06 Novembro 2014
"No lugar de Brittany, eu teria feito mesma coisa. E estou convencido de que até o Vaticano, com o tempo, vai passar para a nossa posição." O reverendo Ignacio Castuera, pastor da Igreja Metodista Unida, é membro do conselho da Compassion and Choices, a organização promotora da "morte com dignidade", da qual Brittany Maynard se tornou porta-voz nos últimos meses da sua existência. Agora, esse grupo também fala em seu nome e da sua família, para dar continuidade à campanha em favor da eutanásia.
A reportagem é de Paolo Mastrolilli, publicada no jornal La Stampa, 05-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Como o senhor avalia o posicionamento do Vaticano contra o ato realizado por Brittany?
Gostaria de começar esclarecendo que eu sou cristão, acredito em Deus, tenho profundo respeito pela Igreja Católica e grande admiração pelo papa argentino Francisco que a está mudando. Mas eu me remeto às palavras de Jesus, que uma vez perguntou: se o seu filho tem fome, quem de vocês lhe daria pedras em vez de pão? Eu acredito que Deus é amor e não acho que ele possa querer o mal dos seres humanos, criados à Sua imagem e semelhança.
O Vaticano diz que não critica a pessoa, mas o ato.
Certamente, é a lógica segundo a qual é preciso amar o pecador e odiar o pecado. Mas essa ideia não funciona mais. Não funcionou com o aborto e não vai funcionar com a morte com dignidade.
O senhor não acredita que Deus deu a vida e só Ele pode tirá-la?
Eu lembro as palavras de Jesus a Pedro: quo vadis? Às vezes, os cristãos não devem fugir do destino da crucificação.
Mas Pedro foi morto pelos romanos, não pela sua própria mão, deixando em aberto a possibilidade de que Deus interviesse para salvá-lo.
Este é o dilema central do cristianismo: Deus é onipotente ou é amor absoluto? Ele não pode ser ambas as coisas, e a ideia de um Deus onipotente que intervém para parar o mal não é mais atual na história. Eu acredito no Deus amoroso, que não pode querer empurrar um filho seu para uma morte horrível como a que esperava por Brittany.
Pense no cardeal Bernardin, que foi ao encontro da morte por câncer, inspirando milhares de fiéis. O senhor não acredita no desígnio de Deus, ao qual é preciso deixar que complete o seu curso?
Bravo Bernardin, mas isso só pode valer para os fiéis.
E o senhor, como fiel, interromperia a sua vida?
Até mesmo o teólogo católico Hans Küng disse que o fará, e eu acho que a Igreja, no fim, vai passar para essa posição.
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''Deus não quer o mal das pessoas'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU