07 Novembro 2014
Domingo é dia de celebrarmos o Cristo, Aquele que vive. Mas, hoje, a liturgia nos convida a celebrar uma basílica, a Basílica de São João de Latrão, que é a catedral de Roma. Com efeito, através de um edifício, o que celebramos hoje é a própria Igreja que é o Corpo do Cristo e o Templo do Espírito.
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do Domingo 14º do Tempo Comum, Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.
Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Ezequiel 47,1-2.8-9.12
2ª leitura: 1 Coríntios 3,9-11.16-17
Evangelho: João 2,13-22
Os lugares da Presença divina
Quem de nós sabe que a Basílica de Latrão foi o primeiro edifício cristão construído em Roma? Sendo, portanto, a "mãe" de todas as nossas igrejas? Através desta dedicação (consagração), celebramos as nossas inumeráveis construções religiosas, ou seja, este importante elemento de visibilidade e da presença social das nossas comunidades. Não somos uma sociedade secreta. De qualquer modo, ninguém vive sem produzir e consumir sinais. Desde sempre, os homens tiveram necessidade de considerar certos lugares como sagrados, privilegiados pela presença divina. Daí as pedras erguidas em menires, os altares primitivos etc. Muitas vezes, estes "monumentos" estão ligados a sepulturas. Até recentemente ainda, os altares das nossas igrejas continham uma pedra que trazia encaixadas nela relíquias de mártires. O "lugar santo" guarda relação com a memória, mesmo não sendo por causa dos defuntos. Foi assim que Jacó, ao sair do sonho da escada que ligava o céu à terra, disse: "Iahweh está neste lugar e eu não o sabia!” (...). “Este lugar é terrível! Não é nada menos que uma casa de Deus e a porta do céu!" Tomou a pedra que lhe havia servido de travesseiro, ”ergueu-a como uma estela e derramou óleo sobre o seu topo” (Êxodo 28,10-19). O tema da "casa de Deus" ocupa um lugar considerável nas Escrituras. Como todas as realidades humanas assumidas pela Bíblia, o tema vai evoluir: as figuras se põem a caminho, rumo à sua verdade.
O lugar em que Deus reside
No início do Êxodo, temos a Aliança. Deus está com o povo em todos os lugares e em todas as circunstâncias. Mas esta presença difusa e permanente vai se materializar num objeto preciso, "a Arca da Aliança". Quando Israel se torna sedentário, a Arca, que havia sido feita para ser nômade, portátil, também ela se fixa. Residirá daí em diante numa casa sólida: o Templo. Aí o povo poderá se encontrar com Deus, receber as suas graças e lhe trazer as suas oferendas. Centro de Israel, o Templo - e Jerusalém que se faz uma só com ele - torna-se pouco a pouco o centro do mundo. É um lugar de pulsação, o polo de um movimento de convergência: todas as nações se voltarão para esta Residência (cf., por exemplo, Isaías 60 e Zacarias 14). E é um movimento também de divergência, como podemos constatar de nossa segunda leitura: todos os dons de Deus se distribuem pelo mundo a partir de Jerusalém e de seu coração; o Templo. Mas o que aconteceu, quando o templo foi destruído e o povo deportado? A Presença vai se encontrar então em todo lugar onde um israelita pratique a Lei: passa-se assim, de modo quase imperceptível, de uma casa de pedra para o coração dos homens. Se o coração não estiver aí, é inútil gritar "Este é o Templo de Iahweh, Templo de Iahweh, Templo de Iahweh!" (Jeremias 7,4). A presença divina não reside mais no exterior dos crentes, no Santo dos Santos inacessível, mas no mais íntimo de cada um, ali onde se tomam as decisões criadoras.
Um Templo com as dimensões do mundo
Onde lemos “Templo, casa de Deus, etc.”, é claro que podemos entender como “o Cristo”. Ele de fato herda o duplo movimento que acabamos de falar. Tudo provém dele; o sangue e a água que purificam tudo com que entram em contato e fazem multiplicar a vida nos mares mortos (ver a primeira leitura) significam isso. Como tudo parte dele, tudo volta para ele: vejamos o episódio dos Magos e, sobretudo, as fórmulas todas de São João ("atrairei todos a mim", etc.) e o tema paulino da recapitulação. Por isso podemos ler no evangelho que "estava falando do Templo do seu corpo". Templo que se fez desde a concepção de Jesus, como nos diz a fé, mas, mais ainda, quando este Templo, depois de destruído pelos homens, foi reconstruído de um novo modo por Deus. Só com a Ressurreição é que, de fato, a Encarnação se cumpre plenamente. Então, o Cristo tornou-se tudo em todos e o Templo de seu Corpo supera os seus limites materiais para se estender ao "corpo constituído" dos crentes, à Igreja e, através dela, à humanidade inteira. "Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome" (Mateus 18,20). Todos juntos (o Corpo de 1 Coríntios 12) e cada um em particular: "Se alguém me ama (...) a ele viremos e nele estabeleceremos morada" (João 14,23). Nossa segunda leitura faz parte deste dossiê, assim como 1 Pedro 2. Desta forma, a Presença de Deus não se encontra "nem em Jerusalém nem nesta montanha" (João 4,19...), mas em todo lugar humano. Por toda parte. E para significar este ‘por toda parte’, construímos igrejas das quais a Basílica de Latrão foi a primeira.
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Vós sois o Templo de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU