02 Abril 2012
Em 2007 veio a primeira ameaça. Os créditos para o financiamento imobiliário nos Estados Unidos ameaçavam gerar a explosão da economia estadunidense e, consequentemente do mundo, por falta do pagamento da hipoteca das residências. Em 2008, o boom ocorreu e 79 anos depois do crack da Bolsa de Nova Iorque, o agora já consolidado Estado-Nação considerado o centro do capitalismo enfrentava uma grave “crise”. Vale lembrar que não faltaram avisos vindos de economistas de linha crítica ou mesmo de neoclássicos arrependidos com a legitimação que deram para a Globalização Transnacional Capitalista.
De lá para cá, quantas vezes não lemos, vemos e ouvimos falar de uma grave crise econômica? Preocupados se era uma tsunami a varrer o mundo ou se os reflexos para países como o Brasil seriam só uma “marolinha”, enquanto que a União Europeia ruía por decisões equivocadas de entrada de países no bloco político-econômico. Um a um, os governos entravam numa decisão delicada: enfrentar a “crise” e o capital financeiro ou perder a soberania de vez?
É essa mesma a pergunta a ser realizada. Afinal, pela primeira vez o que temos não é um Estado pressionando outro para cumprir suas metas, nem mesmo, como muito viveu a América Latina, o Fundo Monetário Internacional (FMI) exigindo para que o arroxo seja cumprido. Agentes econômicos privados fizeram o que quiseram e o que foi permitido, causaram um ônus gigantesco para pessoas, empresas, bancos menores e países, em detrimento a gordos bônus para seus executivos, chegando até o agamento de comissões para quem vendesse uma casa hipotecada por um trabalhador que por ela não poderia pagar. Os operadores dos agentes econômico-financeiros, para piorar, são os mesmos indivíduos que ocupam os postos-chave da economia mundial, como o Federal Reserve (FED – Banco Central dos Estados Unidos), FMI, também já ocuparam algumas vezes a presidência do Banco Central do Brasil, da Argentina, da Itália, do Banco Central Europeu e outros postos de “menor escalão” como o atual primeiro-ministro grego. Trazendo para um exemplo popular, é como se colocasse a raposa para cuidar do galinheiro e ainda se pagasse muito bem quando desaparecessem todas as galinhas.
Um(a) leitor(a) atent@ pode ter se dado conta de que todas as vezes que colocamos a palavra crise, ela veio entre aspas. Se a causa das crises econômicas, a partir de um marxismo ortodoxo, seria o excesso de acúmulo de capital, que faria com que o sistema entrasse em recessão até que uma nova fase se formasse e seguisse no ciclo, como acreditar que o ocorrido no mundo nos últimos anos tenha sido isso se já afirmamos que houve um grupo de pessoas que ganhou muito dinheiro produzindo “ciência” econômica – sob propaganda de ser desideologizado –, atuando em postos-chave da economia mundial e em bancos de investimento? O que temos é uma farsa com nome de crise. A explicação é simples. Quando agentes líderes de oligopólios de mercado têm informação perfeita, não há equívoco e sim intenção e informação manipulada, a partir daí gerando desespero nos apostadores menores da jogatina financeira, algo também conhecido como comportamento de manada.
Calma. Se você nunca foi instigado para pensar sobre essas coisas, não se preocupe. A principal fonte de informações das pessoas são os meios de comunicação e esses comunicam de acordo com seus interesses político-econômicos. Isso vai além de propagar ideias enquanto classe dominante, mas de ver em jogo seu próprio funcionamento, já que vários grupos comunicacionais também jogam na Bolsa de Valores, caso das Organizações Globo, com a Globopar, por exemplo. A desinformação midiática, com os seus principais comentaristas não apresentando suas premissas de análise, acaba refletindo a ideia da “neutralidade” que os grupos midiáticos, principalmente os brasileiros, tentam e passam.
É justamente para tentar desvelar os agentes, causas, efeitos e consequências desses eventos com reflexo no mundo, e com pouca explicação aqui no Brasil, que desde maio do ano passado, o Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (CEPOS), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UNISINOS, possibilitou a criação do Núcleo Interdisciplinar de Estudos da Globalização Transnacional e da Cultura do Capitalismo (NIEG).
Perto de completar um ano de existência, o Núcleo conta com pessoas de diversas formações na Comunicação Social e com estudantes de Economia, com o intuito de ampliar o leque de análise sobre a relação de variáveis constitutivas do capitalismo em sua etapa financeira. Além dos estudos e discussões com textos, artigos e produtos audiovisuais, o NIEG tem como objetivo disseminar as análises sobre as relações de poder envoltas na forma como se dá a difusão do assunto; quais os “especialistas” consultados; quem referenciou a teoria que serviu como base para a prática do capital financeiro, tendo como perspectiva as instituições políticas e a estrutura de circulação de bens simbólicos; fundamental para os negócios e os boatos gerados e geridos pelo “mercado” de capitais.
Esta coluna semanal nas "Notícias do Dia" do Instituto Humanitas Unisinos - IHU junta-se aos cine-debates realizados fora da UNISINOS, com audiovisuais que tratam da “crise” econômica, como um espaço importante para a difusão das nossas ideias e para que possamos agregar mais pessoas e conhecer grupos com tarefa parecida Brasil afora.
Todos os textos desta coluna são de autoria coletiva, sendo responsabilidade do conjunto dos membros do NIEG-CEPOS. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
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Desvendando a farsa com nome de crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU