14 Abril 2013
Por uma margem mais apertada do que qualquer pesquisa de opinião, e a maioria dos analistas independentes, poderia prever, o candidato chavista à presidência da Venezuela, Nicolás Maduro, venceu as primeiras eleições do país na era pós-Chávez, de acordo com anúncio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) na madrugada desta segunda-feira - fim da noite de domingo em Caracas.
A informação é da BBC Brasil, 15-04-2013.
Com 99% dos votos apurados, Maduro obteve 50,6% dos votos válidos, contra 49% de seu rival, Henrique Capriles Radonski, no resultado eleitoral mais positivo para a oposição desde 1999.
Após a divulgação dos resultados, diversas salvas de fogos foram ouvidas na abastada zona leste de Caracas, reduto da oposição.
Maduro recebeu 685 mil votos a menos do que o total obtido em outubro pelo então presidente Hugo Chávez - cuja morte em março provocou a nova votação - na eleição presidencial contra Capriles.
De acordo com o CNE, até o momento do anúncio, Maduro havia obtido pouco mais de 7,5 milhões votos e Capriles, cerca de 7,3 milhões.
O avanço de Capriles foi proporcional aos votos perdidos por Maduro - o opositor obteve 680 mil votos a mais desta dez do que em outubro.
Votaram na eleição deste domingo 78,71% dos quase 19 milhões de venezuelanos registrados, um percentual de comparecimento semelhante ao das eleições passadas.
Tensão
A demora do CNE em divulgar as estatísticas da votação gerou incertezas em relação ao andamento da apuração. O órgão não divulga boletins parciais, apenas resultados irreversíveis.
A presidente do conselho, Tibisay Lucena, havia dito que esperava divulgar os resultados cerca de três horas após o fechamento das urnas - o anúncio demorou mais de cinco horas para ser feito.
"Em vista desses resultados tão próximos, conversamos com os candidatos", disse Lucena, referindo-se a uma prática do CNE em outras eleições.
"Esses são os resultados irreversíveis que o povo da Venezuela decidiu com este processo eleitoral."
Por volta das 20h30 (horário local), um comentário de Capriles no microblog Twitter deixou intrigados os jornalistas, ao sugerir irregularidades.
"Alertamos o país e o mundo a intenção de querer mudar a vontade expressada pelo povo", afirmou Capriles. Entretanto, o opositor não deu detalhes sobre a suposta ameaça.
O governo argumentou que seu sistema eleitoral, eletrônico, gera rechecagens automáticas em uma grande proporção de urnas, e que os dois partidos e cidadãos comuns têm mecanismos de monitorar a apuração nas seções.
"Queremos dizer aos candidatos, às organizações políticas, aos comandos: agora é o momento de ir para suas casas, e transmitir aos seus seguidores e seguidoras a tranquilidade que o povo merece", disse a presidente do CNE.
"Que vão para suas casas tranquilamente, pacificamente e como sempre, com a solidariedade que nos caracteriza como venezuelanos e venezuelanas."
Incógnita
Passadas as polêmicas em relação ao ato eleitoral em si, observadores e analistas acompanharão com interesse o governo de Maduro, que começará no próximo dia 19.
Durante os dez dias de campanha, ele não se afastou da linha conservadora de repetir que executará exatamente o que Chávez planejou para a Venezuela para o período 2013-2019.
Chegou mesmo a brincar, afirmando que fala com o mentor bolivariano através de um passarinho.
Maduro é aliado de Chávez desde 1992, ano em que o então tenente-coronel do Exército liderou um fracassado golpe contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.
Ele e a sua esposa, a ex-presidente da Assembleia venezuelana e procuradora-geral do país, Cília Flores, atuavam pela libertação de Chávez, que ficou preso até 1994 após a quartelada.
Neste domingo, ele disse que ficou até as 4h da manhã conversando com Flores sobre "as voltas que a vida dá".
"Cilia e eu, uma mulher e um homem, que unimos nossos destinos e nossas famílias, nunca pensamos estar hoje aqui", disse Maduro.
"Fiz minha vida nos últimos 21 anos ao redor do sonho de um homem, de um gigante, e hoje, quando amanheceu, amanheci com seu pensamento, canto e obra", afirmou.
"Jamais pensei que estaria aqui, mas estou, batalhando com um povo em democracia."
À sombra de Chávez
O representante do chavismo também deu os primeiros sinais do que pode ser o "estilo Maduro". Respondendo à pergunta de uma jornalista sobre se iria iniciar um diálogo de unificação nacional, afirmou que, se vencer, não pretende fazer "pacto com a burguesia" e nem com as "elites".
"A palavra diálogo vinculada ao velho conceito da democracia representativa, esse é o pacto das elites. O pacto com a burguesia se acabou", disse Maduro.
"Aqui não haverá pacto com a burguesia, haverá diálogo com a classe operária, com os empresários patriotas, com os estudantes secundaristas, universidades, professores, diálogos bolivarianos com todos", prosseguiu.
"Na Venezuela há uma revolução e esta criou novos valores da democracia. Um deles foi acabar com o pacto das elites e o coleguismo."
Essa foi, em geral, a linha radical de Chávez, que se elegeu após o colapso de um regime de dois partidos que se alternavam no poder.
Mas há observadores da política venezuelana que acreditam existir uma chance de que, no poder, Maduro seja mais aberto e flexível que Chávez.
Eles lembram seu passado de chanceler e seu caráter de civil, em contraste com o militarismo de seu mentor.
No início de dezembro, quando Chávez anunciou a indicação de Maduro como seu sucessor, em uma transmissão emotiva nas TVs venezuelanas, definiu-o como "um dos líderes jovens de maior capacidade para continuar (a governar na sua ausência)".
Entre as qualidades de Maduro que o ex-presidente destacou estavam "sua mão firme, seu olhar, seu coração de homem do povo".
"Minha opinião firme, plena como a lua cheia, irrevogável absoluta, total, é que nesse cenário que obrigaria a convocação de eleições presidenciais vocês o elejam como presidente", recomendou na ocasião.
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Chavismo vence eleição apertada e tensa na Venezuela - Instituto Humanitas Unisinos - IHU