Por: Jonas | 04 Dezembro 2014
A esta altura da história, quem não sabe quem é Edward Snowden? Sua denúncia sobre os sistemas de espionagem massiva e indiscriminada, utilizados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) contra governos, corporações e até seus próprios cidadãos, já passou para a história como o maior vazamento, jamais publicado, feito por um trabalhador dos serviços de inteligência. E se temos que agradecer a alguém por isso – além de ao jovem informático – é a Laura Poitras (foto), documentarista estadunidense estabelecida em Berlim, a quem Citizenfour escolheu para tornar pública sua história, “sem se importar com o que ocorreria com ele”. Ela, também arriscando sua vida, aceitou a proposta.
Fonte: http://goo.gl/J6WdS5 |
Durante mais de cinco meses mantiveram comunicações criptografadas, até que em junho de 2013 decidiram se reunir em um quarto de hotel, em Hong Kong, junto aos jornalistas Glenn Greenwald e Ewen MacAskill. Ali, durante oito dias de máxima tensão, Poitras se colocou atrás da câmera disposta a registrar um documento quase tão revelador como os que estavam a ponto de se revelar: o backstage dos preparativos prévios à publicação da informação bombástica que, finalmente, levaria Snowden ao exílio em Moscou, onde vive temporalmente como exilado político.
Um ano e meio após essas primeiras publicações – então anônimas –, que tomaram conta dos meios de comunicação de todo o mundo, continuamos descobrindo novos dados a conta-gotas. Contudo, por mais que estejamos familiarizados com o caso Snowden, o documentário de Poitras resulta irremediavelmente surpreendente e uma oportunidade única de ser testemunhas desta trama que se desenvolve entre comunicações criptografadas, fontes anônimas, espionagem internacional, vazamentos jornalísticos e um relógio que corre contra o tempo para os protagonistas, antes que a agência de inteligência estadunidense pudesse chegar a lhes descobrir.
Em poucas ocasiões como nesta, a realidade supera tão claramente a ficção, sendo assim, longe de reconstruir ou recriar uma suposta realidade, Citizenfour é uma gravação direta de um pedaço da história do século XXI, que sem dúvida marcou um antes e um depois na credibilidade dos Estados Unidos como potência internacional, mas também na forma como os cidadãos se comportam como membros da sociedade em rede.
Desde sua estreia mundial, no mês de outubro, em Nova York, Poitras se encontra em um incessante giro de apresentações em festivais por toda a Europa – embora ainda continue sem ter data confirmada para sua chegada às salas de cinema espanholas –, entre as quais se inclui o festival internacional de documentários IDFA de Amsterdã, onde El Diario teve a oportunidade de entrevistá-la.
A entrevista é de Silvia Fonte, publicada por El Diario, 25-11-2014. A tradução é do Cepat.
Eis a entrevista.
Quando inicia o seu interesse pelo tema da vigilância?
Faz muito tempo, enquanto trabalhava em meus últimos documentários, centrados na América pós 11-S. A vigilância estava sendo utilizada na denominada “war on terror”, como é sabido. Justamente após o 11-S era preciso espiar praticamente todos os americanos nos Estados Unidos. Antes, eu havia feito um filme sobre a ocupação do Iraque [My Country, My Country] e outro sobre Guantánamo [The Oath], e com este último filme em que estava trabalhando [no outono de 2012, muda-se para Berlim para editar de forma segura o material do que seria a última parte de sua trilogia pós 11-S] queria trazer a história de volta para os Estados Unidos, pois estive mais centrada na forma como estava se desenvolvendo esta ‘guerra contra o terrorismo’ no país.
Porém, também havia um interesse pessoal, porque estou em uma lista de vigilância e durante muitos anos me pararam na fronteira todas as vezes que eu viajava. Começaram a me parar na fronteira em 2006, após rodar o filme no Iraque. De alguma forma, a história que eu estava documentando me colocou nessa lista.
Foi também essa a razão pela qual começou a usar criptografia?
Inicialmente, sim, pois precisava proteger o meu material quando cruzava a fronteira. Mas, em um determinado momento também comecei a entrar em contato com algumas pessoas que me interessavam para o projeto em que estava trabalhando e com as quais para me comunicar era preciso contar com a criptografia. Entre elas, Jacob Appelbaum, com quem queria falar sobre a gravação do trabalho que estava realizando com ativistas de todo o mundo, instruindo-lhes em táticas para superar sistemas de vigilância. Desse modo, tive que aprender!
Essa combinação entre os seus trabalhos prévios em vigilância doméstica e seus conhecimentos em comunicação criptografada foi decisiva para que Snowden decidisse que você seria a jornalista para quem revelaria seu segredo. Como foi esse primeiro contato, em janeiro de 2013?
Por sorte, eu já usava PGP. Escreveu-me e pediu que eu lhe enviasse minha ‘key’. Enviei e lhe perguntei quem era e o que queria. Disse-me que trabalhava para a agência de inteligência e que tinha certa informação. Avisou-me que seria perigoso, mas gostaria que lhe prometesse que, sem se importar com o que iria acontecer com ele, eu revelaria a informação.
O que você pensou ao receber esses primeiros contatos?
Há tempo trabalhava no tema da vigilância e sabia que caso fosse real o que me dizia, seria um assunto denso, e que ele tinha razão, que poderia ser muito perigoso para ele e para mim. Mas, não senti que houvesse uma parte de mim que dissesse ‘ficarei à margem disto’. Ao gastar muito tempo com este tema, ao estar em uma lista de vigilância e ter sido parada na fronteira tantas vezes, acredito que de alguma forma, há tempo, tomei a decisão de não me sentir intimada, de fazer meu trabalho e de que deveria era me preocupar com o que o Governo faz.
Acredito que o jornalismo é necessário, especialmente no contexto do que está ocorrendo, neste momento, nos Estados Unidos. Tenho a sensação de que muitos meios de comunicação majoritários falharam com o público, e por isso é tão necessário que haja jornalistas que façam perguntas incômodas e peçam contas ao Governo. Eu já havia assumido essa determinação, tanto que quando Snowden me contatou, eu estava nervosa, mas muito decidida.
Não duvidou em nenhum momento?
Em nada. Não tive dúvidas. É verdade, fui com muito cuidado e fiz muitas perguntas a ele, pois desconfiava que pudesse ser uma emboscada do Governo. Por outro lado, sou jornalista visual, sendo assim, tinha especial curiosidade em saber o motivo de se revelar comigo. Disse-me que sabia que eu trabalhava com o tema da vigilância em razão de uma publicação minha no jornal The New York Times.
Escolheu você mesma, da forma como aparece no filme, conforme um dos contatos feito por Snowden?
Sim, disse que escolheu a mim mesma! Porque publiquei essa história no NYT e falo em estar incluída em uma lista de vigilância, e porque havia lido que Glenn [Greenwald] escreveu sobre o assunto... Todos esses fatores fizeram com que pensasse que eu estaria interessada e que não me deixaria intimidar.
Nesse momento, você estava consciente de que a história alcançaria tal dimensão? Você precisou enfrentar isso sozinha ou pôde dividir com alguém?
Nem imaginava isso! Estávamos falando de agências de inteligência, não se filtram coisas dessas agências. Antes, já existiram outros "whistleblowers", conhecidos como “os quatro da NSA” [que inclui William Binney, Thomas Drake, J. Kirk Wiebe e Edward Loomi], que haviam conversado com repórteres, mas, diferente de Snowden, eles não possuíam documentos.
Houve certo avanço ao longo dos cinco meses de contatos, até que em um determinado momento se tornou evidente que se tornaria realidade. Então, avisei aos que me cercam e com quem trabalho a respeito do que estava acontecendo, de que provavelmente seria uma investigação massiva e que todos os que tinham contato comigo ficariam envolvidos. Conversei com a minha editora Mathilde Bonnefoy, com o produtor Dirk Wilutzky, minha coprodutora Katy Scoggin... E foi incrível porque ninguém recuou, caso contrário, tudo poderia ter sido diferente.
E, depois, Glenn Greenwald soube no andamento.
Sim, Glenn foi genial, muito corajoso e sem nenhum tipo de dúvidas. Em fevereiro de 2013, Snowden me disse que a informação requereria que mais de uma pessoa trabalhasse em sua publicação e recomendou que contasse com Glenn. Porém, naquele momento, ele estava no Rio de Janeiro e eu não podia falar com ninguém sobre isto por email, só faria isso pessoalmente. Assim, no mês de abril, quando estávamos os dois em Nova York, é que pude lhe explicar o que estava acontecendo e lhe propus trabalhar nisso. Disse sim de imediato, sem hesitar.
Desse modo, ele voltou ao Rio, mas não sabia como utilizar a criptografia e isso foi um grande problema, pois cada vez ficava mais claro que iria ocorrer um encontro [com Snowden], mas eu não podia lhe oferecer nenhum detalhe. Eu não sabia exatamente quando aconteceria, mas em meados do mês de maio retornei aos Estados Unidos à espera de saber onde seria. Durante todo esse tempo, eu dizia a Glenn que tínhamos que conversar, que precisa lhe contar o que estava acontecendo, mas não queria dizer muito, pois temia que as mensagens pudessem ser interceptadas. Finalmente, entrou em contato direto com Snowden por meio do chat criptografado.
Em seu livro, Greenwald revela que foi com ele que Snowden tentou entrar em contato, em um primeiro momento, mas não foi possível em razão do seu desconhecimento da comunicação criptografada. E que mais tarde foi o próprio ex-agente de inteligência quem o instruiu no uso de programas de comunicação criptografada.
Sim, Glenn não sabia o suficiente para poder se comunicar com segurança e eu também não tinha experiência para poder ajudá-lo, como também não queria responsabilizá-lo, pois sabia que o risco era muito grande. Diante disso, Snowden tomou as rédeas e disse a ele como proceder. Tornou-se seu professor!
Por fim, chega o momento em que Greenwald, o jornalista do jornal The Guardian, Ewen MacAskill e você se reúnem no Hotel Mira, de Hong Kong, com Snowden.
Nós não sabíamos onde seria a reunião até Snowden sair do país, por razões óbvias não queria revelar antes. Então, disse-nos que seria em Hong Kong. Nesse momento, já havia certo perigo, de fato, no último momento, The Washington Post decidiu não enviar seu correspondente. No momento atual, nos Estados Unidos, foi implantada certa cultura do medo, na qual os jornalistas se tornam alvo, e suponho que pensaram que era arriscado. Também me aconselharam para que eu não fosse... No entanto, não segui o conselho e fui.
E graças a isso o mundo tem acesso a um documento cinematográfico único, por meio do qual se revela como se tornou público o maior vazamento de informação confidencial da história da NSA, a partir de um quarto de hotel na outra ponta do mundo. Como foi esse primeiro momento, em que se encontraram pessoalmente?
Glenn e eu ficamos muito perplexos com o quanto era jovem. Acredito que fiquei mais em choque porque falei com ele durante cinco meses. E tem apenas 29 anos. Fomos ao quarto do hotel, em seguida, preparei a câmara e comecei a gravar. Os demais ficaram um pouco surpresos, mas eu tinha clareza que desejava gravar tudo, sabia que Glenn não iria perder tempo e, imediatamente, começaria a fazer perguntas. Não queria perder nada!
Como surgiu a ideia de filmar essa reunião? E como Snowden lidou com isso, uma vez que se tornaria o homem mais procurado pelos serviços de inteligência de meio mundo?
Precisei convencê-lo, mas isso foi antes de viajar para Hong Kong. Em um primeiro momento, foi ele quem tomou a decisão de revelar sua identidade, ainda que imagino que não pensasse que fosse necessário que nos conhecêssemos, que poderia simplesmente nos dar os documentos, sem nos reunirmos. Porém, quando me disse isso, disse-lhe que tínhamos que nos reunir e que eu precisava gravá-lo. E ele se negou, não era favorável porque pensava que poderia se voltar contra ele. Eu lhe disse que os meios de comunicação fariam isso de qualquer forma e que nessa situação não tinha muitas alternativas.
E por que decidiu mostrar o rosto ao invés de tentar permanecer na sombra o máximo de tempo possível?
Acredito que tomou a decisão porque sabia que acarretaria uma investigação massiva ao seu redor, e ainda que pudesse permanecer no anonimato, tinha a sensação de que a vida de outras pessoas seria afetada. Queria assumir a responsabilidade.
No documentário, sempre vemos um Snowden muito seguro do que está fazendo, até ao ponto de ser surpreendente sua tranquilidade. Mesmo que o filme transmita ao espectador uma tensão constante, do início ao fim, parece que, de certo modo, reinou a calma nesse quarto de hotel.
Bom, eu não estava nada tranquila! Estava muito nervosa e preparada, pensando que nos pegariam a qualquer momento. Porém, você tem razão que há certo ambiente de calma, que se vai tornando mais tenso à medida que a semana avança e começamos a publicar. Mas, sim, é surpreendente, especialmente por Snowden, o quanto está tranquilo diante de tudo o que está arriscando.
Por que Snowden assumiu esse risco e decidiu denunciar as práticas da NSA, sabendo o que havia acontecido com outros ex-agentes de inteligência convertidos em whistleblowers, como Chelsea Manning?
Ele afirmou de forma muito clara no filme: os governos estão fazendo coisas em segredo que o público deve saber. Vivemos em uma democracia e as democracias não acontecem de porta fechada, mas, aqui, estão tomando decisões sem o conhecimento da população.
Estes programas [de espionagem e interceptação de comunicações] são muito significativos e tem um grande impacto nas pessoas; e muitos deles estavam violando leis fundamentais da Constituição. Acredito que todas essas razões foram sua motivação para compartilhar essa informação com o público.
Em outro momento da gravação, Snowden comenta que não quer ser retratado para que isso não distraia a atenção da notícia em si, como muitos meios de comunicação fazem hoje em dia. Você acredita que aconteceu isso? Fala-se mais dele do que sobre aquilo que revelou?
Acredito que ele, verdadeiramente, tenta ficar à margem de tudo o que consegue. Após Hong Kong, não falou com nenhum meio de comunicação, mas é correto que, de certo modo, tornou-se um símbolo. Sei que não era sua meta, mas acredito que quando faz algumas declarações, age assim porque sente que possui certa autoridade neste assunto e que pode ajudar as pessoas a entender a razão de sua importância.
No dia 9 de junho de 2013, todos os meios de comunicação falam sobre o vídeo no YouTube em que Snowden revela sua identidade e assume toda a responsabilidade no vazamento dos documentos que acabam de vir à luz. Como consegue sair de Hong Kong, e por que o Wikileaks entra em cena?
De imediato, Snowden se reservou. Eu não sabia quais eram seus planos, nem porque escolheu Hong Kong, o que sei é que Sarah Harrison é quem auxiliou no asilo político em múltiplos países. Quando os Estados Unidos emitiu a ordem de extradição contra ele, suponho que perceberam que não era seguro ficar ali.
Wikileaks tinha experiência em questões de asilo, pois haviam passado por isso com Julian [Assange], desse modo, souberam imediatamente que Hong Kong não era um lugar seguro. Não porque talvez fossem extraditá-lo imediatamente, mas poderiam detê-lo, precisamente a situação que queria evitar.
Em sua opinião, por que a Rússia é praticamente o único país no mundo que concedeu asilo político a Snowden?
O que aconteceu é que enquanto estavam fazendo escala em Moscou, seu passaporte foi apreendido. Não é que realmente tivesse planejado ficar ali. Solicitaram asilo em muitos outros países, mas...
Sim, mas a Rússia não é precisamente um país que se caracterize pela transparência e o respeito à liberdade de imprensa. Você acredita que eles têm Snowden como um ativo contra os Estados Unidos?
O que tenho certeza é que ele não está cooperando ou trabalhando para nenhuma outra agência de inteligência. Sei disso e qualquer um que o conheça também sabe. É simplesmente uma história criada pelo Governo e que realmente não faz nenhum sentido. Se alguém fosse querer trabalhar com outro Governo, por qual razão se reuniria com Glenn e comigo para nos oferecer documentos. É completamente ilógico. Desse modo, não o descreveria assim.
Como você se encontra com Snowden na Rússia?
Normalmente, reunimo-nos em lugares, digamos, neutros. Porém, na verdade, não posso dizer o que sei.
Quando foram gravar essa última cena, em que ele aparece com sua noiva Lindsey, tiveram oportunidade de lhe mostrar o filme. Qual foi sua reação?
Em setembro, minha editora Mathilde Bonnefoy e eu viajamos a Moscou e fizemos uma projeção para ele. Não parava de tomar notas todas as vezes que aparecia alguma imagem na tela do computador. Ele sabia que as agências de inteligência revisariam o filme. Tivemos uma conversa sobre como editaríamos certas partes em que, é claro, não queríamos colocar toda a informação. No mais, tive total controle na edição e Snowden não colocou nenhuma condição.
Uma das questões que mais impressionam sobre o documentário é pensar que tudo aconteceu sem que nenhuma dessas agências de inteligência pudesse descobrir. Foram sempre um passo adiante. Como conseguiram permanecer fora do radar? Foi um plano desenhado pelo próprio Snowden?
Com criptografia. A criptografia funciona! Obviamente, ele estava bem estreando nisto e apenas ia me oferecendo a informação necessária para que eu fosse dando o passo seguinte. A cada momento, eu ia conhecendo um passo. Por exemplo, não me contou que estava planejando buscar asilo político para deixar o país. Ele me disse que iria deixar o país quando nós já havíamos partido.
Não acredito que tivesse exatamente um plano, mas, sim, era o que a gente precisava conhecer. Não é que as publicações estivessem orquestradas de alguma maneira... Eu estava em contato com Glenn, mas não é que nos coordenássemos.
No último mês de abril, junto com Glenn Greenwald e Barton Gellman, você recebeu o prêmio Pulitzer ao Serviço Público, em reconhecimento ao seu trabalho na publicação dos documentos da NSA. Por outro lado, desde a estreia de Citizenfour, há um mês, não são poucos os que pedem o Oscar para o filme. Qual destes prêmios você acredita que melhor reconhece o seu trabalho?
Sinceramente, acredito que quando as pessoas arriscam suas vidas não se trata de prêmios ou coisas do estilo. Trata-se de honrar o risco que estas pessoas assumiram, isso é o que importa. Se o trabalho é reconhecido, genial, porque significa que mais gente irá vê-lo. Não poderia escolher um ou outro. Acredito que o Pulitzer foi uma validação de meus colegas de profissão e o Oscar tornaria o meu trabalho mais fácil. Já comentei que durante muitos anos me pararam na fronteira, mas agora é mais difícil que façam isso, pois o trabalho que faço está sendo reconhecido como um serviço público. Desse modo, de alguma maneira tem um impacto positivo, pois me permite seguir fazendo o que faço.
Quando você gravou o primeiro documentário da trilogia no Iraque, My Country, My Country, disse que a experiência havia mudado sua vida. Como foi afetada por Citizenfour?
Definitivamente marcou um antes e um depois. Em parte, sei que provavelmente nunca poderei voltar a trabalhar em um projeto ou visitar um país sem ser observada ou notada. Não sei se controlam tudo o que faço, mas o que sei é que estarei sob o radar das agências de inteligência do mundo todo.
Recentemente, faleceu Benjamin Bradlee, diretor do jornal The Washington Post e encarregado de escancarar outro grande escândalo histórico da Casa Branca, o Watergate, e o presidente Obama aproveitou para lhe render homenagem e destacar seu grande trabalho jornalístico ao contar “histórias que precisavam ser contadas”. No entanto, jornalistas como Greenwald ou você são perseguidos, vigiados e criticados publicamente.
Ben Bradlee também foi objetivo da Administração de Nixon, quando revelou os Papéis do Pentágono também não tiveram palavras amáveis para ele. Isso sempre acontece quando alguém expõe informação que os governos querem manter em sigilo.
Acredito que o que vimos com Obama é que, neste caso, não sente que seu poder esteja ameaçado, pois é algo que faz parte da história, mas o que Glenn e eu publicamos agora, com Snowden, questiona diretamente sua liderança. É um contexto diferente.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
“Sei que estarei sob o radar das agências de inteligência do mundo todo”. Entrevista com Laura Poitras - Instituto Humanitas Unisinos - IHU