09 Dezembro 2014
A abertura de um inquérito não é prova de culpa. Para Angelo Caloia, investigado pela Procuradoria vaticana, talvez seja a oportunidade para se defender, dando a conhecer à opinião pública mais ampla o trabalho de limpeza realizado no IOR.
A reportagem é de Marco Garzonio, publicada no jornal Corriere della Sera, 07-12-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Sim, porque "o professor", como é chamado não só pelos títulos acadêmicos acumulados em uma vida de ensino na Universidade Católica de Milão, mas também pelo trato reservado, sóbrio, esquivo de eminência laica, sempre conseguiu se manter longe dos holofotes: inclusive quando, em 1989, foi chamado por Wojtyla "para salvar o IOR", abalado pelos escândalos e pelas operações de Calvi, Sindona e Marcinkus, e também 20 anos depois.
Em 2009, de fato, para a surpresa geral, o cardeal Bertone o removeu do cargo com um telefonema, à noite, em casa. Um ato fora das regras do bom tom curial: o então secretário de Estado só poderia comunicar a Caloia a intenção de substituí-lo por Gotti Tedeschi apenas um ano depois do prazo natural do mandato, no dia seguinte, pessoalmente, em Roma.
Tinham sido ao menos quatro os fatores para convencer Agostino Casaroli, o cardeal da Ostpolitk, a se voltar para Caloia: as origens modestas e sólidas típicas de Milão (o pai artesão o levou como ajuda para montar as persianas da Torre Velasca); os estudos na Católica e a especialização na Pensilvânia; a esposa inglesa; a experiência administrativa (foi prefeito em Castano Primo e depois secretário regional da Democracria Cristã).
Mas talvez o input decisivo veio de uma iniciativa de 1984: Caloia instituiu em Milão o Grupo Cultura, Ética, Finanças, que se reunia no Mediocredito Lombardo, que ele presidia. Aparentemente informal, o grupo começou a reunir universitários, empresários, expoentes eclesiásticos de valor, começando por Attilio Nicora (bispo que, naquele mesmo ano, assinou as modificações na Concordata com a Santa Sé, com Margiotta Broglio pelo Estado), então braço direito de Martini, que depois chegou ao Vaticano em 2002 e, em 2002, foi feito presidente da APSA, a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica.
Segundo alguns, o grupo deveria lançar Caloia à presidência da Cariplo [fundação bancária de atividade filantrópica]. O caminho, porém, foi barrado por verdadeiras rixas. Mas foi uma sorte para Caloia. Sempre sem aparecer, ele se tornou um catalisador das chamadas "finanças brancas", banqueiros de matriz católica opostos às finanças laicas dos Mattioli e dos Cuccia.
Ao mesmo tempo, porém, ele pôde se candidatar para representar o componente ideal, "de serviço", em relação aos outros protagonistas do crédito de matriz católica, como Geronzi e Fazio, que, de acordo com as suas críticas, haviam chegado ao topo de institutos antes laicos, perdendo pelo caminho a "identidade cristã".
O fato de que o IOR teria representado o banco de testes foi logo entendido por Caloia. Há pouco tempo ele estava no comando, com os novos estatutos que deveriam garantir fins institucionais e transparência, e o IOR acabou na mira da operação Mani Pulite, por causa do megassuborno Enimont.
Já no portão, esperavam-no os seus inimigos internos no Vaticano, de poderosos vínculos com a comitiva de Andreotti e Cossiga. Mas Caloia a neutralizou. E, conquistada a confiança de Wojtyla, a cada cinco anos, ele teve a renovação da presidência.
Agora, a investigação parece um castigo, dadas as sombras que, nos anos passados, se alongaram sobre a gestão de contratos e negócios da Santa Sé, que também colocaram Bertone em uma má luz.
Mas, agora, Caloia é presidente da Veneranda Fabbrica del Duomo (Nota da IHU On-Line: ele renunciou ao cargo no dia de ontem). E Nossa Senhora vigia sobre os seus filhos, nos bons e nos maus momentos.
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Angelo Caloia, o presidente desejado por Wojtyla no lugar de Marcinkus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU