Por: Cesar Sanson | 07 Outubro 2013
Os elefantes estão sendo abatidos em números recordes na África. Como relatou o "Washington Post" no último verão, mais de 30 mil elefantes foram mortos por caçadores ilegais no ano passado, o maior número em muitas décadas.
O comentário é de Monica Medina, publicado International Herald Tribune e reproduzido pelo Portal do Uol, 07-10-2013. Monica Medina deixou recentemente o Departamento de Defesa dos EUA e serviu como assistente especial dos secretários da Defesa Leon Panetta e Chuck Hagel.
Nos últimos cinco anos, houve um enorme aumento da caça ilegal que ameaça de extinção uma das espécies mais inteligentes e representativas do planeta. Importantes figuras globais - a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e sua filha Chelsea, o príncipe William, do Reino Unido, e sua mulher, Kate, e muitos outros - se manifestaram sobre a conservação dos elefantes. Ainda nesta semana Clinton anunciou um novo esforço de US$ 80 milhões em três anos da Iniciativa Global Clinton, destinado a combater o tráfico de marfim.
Mas, como ela indicou, salvar os elefantes é mais que uma simples causa célebre: é crítico para o combate ao terrorismo. A Al Shabab financia uma parcela significativa de suas operações militares com a caça de elefantes. Um relatório de 2011 da Elephant Action League, cuja missão é combater a exploração de elefantes e crimes contra a vida silvestre, chamava o marfim dos elefantes de "o ouro branco da jihad".
Uma investigação de 18 meses feita pela organização sobre o aumento drástico da caça de elefantes por "bandos somalianos" concluiu que quase a metade de todo o financiamento das atividades terroristas da Shabab provém da caça de elefantes no Quênia. Investigações descobriram uma sofisticada rede de caçadores e intermediários ligados à Shabab; o grupo terrorista usa seu ramo militar para fazer contatos com sindicatos do crime internacionais e comerciantes ilegais de animais na Ásia.
Na verdade, embora seja difícil localizar o marfim ilegal como matéria-prima, foi encontrado marfim em antigos enclaves da Shabab, segundo depoimentos em novembro passado diante da Casa Branca e do Cáucus de Conservação Internacional do Senado.
O marfim de elefante vendido no mercado negro é altamente rentável. Em 2012 o produto alcançou até US$ 7.000 por quilo na China, dependendo de sua qualidade. Com esses preços, a chacina de elefantes é uma maneira fácil de grupos terroristas como a Shabab obterem dinheiro: o marfim de apenas cinco elefantes provavelmente é suficiente para financiar um ataque do tipo que ocorreu em Nairóbi. O ciclo da morte de elefantes e atividades terroristas não deverá terminar sem um esforço mais concentrado por parte dos militares americanos para deter a caça ilegal de elefantes na região.
Em novembro passado, quando Hillary Clinton se preparava para anunciar uma grande iniciativa do Departamento de Estado para combater o tráfico ilegal de animais silvestres, eu moderei um painel patrocinado pela World Wildlife Fund e a National Geographic sobre o que os militares poderiam fazer para ajudar. Concluímos que tudo se resume a liderança. A rede de monitoramento do comércio de vida silvestre Traffic acredita que a maneira mais eficaz de proteger os elefantes, e assim cortar uma importante fonte de financiamento da Shabab e de outros grupos terroristas, é empregar militares e repressão orientada por inteligência nos países africanos onde os elefantes são mortos.
O governo Obama começou a fazer esforços nesse sentido. No entanto, uma ação mais robusta é necessária já. O presidente recentemente assinou uma ordem executiva para aumentar o envolvimento do governo americano nas iniciativas de combate ao tráfico. Mas a ênfase na atual iniciativa é para o apoio de órgãos civis, e as maiores armas do governo - as agências de defesa e inteligência - quase não se envolveram.
Depois da tragédia em Nairóbi, o Departamento de Defesa precisa se erguer e assumir um papel maior na luta para salvar os elefantes. A equipe de segurança nacional do presidente deveria envolver o Pentágono e a CIA especificamente na questão da caça aos elefantes e dirigi-las para aumentar amplamente seu envolvimento.
A caça ilegal de elefantes é o último exemplo de como nossa "segurança natural" impacta a segurança nacional. A interrupção causada pela mudança climática, a escassez do suprimento de água, danos à cadeia alimentar causados pelo uso errado de pesticidas e outros produtos químicos - tudo isso e mais contribui para a violência e o conflito em todo o mundo, mas especialmente no mundo em desenvolvimento. Em muitos sentidos, as questões ambientais são questões de segurança nacional. A trágica conexão entre a caça de elefantes e o terrorismo na África reforça essa ligação.
Como foi bem colocado pela Elephant Action League, o "caminho mortal do conflito do marfim começa com a chacina de animais inocentes e termina com a chacina de pessoas inocentes". Os acontecimentos trágicos no Quênia deveriam ser um aviso para que os militares americanos se unam à luta para salvar os elefantes na África. Todos estaremos mais seguros se eles o fizerem.
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Sequestro no Quênia se liga à caça ilegal de elefantes na África - Instituto Humanitas Unisinos - IHU