais grave aconteceu no dia 7 de julho de 2009, quando uma bomba explodiu na catedral de Jolo e provocou seis mortes e feriu quarenta pessoas.
Desta vez, as vítimas de uma campanha de difamação, por parte de alguns oficiais do exército filipino, são a irmã Stella Matutina, beneditina, e a irmã Julita Encarnación, das Irmãs da Assunção de Maria, de acordo com a agência vaticana “Fides”. As duas irmãs há tempo trabalham na ilha de Mindanao, com campanhas pela paz, justiça e defesa do meio ambiente. Elas têm criticado o largo trabalho de exploração dos recursos minerais e naturais, pela qual as multinacionais estrangeiras, graças aos acordos com o governo, tiram as riquezas de Mindanao.
As freiras também denunciam a corrupção das autoridades locais. Estão ao lado dos povos indígenas e levantam a voz contra a impunidade pelos assassinatos que açoitam a ilha, como no caso do assassinato do padre missionário Fausto Tentorio, do PIME. Elas coordenam atividades e manifestações da sociedade civil e das comunidades cristãs em Mindanao. Sobretudo, porém, são consideradas “inimigas do exército” por denunciarem a campanha de repressão feita pelos militares na operação contrarrevolucionária “Oplan Bayanihan”, iniciada no governo de Arroyo e confirmada pelo governo de Benigno Aquino. A operação prevê um enorme envio de tropas militares a Mindanao para combater os rebeldes da NPA e encontrar seus líderes. No entanto, estas operações - denunciam as religiosas - implicam, muitas vezes, em abuso de poder, violações dos direitos humanos, ações violentas contra os civis e os indígenas, execuções extrajudiciais de líderes e ativistas locais, especialmente por meio das milícias paramilitares criadas e conduzidas pelo exército. As irmãs também promovem um pedido de retirada dos militares, afirmando que “enquanto as Forças Armadas das Filipinas continuarem a serviço dos interesses das grandes companhias, o que é chamado pelas mesmas de paz, só acarretará mais caos e sofrimento para as comunidades pobres”.
A irmã Julita Encarnación faz parte de uma associação que reúne vários missionários, os “Missionários Rurais das Filipinas”. A irmã Stella criou na diocese de Mati o grupo “Beneditinos para a Paz” e é a secretária da ONG “Panalipdan Mindanao”, uma organização de “defensores e advogados do meio ambiente, da criação e do patrimônio de Mindanao”. No passado, junto com outros dois membros do movimento, a irmã Stella já tinha sido detida e interrogada durante oito horas. Os soldados do vigésimo oitavo Batalhão de Infantaria, em Davao Oriental, dizem que “na realidade, a irmã Stella é membro da NPA, disfarçada de freira”. São os mesmos comandantes do Batalhão que acusaram o padre Tentorio de pertencer a NPA. O padre Ángel Calvo, há 40 anos missionário claretiano em Mindanao, lembra que “acusar sacerdotes”, religiosas e missionários de serem rebeldes e comunistas foi uma prática comum, na época da Lei Marcial, contra todos aqueles que criticavam o regime. Agora, os tempos e o contexto são muito diferentes, os acusadores são os líderes militares locais.
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Filipinas. “Religiosas são acusadas de comunistas, rebeldes e inimigas do exército” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU