01 Setembro 2012
O papa, em um telegrama ao cardeal arcebispo de Milão, Angelo Scola, "soube com tristeza" a notícia da morte do cardeal Martini "depois de uma longa enfermidade, vivida com ânimo sereno e com confiante abandono à vontade do Senhor", expressa a sua "profunda participação na dor" pelo falecimento "deste querido irmão que serviu generosamente ao Evangelho e à Igreja".
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no sítio Vatican Insider, 31-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Bento XVI falará publicamente a respeito na primeira ocasião provavelmente no domingo, no Ângelus. O pontífice acompanhou desde o primeiro instante o agravamento das condições de saúde e foi constantemente informado da longa agonia do purpurado biblista.
"O nosso encontro ocorreu há dez dias. A comoção e a participação suscitados pelo seu falecimento superam a comunidade dos crentes em sentido estrito: é o sinal de que a sua missão evangelizadora funcionou", explica o porta-voz vaticano, padre Federico Lombardi, poucas horas depois da morte do seu coirmão jesuíta Carlo Maria Martini. O corpo do cardeal ficará exposto aos fiéis na Catedral de Milão das 12h de sábado até o funeral, que será celebrado às 16h.
"Agora que, em vista do Sínodo dos Bispos de outubro, nos colocamos particularmente diante do problema de como anunciar o evangelho na sociedade do nosso tempo, o modelo de Martini nos é particularmente precioso", continua o padre Lombardi. "O espírito do seu exemplo ofereceu uma contribuição muito importante para a temática fundamental da nova evangelização. O cardeal foi capaz de falar não só aos crentes, mas também aos distantes da fé, levando a todos o anúncio do Evangelho. A reflexão que ele soube desenvolver me parece extremamente relevante. E o imenso movimento de participação no seu falecimento testemunha que o seu ministério soube alcançar os mais diversos setores sociais e culturais".
O abraço com Bento XVI durante a Jornada Mundial das Famílias é o selo do seu caminho de pastor. "O encontro em Milão há dois meses foi um momento altamente significativo e a demonstração da continuidade no serviço pastoral da arquidiocese. Martini estava consciente de ter chegado ao fim da sua vida, e encontrar o papa foi para ele o dom e o reconhecimento mais belos pelo serviço desenvolvido em tantos anos na cátedra de Santo Ambrósio", pontualizou o padre Lombardi.
E o falecimento do bispo conciliar por antonomásia Carlo Maria Martini coincide com a abertura das celebrações do 50º aniversário do Concílio Vaticano II. "Na quinta-feira de manhã, ele celebrou a sua última missa", conta o padre Cesare Bosatra, superior do colégio Aloisianum. "Martini estava sedado desde quinta-feira e morreu às 15h45min, serenamente, no sono".
Enquanto isso, no entanto, depois do anúncio da morte do cardeal, no Twitter, a hashtag #martini escalou posições até entrar entre os 10 assuntos mais discutidos. Mas, além dos numerosos testemunhos de pesar (um grande homem até o fim, exemplo de pensamento e diálogo para crentes e não), o que chamou a atenção foi a notícia de que o cardeal "recusou a obstinação terapêutica", como disse o seu neurologista, Gianni Pezzoli.
O cardeal recusou a inserção de uma sonda nasogástrica para alimentação. Há 15 dias, "ele não conseguia mais engolir" e por isso era alimentado apenas por uma hidratação parenteral. E o fato de que o neurologista do cardeal tenha querido anunciar isso à imprensa soa como uma mensagem in extremis, na Itália em que o ponto mais discutido da chamada lei sobre o fim da vida é justamente a obrigação à alimentação do paciente, considerada terapia crucial.
A posição do cardeal era conhecida e não admira: ele já a havia manifestado em 2007, no artigo "Eu, Welby e a morte", escrito poucas semanas após a morte de Piergiorgio Welby, o doente terminal com distrofia muscular que pediu a suspensão das terapias. Ele a reiterou em seu último livro, Credere e conoscere, publicado pela editora Einaudi em março, invocando a razoabilidade também no tema da eutanásia: "As novas tecnologias que permitem intervenções cada vez mais eficazes sobre o corpo humano requerem um suplemente de sabedoria para não prolongar os tratamentos quando já não ajudam mais a pessoa".
Martini pedia que todo caso fosse avaliado em si mesmo, sem a imposição de normas gerais. O povo do Twitter lhe presta homenagem também por isso, com algumas polêmicas, dos tuiteiros famosos até as pessoas comuns. Assim, Piero Sansonetti escreveu: "Que o não à obstinação terapêutica de Martini seja um exemplo para essa classe política e para a Igreja". E outros comentam: "Ao menos Martini sabia que a Idade Média passou".
"É de grandíssima importância neste contexto distinguir entre eutanásia e abstenção à obstinação terapêutica", observa outro usuário. E outro: "Mas agora vão fazer um funeral a Martini? Para mim, é totalmente irrelevante, mas a família Welby o queria, por exemplo". O tema é debatido por muitos: "Agora, a Igreja Católica negará o funeral católico ao cardeal Martini porque ele escolheu se deixar morrer, não?". E Mikisugarfree: "Que a morte escolhida pelo cardeal Martini seja um exemplo para os puritanos da primeira e da última horas".
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A morte de Martini, a última lição à Igreja e ao mundo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU