15 Agosto 2013
"Aquilo que Francisco estava buscando não era a pobreza, mas sim a liberdade do coração que a pobreza pode dar. O amor, a paz e a doçura do olhar que tornam os pensamentos santos e maravilhosos. Ele tinha entendido que, para poder ser feliz, para sentir a misericórdia de Deus e trazê-la para o mundo, era muito melhor não ter nada. E a riqueza e o poder não te ajudam a te aproximar dos outros, de toda criatura, qualquer que seja, para lhe oferecer o teu amor. Que, ao invés, era exatamente o que ele queria fazer".
A reportagem é de Giovanni Nucci, publicada no jornal L'Unità, 11-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Giorgio Agamben voltou várias vezes à leitura messiânica do tempo nas cartas do apóstolo Paulo: isto é, com relação à questão escatológica do fim dos tempos, à parusia. "O retorno do Messias – escreve ele em A Igreja e o Reino (p. 7ss) – não desenha, de fato, uma duração cronológica, mas, acima de tudo, uma transformação qualitativa do tempo vivido (...) assim como a experiência do tempo messiânico implica que é impossível habitá-lo estavelmente, do mesmo modo nele não há lugar para um atraso. É o que Paulo lembra aos Tessalonicenses (1Ts 5, 1-2): 'Quanto ao tempo e aos momentos, não preciso escrever nada para vocês, irmãos. O dia do Senhor vem como um ladrão à noite'".
"Vem" está no presente, assim como o Messias é chamado nos Evangelhos ho echomenos, "aquele que vem", que não deixa de vir. Walter Benjamin, que tinha entendido perfeitamente a lição de Paulo, a repete a seu modo: "Cada dia, cada momento é a pequena porta pela qual o Messias entra".
Portanto, se no tempo do Messias não há tempo para o atraso, não há tempo sequer para a espera. O momento é agora, não deve ser postergado ao futuro, muito menos a um futuro fim dos tempos. Parece-me uma leitura do cristianismo mais correta: capaz de varrer a ideia de uma espera que implica o adiamento da ação a um futuro de salvação que não chegará. O momento é agora, e o resto é um avanço.
Voltando a Bento XVI, cujo refinamento teológico parece ser inversamente proporcional à inadequação política do seu papado, a revolucionária interpretação à ideia de vida eterna que ele nos oferece, ao lado da leitura messiânica que Agamben faz dos textos de Paulo, nos levam a imaginar a carícia ao leproso por parte de Francisco justamente como algo do gênero: o retorno do Messias, a parusia. A eternidade que rompe o tempo profano e dá a percepção de um sentido e de uma profundidade que a vida, na sua normalidade, não consegue dar. Uma contração do tempo que chega como um ladrão de repente naquele escorrer e normal fluir, e o subverte.
Ainda Agamben (p. 18): "Segundo a teologia cristã, há uma só instituição legal que não conhece interrupção nem fim: o inferno". E depois acrescenta: "O modelo da política de hoje que aspira a uma economia infinita do mundo é, portanto, propriamente infernal".
Este é o inferno, em uma imagem dantesca e mitológica mais do que nunca apropriada: ficar preso em um vórtice que se consuma na espera de uma resolução, mas que reitera constantemente essa espera, deslocando indefinidamente para a frente a libertação dela.
Eis: o encontro com o leproso para Francisco é a ruptura desse vórtice, do mecanismo mecânico que nos prende dentro de um tempo que deve escorrer marcado pelas nossas expectativas insatisfeitas. É a eternidade que chega de repente e despedaça a ideia do amanhã, e com ela a ideia do poder e a ideia do dinheiro, tornando a vida capaz de um sentido.
"A ideia do poder não existira", escreve Pier Paolo Pasolini em Preghiera su commissione, "se não existisse a ideia do amanhã. Não só: sem o amanhã, a consciência não teria justificações".
O que Francisco entende, depois do encontro com o leproso, é que o dinheiro e o poder são um impedimento para ir ao encontro do outro. E que eles te obrigam a buscar o seu cumprimento sempre e apenas no amanhã. O dinheiro e o poder têm sentido na faculdade de serem acumulados; portanto, de poderem aumentar ao longo do tempo e de serem exercido no futuro. No momento em que são gastos, consumidos, tanto o dinheiro quanto o poder simplesmente desaparecem, acabam.
Uma relação, ao contrário, no momento em que é consumada, ou seja, vivida, começa a se constituir. Portanto, Francisco está à procura de um sentido para a sua existência que vá além de ficar curvado sobre si mesmo: e de gastar o próprio dinheiro e o próprio poder à espera do amanhã.
Ele está tentando se livrar da ideia do amanhã; portanto, o seu objetivo não é a privação do dinheiro ou do poder: estes são os meios.
"Ele pegou as suas roupas, se despojou e as levou para o seu pai junto com o dinheiro que lhe restava. 'Ouçam todos', disse aos que haviam se reunido para ver o que estava fazendo o filho de Pedro Bernadone todo nu no pátio da Catedral de Assis. 'Escutem', disse, 'estas são as roupas do meu pai, e este é o dinheiro pelo qual estão ocorrendo tantas penas. É por isso que eu lhe restituo, para que possa ficar novamente tranquilo. Eu não preciso mais dele'. Depois, elevou o olhar buscando os olhos do seu pai, mas ele os mantinha distantes, cheios de raiva e dor. 'E para que', quis acrescentar, 'a partir de agora, eu possa dizer somente Pai nosso que estás nos céus, e não mais pai Pedro Bernardone".
Naturalmente, o pai de Francisco não entende, sofre terrivelmente e não consegue entender o que o seu filho quer, o que está procurando. Se, retomando Massimo Recalcati, é preciso ir em busca do pai, na tentativa de recuperar a sua função na época da sua evaporação, eis: o pai de Francisco evaporou, exatamente.
Explica Recalcati em Cosa resta del padre (p. 27): "Um pai, Freud parece nos dizer, é aquele que sabe fazer valer a Lei da interdição do incesto, facilitando o processo de separação do filho a partir de suas origens. Lacan mostrará o caráter virtuosamente traumático dessa operação: o exercício simbólico da paternidade assegura ao filho a possibilidade de se livrar do pântano indiferenciado do gozo e de se aventurar na assunção singular do próprio desejo".
Pedro Bernadone é totalmente incapaz de mostrar qualquer lei que não a do comércio. Incapaz de pôr um limite ao seu filho, de contê-lo: ao contrário, o instiga a uma ascensão social e econômica, faz de tudo para que ele obtenha o que ele ainda não conseguiu obter.
Mas, "para se servir do pai", diz Recalcati citando Freud (p. 18), "é preciso abrir mão dele. (...) Abrir mão dele apenas para poder se servir dele, não para anular a sua existência".
Habituado a tomar um pouco de tudo ao pé da letra, parece que Francisco, de fato, quis tomar Freud ao pé da letra: serve-se do pai abrindo mão dele, aceitando toda a sua herança, que, no entanto, ao menos do seu ponto de vista, não é nada, ou ao menos nada de material.
Se há algo de que se pode acusar as gerações que cresceram nos anos 1980, aquelas que sofreram por primeiro a evaporação do pai e que foram as primeiras a sentir a sua falta, é de não terem buscado essa função em outro lugar. Nem rejeitaram aqueles pais que estavam se evaporando diante dos seus olhos, totalmente incapazes da sua função. Ao invés, puseram-se em fila, à espera de que ao menos algo acontecesse. Obtendo não apenas a exclusão do governo do mundo, mas também que os seus pais, governando-o sem aceitar qualquer confronto com as gerações a seguir, acabaram levando-o à mais imponente crise estrutural e sistemática que o Ocidente já viu em ao menos 700 anos.
Ainda Recalcati (p. 15): "A humanização da vida exige o encontro com 'ao menos um pai'. Na época da sua evaporação, 'qualquer coisa', afirmará o último Lacan, poderá exercer a sua função'". Mas o verdadeiro problema, em um plano político e espiritual, antes que psicanalítico, é qual Lei o pai que estamos indo encontrar irá nos testemunhar. Portanto, qual pai poderemos escolher para nós. Não parece haver muitos por aí.
Eis: Francisco escolhe os leprosos: os abandonados, "a multidão esfarrapada e lúrida dos mendigos", como diz Chiara Frugoni, porque eles lhe ensinam que, antes de todo o resto, vêm os outros: o amor.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Melhor não ter nada'': quando Francisco devolveu as roupas e o dinheiro do pai - Instituto Humanitas Unisinos - IHU