30 Abril 2012
"Estamos propondo um Fundo de Moedas Imaginárias. Pode o dinheiro digital mudar a economia global com novas formas de financiamento?", escrevem Gilson Schwartz, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, líder dos grupos Cidade do Conhecimento e Iconomia, associados ao Núcleo de Política e Gestão Tecnológica e à Rede de Pesquisa Interdisciplinar sobre a Internet das Coisas, José Roberto Amazonas, professor da Escola Politécnica (USP), Jorge Forbes, psicanalista e psiquiatra, é presidente do Instituto da Psicanálise Lacaniana (IPLA), Zilda Iokoi, historiadora, é professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e Guilherme Ary Plonski, professor da Escola Politécnica e da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis da USP, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 30-04-2012.
Os pesquisadores propõem a criação "de um novo FMI: Fundo de Moedas Imaginárias".
Segundo eles, "o design social de um ícone como a "moeda" parece brincadeira, mas é um "game" muito sério que pode mudar o mundo: a mesma internet que facilita a criação de moedas é também uma rede aberta que precisa ser ocupada a partir de alianças que ultrapassam as regras do jogo acadêmico".
Eis o artigo.
Num momento de crise global das moedas estatais, voltaram a ganhar força movimentos sociais, experimentos econômicos e pensamentos ou visões de um futuro radicalmente democrático na eleição de sistemas de informação com funções de unidade de conta, meio de pagamento e reserva de valor. Augura uma democratização do dinheiro.
É mais um efeito da internet, em especial da chamada "internet das coisas", onde se misturam objetos, sensores, "nuvens", imagens e softwares, criando novos mundos virtuais ou híbridos. Ecoando os recentes protestos em Wall Street, novas moedas revelam que é também possível e preciso ocupar o digital.
O processo de desmaterialização da moeda e da riqueza, aliás, é anterior às TICs (tecnologias de informação e comunicação), como já notava revolucionariamente John Maynard Keynes há 100 anos.
A internet acentua o processo de virtualização do dinheiro e, portanto, ajuda a mudar também a consciência que temos da sua utilidade e efeitos - positivos e negativos.
Mais além das funções na economia, o dinheiro tem uma dimensão icônica, simbólica, de representação e projeção (até psicossomática) das nossas ansiedades e ambições, medos e ímpetos, sonhos e perversões: é a força da grana que ergue e destrói coisas belas.
Pode o dinheiro digital representar para a economia global algo análogo ao Creative Commons (CC) na promoção de novas liberdades, formas de produzir, consumir, distribuir, financiar e organizar?
Seriam as moedas criadas local ou socialmente, lastreadas em projetos de desenvolvimento humano, circulando por celulares e sensores, portadoras de uma nova economia da cultura e de uma inédita cultura econômica?
Com essa esperança, grupos de pesquisa da USP celebram o Dia do Trabalhador Criativo propondo a fundação, no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, de um novo FMI: Fundo de Moedas Imaginárias.
Animando redes e empreendimentos associados a projetos de pesquisa, cultura e extensão, as moedas criativas digitais, a exemplo dos créditos obtidos com cursos, "marcam", indexam ou pespegam tags nos cidadãos envolvidos com práticas emancipatórias no campo da educação, cultura, empreendedorismo, sustentabilidade e da criatividade.
Ao promover uma nova ordem de valores, as moedas emitidas pelo novo FMI estimulam a emergência no Brasil e no mundo de uma economia animada por ética e cidadania. Terá o Brasil lastro para um "FMI da imaginação"? Como as crianças nas escolas, os artistas, os trabalhadores nas empresas e os idosos, as donas de casa e os enfermos terão acesso a essa nova riqueza imaterial gerada por um inédito estímulo a conexões criativas?
O design social de um ícone como a "moeda" parece brincadeira, mas é um "game" muito sério que pode mudar o mundo: a mesma internet que facilita a criação de moedas é também uma rede aberta que precisa ser ocupada a partir de alianças que ultrapassam as regras do jogo acadêmico.
A internet do futuro exige a criação de mundos e fundos. A moeda sustentável é possível.
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Moedas criativas para outro FMI - Instituto Humanitas Unisinos - IHU