16 Dezembro 2014
Desmantelar uma visão comum e superficial da oração, reduzida a um hábito ou a uma forma de hipocrisia religiosa, para voltar ao seu fundamento essencial, enraizado nas fontes bíblicas, mas também na contemporaneidade, de fogo que anima a vida do profeta/místico.
A reportagem é de Ludovica Eugenio, publicada na revista Adista Notizie, n. 45, 20-12-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Essa foi a intenção que, há 40 anos, moveu o teólogo estadunidense Matthew Fox – ex-frei dominicano, inspirador da "espiritualidade da criação" – a escrever o livro On Becoming a Musical, Mystical Bear, depois republicado com o título Prayer: a Radical Response to Life.
Hoje, esse livro chega à Itália, revisto e atualizado pelo autor, pela Gabrielli Editori, para inaugurar uma nova coleção intitulada "Esh" (termo hebraico para o fogo na Palavra), concebida justamente com o objetivo de reler de modo radical as grandes palavras do cristianismo.
O texto de Fox, Preghiera. Una risposta radicale all’esistenza [Oração. Uma resposta radical à existência] (111 páginas), é apresentado e traduzido pelo seu histórico intérprete italiano, o teólogo anglicano Gianluigi Gugliermetto, que explica que a intervenção de Fox na atual versão consiste, principalmente, na referência explícita à creation spirituality e às quatro vias que a estruturam.
O teólogo estadunidense – autor de inúmeros e muito conhecidos livros, de In principio era la gioia ao mais recente Compassione – começou a sua investigação sobre o núcleo central da oração definindo-a negativamente: com base no ensinamento de Jesus, pode-se afirmar que o seu fator constitutivo não é dizer orações, não é autoconsolação, não é fuga mundi, encurvamento solipsístico, encontro privado com Deus, mas tensão dialética com a cultura ocidental, que é matéria da oração.
As revoluções da consciência humana, afirma Fox, da revolução copernicana até a tecnológica mais recente, passando pela francesa, a industrial, a einsteiniana "constituem a matriz, o próprio campo e o material da oração que ocorre como uma luta contra os poderes e os principados espirituais da própria época e da própria cultura (onde 'espiritual' significa profundo, vivo e real)".
A oração, portanto, não é aquiescência a um contexto sociocultural: Jesus mesmo, embora respeitando a piedade religiosa dos seus antepassados, assumiu também atitudes muito críticas, por exemplo contra os fariseus. Também não é um modo de mudar Deus, fazendo-lhe um pedido: "Não é mágica, não é uma permuta nem um comércio. É uma presença amorosa à qual se responde com maturidade", explica Fox. Não se trata de um "falar com Deus", em suma, mas de transformar a vida em uma oração contínua.
A liturgia também não é suficiente para compreender plenamente a oração cristã, que não é, portanto, "um meio, mas um valor em si mesmo". E aqui Fox chega a uma definição positiva: ela é "uma resposta radical à existência", entendida como o viver e o sobreviver a cada dia, com a sua carga de plenitude e de dificuldade.
"A matriz, a matéria, o material da oração é a própria vida", como demonstração do fato de que o espiritual não é imaterial, como é elaborado, em vez disso, pela civilização ocidental. A oração de Jesus é sempre provocada por situações reais de vida.
O termo "radicalidade" remete a um princípio intrínseco de crescimento, a algo de muito íntimo: "O que é radical é o que eu guardo como sagrado e realmente meu", um mistério que atravessa o ser humano e, como tal, é maior do que ele.
Como resposta radical, a oração, portanto, significa "responder com largueza de coração, com coragem, aos aspectos qualitativos da vida". "De um ponto de vista pessoal – diz o teólogo – a essência da oração, e até mesmo das experiências místicas, é uma modificação da própria visão, para que se chegue a ver todas as coisas na sua dimensão vital, para que se percebam os mistérios da vida como presentes dentro de si mesmos e em torno de si mesmos".
Um caminho de consciência, portanto, mas também de liberdade, de "deixar ir", de agradecimento e de gozo da vida (o significado autêntico do misticismo), em última análise, de transformação, de conversão.
Nessa perspectiva, a oração é profecia, já que cada adulto que é chamado à oração, à vida do espírito tem uma vocação profética: "A justiça é a primeira preocupação daqueles que amam a vida", e quem foge da própria vocação perde tudo.
Daí a conclusão de Fox: "A oração adulta – afirma ele no fim do livro – nada mais é do que a vida vivida no nível da mística e da profecia, em um percurso de aprofundamento cada vez maior", deixando para trás uma religião infantil e entrando em espírito de partilha com os outros: "Não apenas porque somos fracos demais para conseguir sozinhos, mas especialmente porque, juntos, nos divertimos muito mais".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''Uma resposta radical à existência.'' A oração segundo o teólogo Matthew Fox - Instituto Humanitas Unisinos - IHU