Peregrinação com presença de Dom Cappio recorda e reforça a luta em defesa do rio São Francisco

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

10 Outubro 2012

Começam amanhã (10) e seguem até sábado (13) as comemorações pelos 20 anos da Peregrinação da Nascente à Foz do rio São Francisco, celebração considerada a maior mobilização em defesa do ‘Velho Chico’. Serão realizadas ações nas cidades de Belo Horizonte e São Roque de Minas, em Minas Gerais (Brasil).

A reportagem é de Natasha Pitts e publicada por Adital, 10-10-2012.

Em Belo Horizonte, estão previstas diversas atividades, que terão a participação de Dom Luiz Cappio, bispo conhecido pela luta em defesa do Rio São Francisco e que, junto com Adriano Martins, Orlando Araújo e Irmã Conceição Menezes realizou pela primeira vez, entre 1992 e 1993, a peregrinação da nascente à foz do rio.

O religioso – que também já realizou greve de fome para se opor à transposição das águas do Velho Chico – apontou que a peregrinação foi realizada com objetivos claros. "À época, quando ainda nem se falava em transposição, a iniciativa foi realizada com três objetivos. O primeiro foi encontrar com as comunidades e falar sobre a importância do Rio, o segundo foi conhecer de perto o projeto de morte instaurado ao São Francisco e o terceiro objetivo foi motivar o povo a lutar”.

O bispo acrescentou que após os 365 dias de peregrinação constatou uma verdadeira mudança no modo de conceber o rio e seu valor. "Mas, infelizmente, a oficialidade não assumiu essa postura. A população abraçou o rio. Surgiram lutas que seguem até hoje, adotou uma postura em favor da vida, mas não por parte da oficialidade”, lamentou.

A prova de que as autoridades federais não abraçaram a causa do rio foi o projeto de transposição. Iniciativa do Governo Federal sob a responsabilidade do Ministério da Integração Nacional (MI), que quer transpor parte das águas do rio.

Movimentos como a Articulação Popular São Francisco Vivo são contrários a este projeto, pois acreditam que ele vai impulsionar a ‘indústria da seca’ e transformar a água em uma moeda de troca que, ao invés de ser utilizada por pequenos agricultores, vai beneficiar grandes proprietários de terra nordestinos.

Acredita-se que a obra será bastante benéfica para empresários da construção civil, da irrigação, da exportação de frutas, da carnicicultura (produção de camarão), do pólo siderúrgico-portuário do Pecém, em Fortaleza, no Ceará, e das monoculturas para a produção de biocombustíveis.

Apesar de ter iniciado e parado várias vezes a obra se encontra atualmente parada. Dom Luiz Cappio afirma que o que já foi construído está danificado e precisaria ser refeito para voltar a funcionar. O bispo não acredita que o projeto vá adiante.

Programação

A programação tem início às 13h, na Igreja São José, com uma coletiva de imprensa com Dom Luiz e integrantes da Articulação Popular São Francisco Vivo. Entre os temas a serem debatidos estão a luta pela revitalização do Rio, o polêmico processo de transposição de suas águas e os principais problemas vividos pelas comunidades próximas ao Rio e pelo ecossistema da região.

A coletiva será seguida por ato público nas escadarias da igreja. Serão realizadas apresentações culturais, exposições fotográficas com imagens lembrando os 20 anos de peregrinação e também falas, depoimentos e denúncias das comunidades ribeirinhas de toda a bacia, que vão mostrar os problemas vivenciados pelo Rio.

À noite, às 19, acontece o seminário O rio São Francisco nestes 20 anos pós-peregrinação, no auditório da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (Av. João Pinheiro, nº 100, 2º Andar).

A programação continua de 11 a 13 com atividades em São Roque de Minas, onde fica localizada a nascente do Rio Francisco. Estão previstas exposições fotográficas, seminários, momentos de mística e celebrações eucarísticas que vão acontecer na Igreja São Roque de Minas (dia 11, às 19h) e na nascente do São Francisco (dia 12, às 5h da manhã). Também está previsto um momento de oração na Casca D’anta (dia 13, às 7h).

Peregrinação

A peregrinação da Nascente à Foz do rio São Francisco é considerada a maior mobilização ecológico-religiosa em defesa do Velho Chico. Aconteceu entreoutubro de 1992 e outubro de 93 e mobilizou 350 comunidades nos 2.863 km de percurso.

A peregrinação foi realizada para chamar atenção à situação de degradação em que o rio se encontrava e que hoje está bem pior, pois o Rio já perdeu 35% da sua vazão nos últimos 50 anos e sofre com a construção de empreendimentos que o tem maltratado ainda mais. Pesquisas da Universidade do Vale do São Francisco (Univasf) revelaram que a situação é ainda pior. A extinção da caatinga e do próprio rio podem se tornar realidade se a degradação continuar neste ritmo.

Depois desta surgiram muitas outras iniciativa, entre as quais plantio de árvores, preservação de nascentes e matas em propriedades particulares e comunitárias, mutirões de limpeza da margem do Rio, programas de educação ambiental, semanas ecológicas nas escolas e mutirões de arborização nas cidades.