11 Dezembro 2014
"Sob tensão está em andamento neste momento a PEC 215, que pretende transferir para o Legislativo a demarcação das terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação. É uma covarde tentativa de impedir a demarcação das terras indígenas. Enquanto isso os ruralistas, o agronegócio continua sua ação violenta e truculenta de impedir os povos indígenas de retornarem a suas terras tradicionais. O relatório da Comissão Nacional da Verdade foi entregue à presidente Dilma. A questão indígena não pode ser analisada em
profundidade e por isso nas recomendações se pede que seja criada uma comissão específica para apurar os mais de 8 mil mortos indígenas neste período", escreve Egon Heck, do secretariando nacional do Cimi, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.
Eis o artigo.
Dezenas de camionetes chegam furiosamente até o tekohá Tey’juçu, no município de Caarapó-MS. Entre a forte poeira iniciam um intenso tiroteio sobre os Kaiowá Guarani, que há poucos dias haviam retornado a sua terra tradicional. Pavor e correria. Julia de Almeira, de 17 anos é atingida pelos tiros. Continua desaparecida. Os indígenas temem que tenha acontecido o mesmo que passou com os corpos de Nisio Gomes e Rolindo Vera, cujos corpos continuam desaparecidos.
No Mato Grosso do Sul o agronegócio já definiu suas estratégias na relação com os povos indígenas e seus territórios. A primeira atitude é a garantia legal através do pedido de interdito proibitório. Em caso de qualquer tentativa de indígena de retorno a seus territórios, em processo de retomada, ação de rechaço imediato, através de pistoleiros, capangas ou milícias particulares. Alegam que essa ação e mais eficaz, pois ações judiciais são muito demoradas. Agir de forma articulada com os fazendeiros e produtores rurais da região. Imediato pedido de reintegração de posse, caso a situação não seja resolvido pela ação imediata. É a política indigenista ruralista se materializando.
Plantando cruzes
Aos povos indígenas do Estado, onde menos terras indígenas proporcionalmente se demarcou até agora, só restou enfrenar a mais dura situação de guerra permanente, buscando seus direitos com suas próprias pernas e mãos, retornando aos territórios tradicionais, enfrentando inimigos fortemente armados, mesmo que derramando sangue e plantando cruzes de resistência e esperança.
O que qualquer cidadão do país e do planeta terra se perguntam são as razões de tanta brutalidade, barbárie e violência, diante de inúmeros prazos legais descumpridos, em galopante impunidade e ineficácia do governo, que tem por obrigação constitucional demarcar os territórios indígenas e proteger os direitos e a vida desses povos.
Como matam
Colocando veneno em nossas mesas, na terra, nas águas e no ar,
Avançando ferozmente sobre as poucas florestas que restam,
Com a lei, apesar da lei ou contra a lei fazem suas potentes máquinas avançarem,
Com a disponibilização de enormes verbas federais
Com violência contra as resistências, das populações tradicionais, indígenas, sem terra,
Através das armas na contratação de pistoleiros, milícias particulares
Certeza da impunidade,
Com apoio de políticos e poder econômico regional,
Como resistem os povos indígenas
Com a sabedoria e paciência histórica,
Com profunda espiritualidade e rituais (Jeroki Guasu...)
Com a valorização dos lideres religiosos – nhanderu (para os Guarani Kaiowá)
Com fortalecimento da união e apoio mútuo,
Definição de suas estratégias nas grandes Assembleias, Aty Guasu
Denunciando as violências e negação dos direitos em nível regional, nacional e internacional
Construindo alianças com outros povos indígenas e setores da sociedade
Cobrando do Estado brasileiro o cumprimento da Constituição
Retornando a seus territórios tradicionais,
Exigindo políticas públicas coerentes e eficazes.
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O agronegócio mata - Instituto Humanitas Unisinos - IHU