30 Junho 2012
Templos do consumo, sim, mas algo maior: polos de convivência social. Esta é a metamorfose pela qual o conceito de shopping center vem passando, ao longo dos últimos anos. Antes "prédios predominantemente fechados, em forma de caixotes escuros, ocupados por lojas", como define Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da BrandWorks, empresa especializada em marketing de varejo. Hoje, os novos projetos exploram largamente os espaços abertos e o contato com o exterior.
A reportagem é de Marleine Cohen e publicada pelo jornal Valor, 29-06-2012.
O resultado dessas mudanças: empreendimentos mais ousados, com alto valor agregado, que exigem mais paisagismo, design e arquitetura "Ao redor do mundo, a tendência são os shoppings com áreas ao ar livre, que buscam reproduzir o ambiente urbano para que as pessoas se sintam como nas ruas de antigamente, mas com o conforto e a segurança dos shopping centers", explica Marinho.
Esta tentativa de humanizar os centros comerciais, transformando-os em "espaços agradáveis de frequentar, que facilitam a socialização", imprimiu novas tendências entre os arquitetos que assinam os projetos. A busca por profissionais talentosos - os chamados starchitects, mistura de star com architects, em inglês - também é uma nova constante. Com foco no conforto e no aconchego, e mais recursos financeiros, eles assinam seating areas, espaços com cadeiras e poltronas para que os clientes possam fazer uma pausa e descansar; lounges, como os que se veem no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo; praças de alimentação e banheiros cada vez mais modernos e sofisticados.
"Já não se concebem shopping centers que não sejam acolhedores. Sob todos os aspectos, nas áreas de circulação ou nas vitrines das lojas, nos banheiros ou nas praças de alimentação, eles devem ser aconchegantes, quentes, receptivos, e com um bom padrão de eficiência", afirma Felipe Aflalo, cujo escritório, Aflalo & Gasparini Arquitetos, responsável pelo projeto do primeiro shopping center de São Paulo, o Iguatemi da avenida Faria Lima, também assina o do Serramar Parque Shopping, em Caraguatatuba, no litoral paulista. Tendo como atração uma praça de alimentação aberta para o exterior e um deck externo que privilegiam a imponente vista panorâmica da Serra do Mar, a proposta do arquiteto abusou do bambu como elemento decorativo, das pedras expostas, das lajotas de concreto pré-moldado e das praças ajardinadas que criam microclimas próprios e dispensam o uso de ar condicionado. "Nós quisemos trazer para dentro do shopping o verde que já não se encontra na cidade."
Este contato com o ambiente externo, no qual a luz natural tem papel fundamental - e "requer muitos recursos de iluminação para fazer a transição para a noite" -, analisa ele, "traz vida para dentro do empreendimento e expõe sua vitalidade: é importante mostrar que o shopping é acolhedor e por isso recebe gente. Ninguém quer ficar em ambientes escuros e vazios", sustenta o arquiteto. Por outro lado, afirma Marinho, "além da sensação agradável que proporcionam, estas áreas com ampla iluminação natural são praticamente obrigatórias nos novos projetos em função da economia de energia que representam".
"Vidro, piso monolítico, material à base de cimento, mármore ou agregados de pedra sempre de cores claras são fáceis de limpar", diz Roberto Collaço, da Collaço e Monteiro Arquitetos Associados, escritório encarregado do projeto do Shopping Tietê e do Limeira Shopping Center, entre outros. Da mesma forma, "madeira certificada em praças de alimentação torna o ambiente confortável", destaca.
Na ponta do lápis, certas diretrizes resultam em plantas mais arejadas, em contato com o mundo externo: "Procuramos usar um pé direito maior nas lojas, criar jardins internos abertos para fora nas laterais e eliminar os pilares dos malls para obter estruturas mais amplas", afirma Collaço. Igualmente, oferecer uma diversidade de ambientes integrados, que atendam às mais distintas necessidades do consumidor, ajuda a mantê-lo mais tempo no ambiente de compras, avalia o arquiteto.
A crescente humanização dos shopping centers - e consequente migração do ambiente francamente comercial para outro quase doméstico - tem uma finalidade clara, segundo Marinho: transformá-los em " um destino de entretenimento, onde fazer compras é apenas parte da diversão". Tanto é que segue em alta o chamado uso misto - ou seja, unir shopping, edifícios comerciais e até residenciais no mesmo espaço, a exemplo do que ocorre em alguns empreendimentos brasileiros, como o complexo do Shopping Cidade Jardim, da JHSF.
"Uma característica importante dos shoppings no século XXI é o foco no lazer: os empreendimentos que conseguirem oferecer maior e melhor diversão saem na frente. Isso inclui não apenas cinemas e áreas de recreação, mas diferentes opções gastronômicas", diz Marinho.
Enquanto isso não acontece no Brasil, associado ao mix de lojas, o esmero e o cuidado com a arquitetura refletem uma nova tendência de fazer do shopping uma extensão da casa e do local de trabalho, para onde vai mesmo que não precise fazer compras.
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Os templos de consumo evoluem para centros de convivência social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU