17 Junho 2013
"É uma experiência enriquecedora, abriu-me um mundo". Ritanna Armeni, jornalista de esquerda, feminista, que passou pelos jornais Il Manifesto e L'Unità, coordena com Lucetta Scaraffia o encarte "Mulheres Igreja Mundo" do L'Osservatore Romano, o jornal da Santa Sé.
A reportagem é de Tullia Fabiani, publicada no jornal L'Unità, 14-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ela faz isso há um ano e está entusiasmada. "A ideia era a de fazer um encarte mensal que valorizasse o papel das mulheres na Igreja. Elas são cerca de 700 mil e ainda têm um papel bastante escondido, embora operem em toda a parte: ocupam-se das crianças, dos doentes, dos padres; gerenciam atividades humanitárias e missões em todo o mundo, mas o seu trabalho permanece na sombra. Ele não é valorizado por uma Igreja que, substancialmente, ainda é misógina".
Eis a entrevista.
Pela primeira vez, o jornal da Santa Sé tem um encarte feminino. O que pensam as mulheres às quais ele se refere?
As mulheres que trabalham na Igreja e fazem parte dela estão conscientes da misoginia ainda presente. A seu modo, elas a combatem. Na história do catolicismo, há mulheres que tiveram um papel extraordinário e que conseguiram vencer resistências e exclusões. Há muitas formas de combater: nós saímos às ruas, manifestamos, pedimos leis; elas agem através da fé que têm em Deus, através do Evangelho, em que as mulheres são protagonistas, e através de um compromisso, muitas vezes silencioso, mas determinante.
Como nasceu a ideia?
A ideia nasceu durante um passeio no campo com Lucetta Scaraffia, uma historiadora que sempre se ocupou da história religiosa e da história das mulheres, e com o diretor do L'Osservatore Romano, Giovanni Maria Vian. No início, ele tinha algumas dúvidas, depois pensou a respeito e devo dizer que, em pouco tempo, ele mudou de ideia e apoiou a iniciativa. O primeiro número foi publicado em 2012, em maio. Algumas semanas atrás, completamos um ano.
Depois de um ano, qual é a sua avaliação?
No que se refere a mim, eu achei uma experiência decisivamente enriquecedora, porque me abriu um mundo. Fez-me conhecer mulheres de quem eu ignorava a existência e descobrir visões múltiplas: religiosas ou não. Recentemente, eu entrevistei uma pastora valdense. Pois bem, encontrar as diversas expressões da fé presentes no universo feminino, para mim que não tenho fé, é uma ocasião de grande comparação. E além disso me chama a atenção a diferença com a atitude masculina.
Mesmo na fé há diferença de gêneros?
Eu notei que há um modo diferente de viver a fé. O feminino é estranho ao poder e muito sensível ao cuidado. A fé é vivida de modo muito mais desinteressado e altruísta pelas mulheres, e isso me impressiona e me fascina.
E como você vive a fé?
A minha relação com a espiritualidade sempre foi muito intensa. Eu não sou católica, mas tenho minha própria espiritualidade e um profundo interesse pelas religiões e pela fé que eu sempre cultivei. Eu acho que é também graças a essa espiritualidade que eu vivo de forma feliz essa experiência editorial e humana.
E o fato de ser mulher de esquerda e de ter batalhado pela lei do aborto e pelo divórcio não é um problema?
Eu encontrei uma continuidade de busca com relação à minha experiência de militância como mulher de esquerda. Certamente, não há dúvida de que, se tivéssemos que abordar alguns temas – penso, por exemplo, no aborto, no casamento gay, na eutanásia – haveria visões e ideias decididamente diferentes. É claro que, para o L'Osservatore Romano, valem aquelas ideias expressadas pela Santa Sé, mas sobra um amplo espaço de reflexão que se abriu através dessa experiência, em particular sobre o papel das mulheres e sobre a necessidade de valorizá-lo. Além disso, essa é a razão social do encarte. E eu também tenho que dizer outra coisa: se eu escrevesse hoje sobre o aborto, por mais convencida de que a Lei 194 é uma conquista que não deve se posta em discussão absolutamente, eu escreveria que agora esse não é o problema.
Isso significa o quê?
Eu acredito que hoje a questão não é tão importante para as mulheres como era há 30 anos. Hoje, não se fazem filhos porque não há trabalho e, se há, na maior parte dos casos, é precário. Não há uma rede social de apoio à maternidade, e por isso eu penso que o problema não é tanto o aborto, mas sim ajudar as mulheres, principalmente as mais jovens, a serem mães.
Muitas feministas e muitas das suas companheiras poderiam discordar. Você já recebeu críticas?
A minha participação na realização do encarte despertou muita curiosidade em geral, mas nunca ninguém me acusou de ter traído os ideais ou uma visão cultural e política que sempre acompanhou a minha vida.
Projetos para o futuro?
Não me desagradaria se o encarte se tornasse semanal e, talvez, fosse publicado todas as quintas-feiras.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Mulher, um jeito diferente de viver a fé. Entrevista com Ritanna Armeni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU